Juiz argentino sob pressão kirchnerista renuncia

Magistrado de 97 anos deixará Corte Suprema em 11 de dezembro, um dia depois de Cristina sair da presidência

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Cavalheiro, CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES

O juiz argentino Carlos Fayt enviou ontem uma carta à presidente Cristina Kirchner na qual comunica que deixará seu posto na Corte Suprema, como o governo queria, mas só em 11 de dezembro, um dia depois de ela passar o poder a seu sucessor.

Aos 97 anos, Fayt sofria pressão kirchnerista para abandonar o tribunal, que tem cinco integrantes, mas vem funcionando com quatro desde a renúncia de um deles em dezembro.

Carlos Fayt, o integrante mais velho da Suprema Corte, deixa o cargo só depois que Cristina deixar presidência Foto: Aníbal Greco/AP

PUBLICIDADE

  A corte pode funcionar com três componentes, mas em decisões sem unanimidade um juiz de um tribunal inferior deverá ser chamado.O governo contestava as condições de saúde e a produtividade de Fayt, na função desde 21 de dezembro de 1983.

Em maio, a comissão de juízo político da Câmara dos Deputados, dominada pelo kirchnerismo, aprovou um pedido para que ele passasse por um exame mental e chamou testemunhas que descrevessem seu ritmo de trabalho. O pedido não foi adiante.   O presidente da Associação de Magistrados, Ricardo Recondo, denunciou “discriminação por idade” e sustentou que para afastar Fayt seria necessário um julgamento com duas passagens pela Câmara e uma pelo Senado. A aposentadoria aos 75 anos não é obrigatória.

A ação contra Fayt é um exemplo da tensão permanente entre os dois poderes no último ano de governo de Cristina. Por meio do Conselho da Magistratura, formado por políticos governistas, o kirchnerismo substituiu em julho a Claudio Bonadio, juiz encarregado da causa Hotesur, que apura lavagem de dinheiro no hotel da família da presidente.

Outro caso de enfrentamento envolve a morte do promotor Alberto Nisman, encontrado com um tiro na cabeça em janeiro quatro dias após acusar a presidente de encobrir autores de um atentado. Juízes e promotores que participaram da marcha em sua homenagem em fevereiro foram tratados como opositores.

Com a saída de Fayt, um dos primeiros desafios do novo presidente, eleito em 25 de outubro ou em 22 de novembro, caso haja segundo turno, será recompor a corte. A tarefa deve representar também uma das primeiras disputas, uma vez que provavelmente nenhuma força política terá dois terços do Senado para impor os dois nomes que faltarão.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.