Juiz diz que explicações do governo Trump sobre deportação de venezuelanos são ‘insuficientes’

James Boasberg bloqueou expulsões de imigrantes com base na Lei de Inimigos Estrangeiros. Horas depois, os voos pousaram em El Salvador. Agora, ele cobra respostas da Casa Branca

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

WASHINGTON - O juiz James Boasberg, de Washington, disse que as explicações do governo Donald Trump sobre o envio de venezuelanos para El Salvador são “lamentavelmente insuficientes”. Em tom irritado, ele se aproximou de declarar desacato à ordem que suspendia as deportações com base em lei para tempos de guerras.

PUBLICIDADE

Boasberg exigiu que o governo explicasse até a terça-feira porque enviou imigrantes para El Salvador mesmo depois que ele suspendeu as deportações. E criticou o Departamento de Justiça por dificultar os esforços para obter informações sobre os horários dos voos. “O governo novamente fugiu de suas obrigações”, escreveu, acrescentando que as respostas foram insuficientes.

O juiz tenta há quase uma semana fazer com que o governo informe — sob sigilo, se necessário — a que horas os aviões com imigrantes partiram dos Estados Unidos, deixaram o espaço aéreo americano e pousaram. Inicialmente, o prazo se encerraria na quarta-feira, mas foi estendido por mais um dia a pedido do Departamento de Justiça.

Juiz James Boasberg, de Washington, cobra explicações do governo Trump sobre deportções com base em lei de guerra.  Foto: Carolyn Van Houten/The Washington Post via Associated Press

Os documentos que o governo enviou sob sigilo nesta quinta-feira, disse Boasberg na decisão, repetiam as mesmas informações gerais que haviam sido apresentadas anteriormente.

Publicidade

O governo tem resistido à solicitação do juiz para fornecer mais detalhes sobre os voos e classificou os questionamentos de Boasberg como “graves intromissões em aspectos fundamentais da autoridade absoluta e irrevogável do Poder Executivo”.

Um porta-voz do Departamento de Justiça disse que “continua a acreditar que o questionamento supérfluo do tribunal sobre informações confidenciais de segurança nacional é um exagero judicial inadequado”.

O juiz de Washington suspendeu no sábado as deportações com base na Lei de Inimigos Estrangeiros e ordenou o retorno de voos que tivessem partido. Horas depois, 238 imigrantes chegaram a El Salvador, mais da metade com base na legislação do século 18.

A Lei dos Inimigos Estrangeiros permite deportações sumárias das pessoas de países em conflito com os Estados Unidos ou em casos de “invasão”. O dispositivo, mais conhecida por ter servido como base para prisão de nipo-americanos durante a 2ª Guerra, foi invocada três vezes na história americana — sempre no contexto de guerras.

Publicidade

O governo americano alega que os deportados seriam, em sua maioria, integrantes da gangue venezuelana Trem de Aragua, mas apresentou poucas evidências de como chegou a essa conclusão.

Ao comparar as imagens que o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, divulgou com a chegada dos deportados e registros do site de rastreamento de voos FlightRadar24, o Washington Post identificou que os aviões pousaram em solo salvadorenho depois que a Justiça ordenou o seu retorno.

O governo negou ter violado a ordem da Justiça e questionou a autoridade de James Boasberg para suspender as deportações. Donald Trump chegou a pedir o impeachment do juiz distrital, que chamou de “Lunático Radical de Esquerda”.

A ofensiva provocou uma rara reprimenda do presidente da Suprema Corte John Roberts. “Por mais de dois séculos, foi estabelecido que o impeachment não é uma resposta apropriada para discordâncias sobre uma decisão judicial”, declarou Roberts. “O processo normal de revisão de apelação existe para esse propósito.”/COM NY TIMES, AP E W. POST

Publicidade