NOVA YORK-A defesa da escritora e jornalista E. Jean Carroll acusou na terça-feira, 25, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump de tê-la estuprado nos anos 1990, no início de um julgamento em que os advogados do magnata a descreveram como uma fabulista ávida por dinheiro e fama.
Mais de 25 anos depois dos acontecimentos, nove jurados terão que optar por uma das duas versões opostas ao final do midiático julgamento de Trump, que aos 76 anos está em plena campanha para voltar à Casa Branca nas eleições de 2024.
A advogada de Carroll, Shawn Crowley, afirmou que Trump agrediu sexualmente a sua cliente em um provador da Bergdorf Goodman, uma luxuosa loja na 5ª Avenida em Manhattan, depois de se encontrarem na entrada do prédio.
Segundo Carroll, de 79 anos, o estupro aconteceu logo depois que Trump lhe pediu opinião para comprar uma lingerie de presente.
“No momento em que eles entraram (no vestiário) tudo mudou. De repente, deixou de ser divertido. Trump era quase duas vezes maior do que ela”, afirmou a advogada ao júri.
Segundo ela, a jornalista ficou em silêncio por 20 anos com medo de que um homem poderoso pudesse destruir sua reputação, mas na esteira do movimento #Metoo decidiu contar isso em um livro em 2019.
Durante as alegações iniciais, a advogada admitiu que a denunciante não se lembra exatamente da data, que ela situa na primavera de 1996, e que não houve testemunhas. Mas anunciou que duas amigas, a quem a jornalista contou na época o que aconteceu, irão corroborar a história.
Trump se declara inocente
Quando a escritora levou a história a público, o então presidente dos Estados Unidos respondeu que não a conhecia, que ela nem “era seu tipo”, e chamou tudo de “mentira total”.
Para o advogado do republicano, Joe Tacopina, trata-se de uma “afronta à justiça”. “Está abusando do sistema por dinheiro, razões políticas e status”, declarou.
Inicialmente, Carroll processou Trump por difamação em 2019, mas não pôde incluir a acusação de estupro porque já havia expirado o prazo para apresentá-la.
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Porém, em 24 de novembro de 2022, uma nova lei entrou em vigor em Nova York, a “Adult Survivors Act”, que permite, durante um ano, que vítimas de ataques sexuais apresentem ações na esfera civil.
Com base nesta lei, os advogados de Carroll apresentaram, então, uma nova ação na qual acusam Trump de “apalpá-la, tocá-la e estuprá-la”.
O político também é acusado de difamação por uma mensagem em sua rede social Truth Social, em outubro, na qual nega as acusações de estupro e se refere à Carroll como uma “vigarista completa”.
Dano psicológico
Caroll pede indenizações por perdas e danos devido a “dor e sofrimento significativos, danos psicológicos e financeiros duradouros, perda da dignidade e autoestima e invasão de intimidade”. Também pede que Trump se retrate de seus comentários.
Cerca de dez mulheres acusaram o ex-presidente de conduta sexual inapropriada. Ele sempre negou as acusações e nunca precisou responder por isso em um tribunal.
O caso Carroll não tramitará na esfera penal, mas se Trump perder será, pela primeira vez, considerado legalmente responsável de agressão sexual. Não se espera que o magnata, que depôs sob juramento no caso, vá ao julgamento.
Ex-presidente responde por 34 acusações na justiça
Trump é o primeiro presidente americano a ser acusado criminalmente - no início de abril-, por 34 crimes pelo suposto pagamento oculto, em dinheiro, para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, na reta final da campanha às eleições presidenciais de 2016, sobre um suposto relacionamento que teriam tido uma década antes, o que ele sempre negou.
O republicano também é investigado por tentar reverter sua derrota nas eleições de 2020 no Estado da Geórgia, por uma suposta má gestão de documentos oficiais retirados da Casa Branca e pelo possível envolvimento no ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021./AFP
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