WASHINGTON - O lote inicial de documentos recuperados pelos Arquivos Nacionais com o ex-presidente Donald Trump em janeiro incluía mais de 150 marcados como confidenciais. O número despertou intensa preocupação no Departamento de Justiça e ajudou a desencadear a investigação criminal que levou agentes do FBI a fazer uma batida na mansão de Mar-a-Lago este mês buscando recuperar mais, afirma o jornal The New York Times.
No total, o governo recuperou mais de 300 documentos com marcas confidenciais de Trump desde que ele deixou o cargo, disseram as fontes citadas pelo jornal. Os documentos estavam no primeiro lote devolvido por ele em janeiro, outro conjunto fornecido pelos assessores de Trump ao Departamento de Justiça em junho e o material apreendido pelo FBI na batida deste mês.
O volume até então não relatado do material sensível encontrado no poder do ex-presidente em janeiro ajuda a explicar por que o Departamento de Justiça agiu com tanta urgência para recuperar quaisquer outros materiais confidenciais que ele pudesse ter.
O fato de que um número tão grande de documentos altamente confidenciais permaneceu em Mar-a-Lago por meses, mesmo enquanto o departamento buscava a devolução de todo o material que deveria ter ficado sob custódia do governo quando Trump deixou o cargo, sugeriu a funcionários que o ex-presidente ou seus assessores foram descuidados ao lidar com o assunto ou não totalmente abertos com os investigadores.
A natureza específica do material sensível que Trump tirou da Casa Branca permanece incerta. Mas as 15 caixas que Trump entregou aos arquivos em janeiro, quase um ano depois de deixar o cargo, incluíam documentos da CIA, da Agência de Segurança Nacional e do FBI, abrangendo uma variedade de tópicos de interesse da segurança nacional, disse uma pessoa informada sobre o assunto.
O próprio Trump revisou as caixas no fim de 2021, de acordo com várias pessoas informadas sobre seus esforços, antes de entregá-las.
A natureza altamente sensível de alguns dos materiais nas caixas levou os funcionários dos arquivos a encaminhar o assunto ao Departamento de Justiça, que em poucos meses havia convocado uma investigação.
Para Entender
Assessores de Trump entregaram algumas dezenas de documentos confidenciais adicionais durante uma visita a Mar-a-Lago por funcionários do Departamento de Justiça no início de junho. Na conclusão da busca neste mês, as autoridades deixaram 26 caixas, incluindo 11 conjuntos de material marcado como classificado. Um conjunto tinha o nível mais alto de classificação, informações compartimentadas altamente secretas ou sensíveis.
A investigação do Departamento de Justiça continua, sugerindo que as autoridades não têm certeza se recuperaram todos os registros presidenciais que Trump levou consigo da Casa Branca.
Mesmo após a decisão extraordinária do FBI para executar um mandado de busca em Mar-a-Lago em 8 de agosto, os investigadores buscaram imagens de câmeras de vigilância adicionais do resort, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.
Foi a segunda demanda desse tipo pelas imagens de segurança do clube, disseram as fontes, e destacaram que as autoridades ainda estão examinando como os documentos confidenciais foram tratados por Trump e sua equipe antes da batida.
Um porta-voz de Trump não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Uma porta-voz do FBI se recusou a comentar.
‘Ordem permanente’
Os aliados de Trump insistem que o presidente tinha uma “ordem permanente” para tirar o sigilo do material que retirava do Salão Oval para a residência da Casa Branca e alegaram que a Administração de Serviços Gerais, e não a equipe de Trump, embalou as caixas com os documentos.
Nenhuma documentação foi divulgada confirmando que Trump tirou o sigilo do material, e os crimes potenciais citados pelo Departamento de Justiça no mandado de busca para Mar-a-Lago não dependeriam do status de classificação dos documentos.
Autoridades do Arquivo Nacional passaram grande parte de 2021 tentando recuperar material de Trump, depois de saber que cerca de duas dúzias de caixas de material de registros presidenciais haviam ficado na residência da Casa Branca por vários meses. Sob a Lei de Registros Presidenciais, todo material oficial permanece propriedade do governo e deve ser fornecido aos arquivos no fim do mandato do presidente.
Entre os itens que eles sabiam que estavam faltando estavam as cartas originais de Trump do ditador norte-coreano, Kim Jong-un, e a nota que o presidente Barack Obama havia deixado para Trump antes de deixar o cargo.
Dois ex-funcionários da Casa Branca, que foram designados como representantes de Trump nos arquivos, receberam ligações e tentaram facilitar a devolução dos documentos. Mas Trump resistiu a esses pedidos, descrevendo as caixas de documentos como “meus”, segundo três assessores familiarizados com seus comentários./NYT
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