Justiça dos EUA retira sigilo de documentos que ligam Trump, Clinton e Príncipe Andrew a Epstein

Dos nomes associados ao falecido financista acusado de tráfico sexual revelados, a maioria já havia sido amplamente divulgadas; informações partem de depoimentos das vítimas

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Por Redação
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Centenas de páginas de documentos judiciais, anteriormente em sigilo, relacionados a Jeffrey Epstein, o financista e agressor sexual registrado, foram tornados públicos nesta quarta-feira, 3. Mas, como a maioria dos especialistas jurídicos familiarizados com o caso já havia suposto, não havia uma lista de homens famosos que procuraram fazer sexo com mulheres jovens e adolescentes, como tem se especulado nas redes sociais, especialmente em contas ligadas à direita radical americana.

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Os documentos, apresentados no Tribunal Distrital Federal de Manhattan, parecem acrescentar um pouco mais de contexto aos relacionamentos que Epstein manteve ao longo dos anos com homens poderosos, como os ex-presidentes Bill Clinton e Donald Trump e um membro da realeza britânica, o Príncipe Andrew.

Mas elas forneceram pouco ou nenhum material novo para os teóricos da conspiração, que permanecem obcecados com os negócios de Epstein mais de quatro anos após sua morte.

Os 45 documentos judiciais tornados públicos nesta quarta-feira faziam parte de uma ação judicial movida contra Epstein por uma de suas vítimas. Os documentos foram previamente selados ou redigidos para ocultar os nomes de mais de 100 vítimas, associados ou amigos do Epstein, todos com a designação “J. Doe” e um número de identificação exclusivo.

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Esta foto fornecida pelo Registro de Criminosos Sexuais do Estado de Nova York mostra Jeffrey Epstein, 28 de março de 2017.  Foto: New York State Sex Offender Registry via AP

Mas a juíza que supervisiona o caso, Loretta Preska, que no mês passado ordenou a divulgação dos materiais, observou que a maioria dos nomes já havia sido divulgada publicamente em outros processos ou em reportagens.

A maioria dos documentos tornados públicos nesta quarta-feira não inclui episódios específicos de irregularidades cometidas por outros homens, além de Epstein, que foi encontrado morto aos 66 anos em uma cela de Manhattan em agosto de 2019, enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual. Sua morte foi considerada suicídio.

Entre os documentos revelados na quarta-feira estava um extenso depoimento de maio de 2016 de Johanna Sjoberg, uma das supostas vítimas de Epstein, que disse ter convivido com o financista de 2001 a 2006. Foi perguntado a ela se Jeffrey alguma vez falou com ela sobre Clinton durante esse período.

“Ele disse uma vez que Clinton gosta delas jovens, referindo-se a meninas”, testemunhou Sjoberg. Ela também disse que, enquanto voava com Epstein em um de seus aviões, eles fizeram uma parada não planejada em Atlantic City, N.J.

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“Jeffrey disse: ‘Ótimo, vamos ligar para o Trump’”, testemunhou Sjoberg, acrescentando que Epstein sugeriu que eles visitassem o cassino de Trump.

O presidente Donald Trump, à direita, e a primeira-dama Melania Trump, à esquerda, acompanhados pelo príncipe britânico Andrew, partem após um passeio pela Abadia de Westminster, em Londres, em 3 de junho de 2019.dade.  Foto: Matt Dunham / AP

Quanto ao Príncipe Andrew, o segundo filho da Rainha Elizabeth II, Sjoberg testemunhou que, quando foi apresentada a ele pela primeira vez, ele “colocou a mão em meu peito”.

A maioria das pessoas famosas ligadas ao Epstein disse que não tinha conhecimento de seu comportamento abusivo com meninas adolescentes ou mulheres jovens.

Clinton emitiu uma declaração em 2019 dizendo que não sabia nada sobre os “crimes terríveis” de Epstein. O ex-presidente nunca foi acusado de qualquer irregularidade relacionada ao Jeffrey; e ele não se opôs à divulgação dos documentos que o mencionam, disse um porta-voz na noite de quarta-feira. Já Trump disse que teve uma “desavença” com Epstein anos atrás e “não era um fã”.

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No total, a juíza Preska ordenou a revelação de mais de 200 documentos, sendo que o restante deverá ser divulgado nos próximos dias, após serem revisados pelos advogados envolvidos no litígio.

Os materiais compreendem, na maioria, moções legais e trechos de depoimentos dados por acusadores que descrevem em detalhes como Epstein abusou sexualmente deles, inclusive forçando-os a masturbá-lo durante massagens.

Os documentos irão revelar nomes de outras pessoas envolvidas ao financista?

A juíza Preska disse em seu despacho que os documentos, em sua maioria, não incluíam material obsceno sobre outras pessoas além do criminoso.

Ao explicar sua decisão de abrir os documentos, a juíza Preska observou vários casos em que um determinado “Doe” não havia levantado objeção à divulgação de seu nome. Mas em outros casos, ela ordenou que a confidencialidade fosse mantida.

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O “Doe 16″ é uma suposta vítima menor de abuso sexual que não se manifestou publicamente e que manteve sua privacidade”, escreveu a juíza Preska em um caso. “Dessa forma, o interesse público não supera o interesse da privacidade”, acrescentou.

Os documentos foram originalmente apresentados como parte de um processo de difamação movido em 2015 por Virginia Giuffre, uma vítima de Epstein, contra a socialite britânica Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Epstein, condenada em 2021 por ser cúmplice dele em sua operação de tráfico sexual. Ghislaine está cumprindo uma sentença de 20 anos de prisão por traficar jovens vítimas de abuso sexual para Jeffrey.

Em 2022, Giuffre e o Príncipe Andrew chegaram a um acordo em um processo separado no qual ela alegou que ele havia abusado sexualmente dela quando ela tinha 17 anos.

Sigrid McCawley, advogada de Giuffre, disse que a revelação dos documentos permitiria ao público saber “mais sobre a escala e o escopo do esquema de Epstein” e como ele conseguiu se safar por tanto tempo.

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Virginia Roberts Giuffre, vítima de agressão sexual, fala em Nova York, 2 de julho de 2020.  Foto: Bebeto Matthews / AP

Um dos documentos revelados na quarta-feira inclui um e-mail que Epstein enviou à Maxwell em janeiro de 2015, no qual ele lhe disse para “oferecer uma recompensa a qualquer amigo de Virginia” que “se apresentasse e ajudasse a provar que suas alegações são falsas”.

Virginia e a Ghislaine chegaram a um acordo sobre o processo pouco antes de ele ir a julgamento em 2017. O Miami Herald e outros meios de comunicação solicitaram ao juiz que supervisionava o caso, Robert Sweet, que os documentos do caso fossem revelados, mas ele negou o pedido. Em 2019, no entanto, um painel de três juízes do tribunal federal de recursos liberou cerca de duas mil páginas de materiais e devolveu o caso ao tribunal distrital, onde a juíza Preska foi designada para supervisionar um processo que levou a outras liberações de documentos.

O fato de os documentos terem sido liberados, no entanto, conta apenas uma pequena parte da história de Epstein, que durou mais de duas décadas.

A maioria dos documentos que estão sendo liberados envolve depoimentos de mulheres que foram vítimas de Epstein desde a década de 1990 até sua condenação em 2008 na Flórida, quando o financista se declarou culpado de procurar uma jovem menor de idade para prostituição e cumpriu um ano de prisão. Mas Epstein teria continuado a abusar de mulheres após cumprir a sentença e ser obrigado a se registrar como agressor sexual.

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O acordo judicial do caso foi posteriormente investigado, após a imprensa americana apurar e descobrir a extensão dos seus abusos. Investigações posteriores apontaram que ele havia abusado pelo menos 36 adolescentes.

No ano passado, documentos sobre o papel do JPMorgan Chase em ajudar a financiar as atividades do agressor foram divulgados no decorrer do litígio contra o banco movido em nome de suas muitas vítimas. Em um acordo no ano passado, o JPMorgan, o maior banco do país, concordou em resolver a ação coletiva com US$ 290 milhões, que deverão ser pagos a quase 200 mulheres./NYT

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