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Análise|Kamala Harris tem algumas boas opções para a vice-presidência. A melhor é Mark Kelly

O senador e ex-astronauta do Arizona ajudaria a vaciná-la contra suas maiores vulnerabilidades

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Por Karen Tumulty (Washington Post)

Conforme o Partido Democrata se reúne em torno da vice-presidente americana Kamala Harris para fazer dela sua candidata após a saída do presidente Joe Biden da disputa, anunciada no domingo, 21, a atenção está se voltando rapidamente para o próximo assunto em questão: quem ela deveria escolher para companheiro de chapa?

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É uma decisão que ela deve tomar tão rapidamente quanto o processo de sabatina permitir. Para sua sorte, Harris tem uma riqueza de opções atraentes entre a próxima geração de líderes de seu partido. Isso começa com os seus governadores, alguns dos quais vêm de Estados onde os democratas mais precisam vencer, incluindo Gretchen Whitmer de Michigan, Roy Cooper da Carolina do Norte e Josh Shapiro da Pensilvânia.

É fácil argumentar a favor de qualquer um deles, mas penso que a escolha mais inteligente de Harris seria o Senador Mark Kelly, do Arizona.

As credenciais de Kelly começam com sua biografia deslumbrante como piloto da Marinha testado em combate e astronauta da Nasa que comandou missões de ônibus espaciais a bordo da Discovery e da Endeavour e viajou mais de 32 milhões de quilômetros no espaço.

Ele também se revelou um político extremamente habilidoso em um Estado difícil, onde a chapa Biden-Harris está ficando para trás. Kelly venceu uma disputa acirrada em 2020 para preencher o mandato não concluído de John McCain (Partido Republicano) e então retornou para ficar com o assento novamente dois anos depois — desta vez, com uma margem mais confortável de cinco pontos contra um republicano de extrema direita, teórico da conspiração eleitoral, endossado por Donald Trump. Kelly superou significativamente o resultado das últimas pesquisas, que o mostravam atrás na corrida (se Kelly fosse eleito vice-presidente, a governadora do Arizona, Katie Hobbs, uma democrata, nomearia um substituto para servir como senador até uma eleição especial em 2026).

Escolher Kelly, que aos 60 anos tem aproximadamente a mesma idade de Harris, ajudaria a vaciná-la em áreas onde ela provavelmente seria vulnerável. Isso começa com a imigração. A campanha de Trump já deixou claro que esta seria uma linha de ataque contra Harris. O ex-presidente rotulou-a de “czar da fronteira” de Biden, uma descrição imprecisa do seu portfólio envolvendo as causas mais profundas da imigração na América Central.

Kelly tem criticado a hesitação do seu partido, até recentemente, em assumir uma posição firme na segurança das fronteiras. Mas ele também critica os republicanos por quererem marcar pontos neste quesito em vez de fazer progresso.

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“Quando cheguei a Washington, não demorei muito para perceber que há muitos democratas que não entendem a nossa fronteira sul e muitos republicanos que só querem falar a respeito disso, e não necessariamente querem fazer alguma coisa a respeito, buscando apenas usar o assunto politicamente”, ele me disse logo após sua vitória em 2022. “Portanto, a minha abordagem tem sido, na medida em que podíamos e podemos, fazer progressos na segurança da fronteira, mas também fazê-lo de uma forma que esteja de acordo com a nossa ética e os nossos valores, e não para demonizar as pessoas.”

O senador Mark Kelly, democrata pelo Estado do Arizona, é cotado como um dos nomes para se juntar à chapa de Kamala Harris como candidato a vice-presidente.  Foto: AP Foto/Manuel Balce Ceneta, Arquivo

Kelly se aposentou da Nasa e da Marinha depois que uma tentativa de assassinato em 2011 em um supermercado de Tucson deixou gravemente incapacitada sua mulher, Gabrielle Giffords, então deputada pelo Arizona, e outras seis pessoas mortas. Enquanto supervisionava os cuidados dela enquanto recuperava lentamente um pouco de sua capacidade de falar e andar, Kelly desenvolveu uma nova compreensão de como as leis sobre armas deste país funcionam — e não funcionam.

“Eu era proprietário de armas, defensor da Segunda Emenda constitucional, como ainda sou”, ele me disse em uma entrevista em julho de 2022 para um perfil que estava escrevendo sobre Giffords. “Mas eu realmente não sabia os detalhes.” O casal fundou uma organização que ajudou a aprovar leis razoáveis para o acesso a armas em quase todos os estados.

O que muitos defensores da Segunda Emenda não percebem, disse-me Kelly, é “como tornamos realmente mais fácil para criminosos, abusadores domésticos e pessoas que sofrem de doenças mentais perigosas terem acesso a armas como nenhum outro país no planeta. Ninguém mais faz isso. Por causa disso, temos uma taxa muito alta de pessoas sendo baleadas e morrendo.”

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Kelly continua sendo um proprietário de armas que se sente confortável em falar sobre o assunto de uma forma que outros democratas não se sentem. Certa vez perguntei a ele quantas armas de fogo ele possui. “Provavelmente têm mais armas do que o cidadão médio no Arizona”, respondeu.

A segurança do acesso às armas é uma questão que deve ganhar mais destaque novamente depois que um jovem de 20 anos com acesso a um rifle estilo AR tentou matar Trump em um comício em 13 de julho. Corey Comperatore, um ex-chefe dos bombeiros que estava na plateia, foi morto enquanto tentava proteger sua família, e outras duas pessoas ficaram gravemente feridas.

Kelly aprendeu algumas habilidades elementares no pouco tempo que esteve na política, o que certamente traria para uma chapa nacional.

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“Quando tentamos nos eleger para o Senado dos Estados Unidos ou qualquer cargo estadual, precisamos conversar com todos, e conversar com eles sobre coisas que lhes interessam, seja o custo da gasolina ou, especialmente no sul do Arizona, sobre a fronteira, que é uma crise”, disse-me ele em 2022. “Portanto, não fuja dos problemas”.

Ele fez seu nome como astronauta. Mas, na política, Mark Kelly pode afirmar que o mais importante é permanecer com os pés no chão./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL.

Análise por Karen Tumulty

Editora-assistente e colunista que cobre política nacional americana no Washington Post. Ela ingressou no The Post em 2010 após passagem pela revista Time e também trabalhou no Los Angeles Times.

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