A um dia da eleição nos Estados Unidos, as dúvidas sobre o resultado, com um cenário de empate nos sete Estados-chave para decidir a eleição, não são as únicas que só crescem.
Caso Donald Trump vença a eleição, como será o seu segundo mandato? Ele vai impor tarifas sobre a China? Limitar a ajuda militar à Ucrânia? Voltar a impor sanções ao Irã e ajudar Israel em suas guerras no Oriente Médio? Quais serão suas políticas ambientais e a relação com o Brasil?
E se Kamala Harris ganhar, o que acontecerá com a economia americana? Ela vai aumentar impostos e taxar grandes corporações? Como ela vai lidar com a UE, Otan e a guerra na Ucrânia? Ela manterá a política de Biden na Ásia, de construção de alianças para construir um “muro de contenção” para as pretensões chinesas? E como ela vai lidar com a ascensão do Sul Global?
Para tentar esclarecer essas dúvidas, o Estadão pediu para dez dos principais especialistas e analistas em diversos temas responderem como será o mundo em caso de vitória de Donald Trump ou de Kamala Harris.
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Como fica a política externa dos EUA?
Para o analista de assuntos internacionais, Lourival Sant’Anna, “não há diferenças perceptíveis entre a política externa de Joe Biden e os planos de Kamala, e a vitória da democrata aumentaria as chances de conflito global desencadeado pela provável invasão de Taiwan pela China e reação dos EUA”. Leia o artigo completo aqui.
Já a vitória de Donald Trump “potencializaria o risco de o Irã virar potência nuclear, de agravamento do conflito entre palestinos e israelenses, de derrota da Ucrânia e aumento da influência da China e da Rússia sobre o Sul Global”. Leia o artigo completo aqui.
União Europeia, Otan e a guerra na Ucrânia
“As relações entre os Estados Unidos e a Europa tiveram o seu pior momento durante o governo de Donald Trump. O embate dele com o Velho Continente foi tanto do ponto de vista econômico quanto militar”, afirma Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM-SP e especialista em segurança internacional. Se vencer as eleições nos EUA, essa agenda deve ser mantida e até radicalizada, afirma o professor. Leia o artigo completo aqui.
“Apesar de Kamala Harris ser a vice-presidente do governo Biden, é de se esperar que um governo dela siga algumas linhas de política externa dele, mas outras mudem”, afirma Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM-SP e especialista em segurança internacional. “Em relação à Ucrânia, a aproximação cautelosa do governo Biden em liberar armas para Kiev enfrentar a invasão russa, deve ser mantida”. Leia o artigo completo aqui.
Estadão na eleição dos EUA
Relação com a China
Para Feliciano de Sá Guimarães, professor livre-docente do Instituto de Relações Internacionais da USP, se Kamala Harris for eleita ela deve “manter o conteúdo e o tom da política externa americana em relação à China. Kamala tem indicado algumas mudanças de linguagem e táticas, como na questão de Taiwan e na percepção sobre as sanções tecnológicas à China, mas provavelmente manterá o mesmo objetivo estratégico, qual seja, conter a ascensão de Pequim”. Leia o artigo completo aqui.
Já para Trump, “a China se tornou um inimigo existencial que precisa ser combatido de todas as formas. Caso seja eleito, o objetivo do republicano é colocar pressão máxima nas arenas econômica e estratégica sobre Pequim. Desde o início, a campanha adotou uma postura de confrontação unilateral com Pequim”. Leia o artigo completo aqui.
Oriente Médio, Israel e Irã
“Uma vitória de Donald Trump significa uma vitória para Binyamin Netanyahu, seus aliados e para a direita israelense. Esse é o mais óbvio impacto para a região do Oriente Médio, ou Ásia Ocidental. Essa conclusão parte tanto da dinâmica eleitoral dos EUA quanto de seu primeiro mandato, ponto de partida razoável para analisar e avaliar quais serão as políticas de eventual segundo mandato de Donald Trump para a região”, escreve Filipe Figueiredo, colunista do Estadão, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol. Leia o artigo completo aqui.
No caso de uma vitória de Kamala, escreve Filipe, é possível esperar “uma mudança no engajamento dos EUA com os palestinos e com o atual governo israelense. Tais mudanças não significarão uma ruptura radical nas ações dos EUA na região do Oriente Médio, ou Ásia Ocidental. Essa conclusão parte das ações e declarações de Kamala Harris não somente como candidata, mas também como vice-presidente e como senadora”. Leia o artigo completo aqui.
‘Nova Ordem’ global
“A vitória de Kamala Harris em 2024 representaria uma escolha pela estabilidade e a preservação das normas institucionais dos Estados Unidos em um momento global de incertezas. Para os democratas, Kamala significa continuidade — a tentativa de restaurar uma política externa multilateral e um compromisso renovado com as alianças históricas”, escreve Carlos Gustavo Poggio, doutor em Relações Internacionais e especialista em política dos Estados Unidos. Leia o artigo completo aqui.
Para ele, a vitória de Donald Trump “marcaria uma guinada drástica rumo ao nacionalismo econômico e ao conservadorismo cultural, consolidando um Partido Republicano remodelado em torno de sua liderança”. Leia o artigo completo aqui.
A relação com o Brasil
As diferenças ideológicas de Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva vão pesar em um novo mandato do republicano? Menos pela ideologia e mais pelo plano econômico de Trump, afirma Matias Spekto, professor de Política e Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, e pesquisador do Carnegie Endowment. “O principal perigo não reside nas diferenças ideológicas entre os dois presidentes, mas no pacote de políticas que Trump pretende implementar, com impacto econômico direto sobre o Brasil”. Leia o artigo completo aqui.
Já uma vitória de Kamala Harris “significaria um relacionamento sem sobressaltos no nível presidencial, mas não reverte a falta de densidade política que a relação bilateral apresenta hoje”, diz Spektor. Leia o artigo completo aqui.
Imigração
Para María del Carmen Villarreal Villamar, professora do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios (NIEM), “apesar de não ser o tema número um da campanha democrata, a forte politização da agenda migratória levou a candidata a afirmar que o sistema de imigração está ‘quebrado’ e precisa ser consertado”. Leia o artigo completo aqui.
Já Donald Trump continua empunhando a bandeira anti-imigração para mobilizar suas bases e infligir medo nos eleitores de uma “invasão” de imigrantes. “A postura de Donald Trump sobre as migrações é cada vez mais virulenta. Em abril deste ano, o candidato Republicano chamou de “animais” e “não humanos” os imigrantes em situação irregular nos Estados Unidos, utilizando uma retórica degradante e desumanizadora que tem sido usada repetidas vezes durante a campanha e que lembra as definições utilizadas em governos ditatoriais”, escreve María. Leia o artigo completo aqui.
Meio ambiente
Para Eduardo Viola, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV), as políticas ambientais do governo Trump serão muito parecidas com as do seu primeiro mandato. “As medidas climáticas de Biden seriam substituídas por novas ordens executivas que promoveriam a produção de combustíveis fósseis e suspenderiam a atual pausa federal na construção de infraestrutura massiva para exportar gás natural liquefeito”, escreve Viola. Leia o artigo completo aqui.
No caso de Kamala, haveria uma continuidade da política ambiental de Biden, que teve avanços limitados. “O discurso climático de Harris em 2024 é menos ambicioso que o de Biden em 2020. Biden propunha limitar o crescimento da produção de petróleo e de gás natural de xisto betuminoso - shale gas (que usa tecnologias mais poluentes). Nisso ele fracassou, o que é reconhecido abertamente por Harris que, agora, propõe que os EUA continuem crescendo sua produção e exportação de petróleo e de shale gas, ao mesmo tempo em que continuem fortalecendo uma política industrial verde de orientação protecionista”. Leia o artigo completo aqui.
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Inteligência Artificial
“O programa de governo de Kamala Harris para temas sobre tecnologia, em especial sobre o futuro da inteligência artificial (IA) e a regulação das plataformas digitais, espelha uma continuidade e um aprofundamento das atividades desenvolvidas no Governo Biden”, escreve Carlos Affonso Souza, professor de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade. Para ele, os próximos quatro anos serão determinantes na corrida por supremacia tecnológica. Leia o artigo completo aqui.
Já no caso de uma vitória de Trump, a resposta é mais complexa do que pode parecer à primeira vista. “A postura liberal do ex-presidente em temas econômicos, refratária à imposição de regras pesadas por parte do Estado, poderia levar à conclusão de que o Vale do Silício e as empresas de IA teriam um passe-livre em um eventual novo governo Trump. Não é bem assim, já que a conclusão vai depender do quanto a empresa lida com temas sobre liberdade de expressão ou gera preocupações sobre segurança nacional”. Leia o artigo completo aqui.
Economia
Para Carolina Moehlecke, professora e Coordenadora do Mestrado Profissional em Relações Internacionais da FGV, e pesquisadora nos temas de Economia Política Internacional e Organizações Internacionais, “a campanha de Donald Trump divulgou uma agenda que promete impulsionar a economia americana, mas os riscos de aumento da dívida, inflação e isolamento do país são altos. Para começar, Trump defende tarifas cada vez mais agressivas, especialmente sobre produtos chineses”. Leia o artigo completo aqui.
Já no caso de Kamala Harris, “a pauta econômica da vice-presidente promete equilíbrio entre justiça social e crescimento econômico, mas para custear programas ela defende a elevação de impostos sobre grandes fortunas e corporações”. Leia o artigo completo aqui.
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