SEOUL - O líder norte-coreano Kim Jong-un classificou as relações de seu país com a Rússia como sua principal prioridade e prometeu total apoio ao presidente Vladimir Putin e seu governo, em encontro nesta quarta-feira, 13, que ocorre pela primeira vez em quatro anos.
Seus comentários ressaltaram a mensagem aparente da cúpula: os dois líderes se apoiarão mutuamente, em uma rejeição aos esforços liderados pelos EUA para isolar Putin, por sua invasão da Ucrânia, e Kim, por sua busca por armas nucleares e mísseis balísticos.
“A Rússia está agora enfrentando a luta sagrada para defender a soberania de seu Estado e proteger sua segurança”, disse Kim a Putin, de acordo com comentários em um vídeo divulgado pelo Kremlin. “Sempre apoiamos e defendemos todas as decisões do presidente Putin e do governo russo. Espero que estejamos sempre juntos na luta contra o imperialismo.”
Putin anunciou 75 anos de relações diplomáticas entre os dois países e enfatizou a necessidade de cooperação econômica: “Foi o nosso país o primeiro a reconhecer o estado soberano e independente da Coreia do Norte”, ou a abreviação oficial da Coreia do Norte.
Os dois líderes deram um show de simpatia quando se encontraram no Cosmódromo Vostochny, o centro espacial russo, iniciando o encontro com sorrisos e palavras calorosas.
Putin cumprimentou Kim quando ele saiu de um carro preto no espaçoporto na região de Amur, no extremo leste do país, e os dois homens apertaram as mãos e trocaram saudações de boas-vindas, de acordo com um vídeo divulgado pelo Kremlin em seu canal Telegram.
“Você fez uma boa viagem?” Putin perguntou a Kim, segundo o vídeo. “Obrigado por nos convidar, apesar de sua agenda lotada”, disse Kim em troca. A irmã e confidente mais próxima do líder norte-coreano, Kim Yo-jong, pôde ser vista acompanhando-o.
O Kremlin disse que os dois líderes inspecionaram as instalações do cosmódromo, incluindo a oficina de montagem dos veículos de lançamento dos foguetes espaciais Angara e Soyuz-2.
Yuri Borisov, chefe da Roscosmos, a agência espacial estatal da Rússia, e o diretor-geral do Centro de Operação da Infraestrutura Espacial Terrestre, Nikolai Nestechuk, descreveram as instalações russas para Kim, por meio de um intérprete.
Kim entrou na Rússia na manhã de terça-feira e foi recebido com a fanfarra de uma banda militar e um tapete vermelho ao cruzar a fronteira com a Rússia, marcando a primeira viagem internacional do líder recluso desde o início da pandemia.
Kim disse que sua visita “é uma expressão clara de como nosso partido e governo valorizam muito a importância estratégica das relações entre a RPDC e a Rússia”, informou a Agência Central de Notícias da Coreia, oficial de Pyongyang, na quarta-feira.
Com a viagem de Kim, a amizade e a cooperação entre os países passariam para um “novo nível superior”, segundo o relatório.
Espera-se que os líderes discutam o aumento do apoio mútuo, incluindo a possível troca de armas, mão de obra e alimentos, já que a Rússia está com pouca munição em sua guerra contra a Ucrânia e a Coreia do Norte busca impulsionar sua economia em dificuldades.
Kim se reuniu pela última vez com Putin em Vladivostok em 2019, dois meses após o colapso das negociações de desnuclearização entre os EUA e a Coreia do Norte em Hanói, e enquanto Kim buscava proteger suas apostas durante as negociações de seu programa nuclear.
Kim vem expandindo o arsenal de armas nucleares da Coreia do Norte em ritmo acelerado desde sua fracassada cúpula com o então presidente dos EUA, Donald Trump, mesmo com suas medidas pandêmicas restringindo a economia do país.
Agora, Kim e Putin procuram sinalizar que estão se unindo em torno de interesses compartilhados em seus respectivos impasses com Washington.
Washington acusa Moscou de buscar armas norte-coreanas.
“Continuamos preocupados com o fato de a Coreia do Norte estar pensando em fornecer qualquer tipo de munição ou apoio material à Rússia, em apoio à sua guerra contra a Ucrânia”, disse o porta-voz do Pentágono, Pat Ryder, aos repórteres na segunda-feira.
Em uma entrevista no programa “Face the Nation”, da CBS, no domingo, o vice-presidente Harris disse que “seria um grande erro” os dois líderes fecharem um acordo de armas.
“Também acredito firmemente que, tanto para a Rússia quanto para a Coreia do Norte, isso os isolará ainda mais”, disse Harris.
Enquanto isso, a Coreia do Norte disparou dois supostos mísseis balísticos em direção ao mar ao largo de sua costa leste, disseram os militares sul-coreanos na quarta-feira. A mídia japonesa informou que os mísseis caíram fora das águas japonesas.
O local do encontro
A escolha incomum do local pode indicar um foco na tecnologia espacial, uma prioridade para Kim. No mês passado, a Coreia do Norte fracassou em sua segunda tentativa de lançar um satélite espião militar e prometeu tentar novamente em outubro.
A agência espacial do país tem trabalhado para colocar o satélite no espaço, a fim de ficar de olho nas atividades militares do “inimigo” em tempo real. Os militares da Coreia do Sul estudaram os destroços do primeiro lançamento fracassado em maio e disseram que o satélite do Norte não é avançado o suficiente para realizar um reconhecimento espacial.
Putin disse que recebeu Kim no local porque pretende ajudar a Coreia do Norte a construir satélites, informou a mídia russa - uma observação surpreendente, dada a posição da Rússia como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e as proibições do conselho sobre os testes de tecnologia de longo alcance de Pyongyang, incluindo satélites.
“O líder da RPDC demonstra grande interesse em tecnologia de foguetes e está tentando desenvolver o espaço também”, disse Putin à agência de notícias russa RIA Novosti./W.Post
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