O Kremlin acusou neste domingo, 24, a administração de Joe Biden de adotar medidas para dificultar quaisquer tentativas de Donald Trump de negociar a paz na Ucrânia quando assumir a presidência dos Estados Unidos, em janeiro. A crítica foi feita pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em entrevista à televisão estatal russa, segundo informações da agência TASS.
“O governo Biden está tentando escalar a situação até o ponto em que qualquer termo de paz esteja fadado ao fracasso antecipadamente”, disse Peskov. Ele classificou a administração atual como um “partido da guerra” que utiliza a Ucrânia como uma ferramenta contra a Rússia.
Entre as ações recentes dos EUA, Peskov destacou a autorização para que Kiev utilize mísseis de longo alcance ATACMS contra alvos em território russo. Segundo ele, essa medida seria parte de uma estratégia para “deixar uma herança que limite as opções do próximo governo”. Além disso, o porta-voz russo sugeriu que as decisões americanas poderiam estar ligadas à derrota dos democratas nas eleições. “De muitas maneiras, sim”, respondeu ao ser questionado se as ações de Biden seriam uma espécie de vingança política.
Embora tenha apontado possíveis dificuldades criadas pelo governo Biden, o Kremlin evitou demonstrar otimismo em relação a uma presidência de Donald Trump. “Não estamos usando óculos cor-de-rosa”, declarou Peskov, acrescentando que é cedo para avaliar se Trump realmente alterará a política externa americana. Durante sua campanha, Trump prometeu resolver o conflito rapidamente, mas não detalhou como pretende alcançar esse objetivo.
As declarações de Peskov foram feitas em meio a uma escalada de tensões entre Rússia e o Ocidente. Nos últimos dias, Moscou testou um novo míssil estratégico e anunciou atualizações em sua doutrina nuclear, medidas que o porta-voz justificou como uma resposta à “escalada sem precedentes promovida pelo Ocidente, liderado pelos Estados Unidos”. Trump, que tomará posse em 20 de janeiro de 2025, herdará um cenário de relações extremamente deterioradas entre Washington e Moscou, além de um conflito que já ultrapassa mil dias.
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