Poucas horas após a explosão de um avião da companhia aérea Jeju Air deixar 179 dos 181 passageiros mortos na pista do Aeroporto Internacional de Muan, na Coreia do Sul, centenas de familiares dos passageiros enfrentavam a dolorosa espera por notícias de seus entes queridos. Lamentos e gritos de dor ecoaram no aeroporto neste domingo.
Uma jovem consolou uma mulher mais velha que chorava por seu filho. Duas mulheres choravam e se abraçavam. Até a noite de domingo, 29, horário local, apenas 65 dos mortos puderam ser identificados por meio de suas impressões digitais e outros meios, segundo as autoridades.
Alguns corpos estava tão danificados que as autoridades não puderam identificar imediatamente seu gênero. Entre os que foram identificados estavam um comissário de bordo de 23 anos e um passageiro do sexo masculino de 78 anos.
Jang Gu-ho, de 68 anos, sentou-se no saguão de desembarque ao lado de sua esposa com os olhos cheios de lágrimas, depois de sair correndo de sua casa na cidade vizinha de Mokpo. Ele disse que cinco de seus parentes estavam no avião voltando de férias: a irmã de sua esposa, a filha dela, o genro e dois netos.
Dois membros da tripulação foram resgatados com vida da cauda do avião em chamas, mas nas horas que se seguiram no domingo, notícias sombrias chegaram aos parentes no aeroporto.
Todas as 179 pessoas restantes a bordo foram confirmadas como mortas, tornando a queda do avião - pilotado pela popular companhia aérea de baixo custo Jeju Air - o pior desastre aéreo envolvendo uma companhia aérea sul-coreana em quase três décadas e o pior já ocorrido em solo sul-coreano.
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As autoridades estavam investigando o que causou a queda do avião, inclusive por que o trem de pouso parecia não ter funcionado corretamente e se o avião havia sido atingido por pássaros.
Nomes dos mortos nas paredes
Em uma área fechada do aeroporto, as autoridades estavam trabalhando para identificar os corpos recuperados do local do acidente. Quando os funcionários afixaram nas paredes do saguão de desembarque os nomes dos mortos confirmados, as pessoas correram para verificar as listas.
Quando os nomes eram anunciados, muitos familiares começaram a chorar. Outros ficaram com raiva e levantaram a voz em sinal de frustração: “Falem!” “Imprimam os nomes!”
Várias horas após o acidente, as pessoas expressaram frustração por terem que esperar tanto tempo por notícias sobre seus parentes. “Vamos ter a lista para que possamos pelo menos encontrar um hospital!”, gritou uma mulher.
As pessoas se aglomeraram em torno de um funcionário para verificar se seus parentes estavam em uma lista de mortos confirmados. Alguns parentes haviam dado amostras de DNA aos funcionários do aeroporto para ajudar a identificar os corpos.
No saguão de embarque, tendas temporárias foram montadas na noite de domingo para as famílias dos passageiros e da tripulação do avião. Fora do aeroporto, os carros faziam fila para entrar nos estacionamentos lotados. Alguns estacionaram nos acostamentos das estradas que levam ao terminal, e as pessoas continuaram a entrar no aeroporto durante a noite.
Seis horas depois de terem corrido para o aeroporto, Jang e sua esposa ainda estavam esperando que seus parentes fossem identificados.
Desastre em meio à crise política
O desastre deixou a Coreia do Sul em estado de choque em um momento em que o país enfrenta uma crise política desencadeada pela malfadada e de curta duração declaração de lei marcial pelo presidente Yoon Suk Yeol e seu subsequente impeachment neste mês. O vice-primeiro-ministro Choi Sang-mok, uma autoridade não eleita, correu para o local para lidar com seu maior desafio desde que assumiu o cargo de presidente interino, na sexta-feira.
O acidente de avião foi especialmente chocante para o país, pois não houve nenhum grande desastre de aviação após uma série de acidentes aéreos mortais nos anos 90. No último grande acidente aéreo envolvendo uma companhia aérea sul-coreana, um jato da Korean Air bateu em uma colina em Guam, um território dos EUA no Pacífico ocidental, em 1997, matando 229 das 254 pessoas a bordo.
A queda do avião da Jeju Air no domingo foi provavelmente a mais mortal em todo o mundo desde a do voo 610 da Lion Air em 2018, quando todas as 189 pessoas a bordo morreram quando o avião mergulhou no Mar de Java.
Também parece ter sido o primeiro acidente fatal da Jeju Air, que foi fundada em 2005 e voa para dezenas de países na Ásia. Kim E-bae, executivo-chefe da companhia, curvou-se ao pedir desculpas publicamente pelo acidente. Ele disse que a causa exata do acidente não estava clara.
O avião, do voo 7C2216 da Jeju Air, um Boeing 737-800, havia decolado de Bangkok com 175 passageiros e seis tripulantes. Todos os passageiros eram sul-coreanos, com exceção de dois tailandeses. O jato estava pousando em Muan, no sudoeste da Coreia do Sul, quando teve problemas.
As imagens do acidente mostraram um avião branco e laranja acelerando pela pista de pouso até bater em uma barreira no final da pista, explodindo em uma bola de fogo. A mídia local citou testemunhas que descreveram o som da explosão e publicou fotografias de grandes nuvens de fumaça preta sobre o local.
O avião se partiu em tantos pedaços que apenas a cauda foi identificada imediatamente, disse Lee Jeong-hyeon, um funcionário encarregado das operações de busca e resgate no local. Os dois membros da tripulação que sobreviveram foram resgatados da seção da cauda.
“Não foi possível reconhecer o restante da fuselagem”, disse Lee.
À medida que o número de mortos aumentava, começaram a surgir detalhes sobre o que aconteceu nos momentos finais antes do acidente.
As suspeitas do acidente
Quando o avião estava se preparando para aterrissar, o aeroporto alertou os pilotos sobre a possibilidade de um ataque de pássaros, disse Ju Jong-wan, diretor de políticas de aviação do Ministério da Terra, Infraestrutura e Transporte. Por volta dessa hora, testemunhas ouviram sons altos semelhantes a explosões, informou a MBC-TV. O canal transmitiu imagens mostrando chamas saindo brevemente de um dos motores do avião.
O avião emitiu um alerta de mayday (socorro) logo após o aviso do aeroporto e, em seguida, caiu, disse Ju.
As planícies de maré lamacentas próximas a Muan e grande parte da costa oeste da Península Coreana são os locais de descanso favoritos das aves migratórias. Fotografias publicadas na mídia local mostraram bandos de pássaros voando perto do aeroporto no domingo.
As evidências sugerem que a aeronave encontrou um bando de pássaros durante a aproximação, o que levou à suspeita de ingestão de pássaros pelos motores, disse Marco Chan, professor sênior de operações de aviação da Buckinghamshire New University, sediada no Reino Unido.
Os danos podem ter causado uma falha no sistema hidráulico, o que poderia explicar a incapacidade de acionar o trem de pouso, disse Chan em uma análise enviada por e-mail por sua universidade.
O avião também não parecia ter ativado os flaps das asas, disse Keith Tonkin, diretor administrativo da Aviation Projects, uma empresa de consultoria em aviação de Brisbane, Austrália, que analisou o vídeo do acidente. Isso significa que o avião estava viajando mais rápido do que a velocidade normal de pouso quando caiu de barriga na pista, disse ele.
Especialistas em aviação disseram que as investigações sobre as causas dos acidentes podem levar anos.
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