PARIS - Três dias antes do primeiro turno das eleições parlamentares na França, a líder da direita radical Marine Le Pen disse nesta quinta-feira, 27, que se seu partido conquistar a maioria na Assembleia Nacional, poderá tomar algumas decisões sobre defesa e Forças Armadas. A declaração põe em dúvida o apoio francês à Ucrânia na guerra contra a Rússia, já que Le Pen é aliada de Vladimir Putin.
O papel de comandante das forças, porém, é uma zona cinzenta da Constituição francesa. O país tem um regime de governo semipresidencialista e cientistas políticos estão se tentando interpretar como exatamente o presidente Emmanuel Macron e um primeiro-ministro hostil às suas políticas compartilhariam o poder se o Reunião Nacional de Le Pen ganhar a maioria no Parlamento.
Segundo Le Pen, Jordan Bardella, seu protegido e líder de destaque de seu partido, lideraria o próximo governo da França se seu partido ganhar. Ela sugeriu em uma entrevista que Bardella, com apenas 28 anos e sem experiência governamental, também assumiria pelo menos algumas decisões sobre a defesa da França e suas Forças Armadas. Macron tem três anos para cumprir seu último mandato como presidente.
Servir como um comandante-em-chefe das Forças Armadas “é um título honorário para o presidente, já que é o primeiro-ministro quem realmente puxa as cordas”, disse Le Pen em uma entrevista ao jornal Le Télégramme publicada nesta quinta.
A constituição francesa declara que “o Presidente da República é o chefe das forças armadas” e também “preside os conselhos e comitês superiores de defesa nacional”. No entanto, a constituição também afirma que “o primeiro-ministro é responsável pela defesa nacional”.
Especialistas constitucionais dizem que o papel exato do primeiro-ministro em política exterior e defesa parece estar sujeito a interpretação. Essa é uma questão com potenciais repercussões globais: a França possui armas nucleares e suas tropas e pessoal militar foram destacados em muitas zonas de conflito ao redor do mundo.
A última vez que a França teve um primeiro-ministro e um presidente de partidos diferentes, eles concordaram amplamente sobre assuntos estratégicos de defesa e política exterior. Mas desta vez, o conceito de compartilhamento de poder conhecido na França como “coabitação” pode ser muito diferente, dado a animosidade entre políticos de direita radical e esquerda. Ambos os blocos parecem ressentir profundamente do presidente centrista e favorável aos negócios.
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Sobre a questão do comando militar do país, o historiador político Jean Garrigues disse que “o presidente é o chefe das Forças Armadas, (mas) é o primeiro-ministro quem tem as Forças Armadas à sua disposição”.
Na prática, ele disse que isso significa que “se o presidente decidisse enviar tropas para o solo na Ucrânia, o primeiro-ministro seria capaz de bloquear essa decisão”.
Em março, Macron alertou as potências ocidentais contra mostrar quaisquer sinais de fraqueza para a Rússia e disse que os aliados da Ucrânia não devem descartar enviar tropas ocidentais para a Ucrânia para ajudar o país contra a agressão da Rússia.
Le Pen está confiante de que seu partido, que tem um histórico de racismo e xenofobia e laços com a Rússia, conseguirá traduzir seu triunfo impressionante nas eleições para o Parlamento Europeu no início deste mês em uma vitória na França.
Grupos de esquerda e ativistas antirracismo e feministas se reuniram em Paris na quinta-feira para instar os eleitores a impedir que o Reunião Nacional, anti-imigração, saia na frente.
O primeiro turno acontecerá no domingo. O decisivo segundo turno está agendado uma semana depois, em 7 de julho. O resultado permanece incerto devido a um sistema de votação complexo e alianças potenciais.
Le Pen disse que Bardella, se nomeado primeiro-ministro, buscaria ser firme, mas não hostil ao presidente em exercício.
“Jordan não tem intenção de brigar com [Macron], mas estabeleceu linhas vermelhas” disse Le Pen. Ela acrescentou: “Sobre a Ucrânia, o presidente não poderá enviar tropas”.
O argumento de Le Pen de que o cargo mais alto da França é essencialmente cerimonial deixou alguns observadores franceses perplexos, dadas suas próprias ambições presidenciais.
“Se ela está tentando alcançar a presidência, meio que não faz muito sentido para ela parecer querer reduzir o presidente a um tamanho muito menor no campo da defesa”, disse François Heisbourg, um analista de questões de defesa e segurança no Instituto Internacional para Estudos Estratégicos.
“E acho que muitos franceses terão grande dificuldade em entender por que ela parece querer desfazer as instituições”, disse ele./AP
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