O ex-líder guerrilheiro das Farc, Jesús Santrich, anunciou uma aliança com os guerrilheiros do ELN no segundo vídeo da nova facção do grupo. Na quinta-feira, 29, o grupo anunciou a decisão de retomar a luta armada das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)
O governo colombiano disse que o grupo não representa o surgimento de uma nova guerrilha no país, mas sim de uma quadrilha apoiada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Considerado o chefe do novo grupo, procurado por narcotráfico, Jesus Santrich disse que a nova etapa do confronto armado foi motivada porque discorda da implementação do acordo de paz com o governo colombiano.
Um novo vídeo da nova facção de guerrilheiros das FARC foi conhecido neste domingo na Colômbia. Seuxis Paucias Hernández, também conhecido como Jesús Santrich, transmitiu uma mensagem de seis minutos.
No vídeo, ele diz que a única saída do confronto armado que persiste na Colômbia é uma nova negociação que inclui todos os grupos insurgentes - em referência ao ELN - e que só poderia ser feita por uma Assembléia Nacional Constituinte que proclamasse uma nova Constituição.
Santrich exigiu que “uma nova composição fosse aberta como resultado de um diálogo político e da institucionalização das mudanças resultantes de um processo constitucional ou daquelas mudanças que em breve serão conquistadas pela rebelião".
“Existem ferramentas para continuar tentando uma saída combinada promovendo um processo constituinte”.
O líder guerrilheiro também reiterou que no acordo assinado com as FARC havia um compromisso de convocar todos os setores a um grande pacto político nacional que pudesse enfrentar os desafios que a paz exige.
Volta das Farc
Este pedido constituinte não é novo. As FARC defenderam a tese na mesa de diálogo em Havana, juntamente com a necessidade de estabelecer um "governo de transição" durante a primeira fase da implementação do acordo de paz.
Santrich disse que para alcançar uma “paz definitiva, estável e duradoura”, seria necessário que “todos os grupos armados” se unissem, em referência ao ELN. Ele também disse que eles estabeleceriam “imediatamente” uma aliança para esta nova etapa da luta armada.
"O Estado conhecerá uma nova modalidade operacional que responderá à ofensiva, porque nossa decisão não é continuar matando um ao outro entre irmãos para que uma oligarquia sem vergonha continue manipulando nosso destino", alertou Santrich.
Para o líder da guerrilha, o rearmamento e a fundação da "Nova Marquetalia": uma "resposta à traição do Estado ao acordo de paz de Havana". Ele afirmou que primeiro Juan Manuel Santos violou sua palavra de não modificar o acordo e, em seguida, Iván Duque o alterou de morte.
"Obviamente, o establishment não queria respeitar os princípios que governam as negociações, a obrigação do acordo e a boa fé. O Estado que não respeita seus compromissos não merece o respeito da comunidade internacional ou de seu próprio povo". disse.
O reaparecimento de Santrich e sua declaração política confirmam ainda que o grupo rearmado liderado por Iván Márquez, Romaña, El Paisa e o próprio Santrich - junto com outros membros de nível médio da antiga guerrilha - procurará retomar o nome, símbolos, slogans e a estrutura das FARC, desmobilizada entre 2016 e 2017, graças à assinatura do acordo de paz e à entrega de armas verificadas pela ONU.
Pedido por moderação
Nesta terça-feira, 3, o partido da da Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc) pediu para as antigas tropas guerrilheiras não retomarem as armas.
O presidente do partido surgido dos acordos de paz, Rodrigo Londoño, convidou "os que podem se sentir tentados pelos cantos de sereia dos desertores da paz" a "pensarem, meditarem, analisarem muito bem a realidade antes de se decidir a seguir um equívoco semelhante".
Em uma circular dirigida aos militantes da Farc, Londoño, conhecido durante a conflagração como Timochenko, disse que o "partido condena e se afasta da retomada das armas".
Em um vídeo publicado na quinta-feira passada em redes sociais, 20 rebeldes, liderados pelo ex-número 2 da guerrilha, Iván Márquez, anunciaram seu retorno à luta armada, alegando "a traição" dos acordos assinados em novembro de 2016 que conduziram ao desarmamento da maior parte das Farc.
"Sabemos que os que hoje se chamam chefes das Farc não vão fazer a guerra, que ficarão do outro lado da fronteira (na Venezuela)", acrescentou Londoño na carta.
Entre os insurgentes que aparecem nas imagens publicadas na quinta, armados e com cartazes das Farc nas costas, também estão Jesús Santrich e Hernán Darío Velásquez (El Paisa), todos procurados pela Justiça colombiana por descumprimento do pactuado./AFP, AP e EFE
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