Líderes do G-20 devem mandar recado indireto sobre guerras sem citar Israel e Rússia em declaração

Rascunho atual do documento, ainda em discussão durante a reunião de negociadores diplomáticos contém três paráfragos para tratar de temas geopolíticos

PUBLICIDADE

Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

ENVIADO AO RIO - A declaração final da Cúpula de Líderes G-20 no Rio se encaminha para um texto sobre as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza que não cita dois dos países envolvidos e militarmente mais poderosos, Israel e Rússia. A redação do documento final do G-20 é mediada pela diplomacia do Brasil.

PUBLICIDADE

A palavra “guerra” também não é mencionada na mais recente versão do texto, ainda passível de mudanças. O termo usado agora é “conflito”. Antes, também foi sugerida a palavra mais amena “situação”.

O rascunho atual do documento, ainda em discussão durante a reunião de negociadores diplomáticos, que antecede a chegada dos líderes, contém três parágrafos para tratar de temas geopolíticos. Este é o principal assunto a ser resolvido no Rio e sobre o qual não há acordo.

O Itamaraty afirma que o recado principal do G-20 deve ser a busca da paz.

Publicidade

Embora não sejam citados nominalmente, Moscou e Tel Aviv são os destinatários diretos do recado. A Rússia é parte do G-20. Embora Israel não seja, tem no grupo das 20 maiores economias do mundo seus maiores aliados estratégicos, os Estados Unidos.

A declaração final da Cúpula de Líderes G-20 se encaminha para um texto sobre as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza que não cita dois dos países envolvidos e militarmente mais poderosos, Israel e Rússia. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Um dos parágrafos é integralmente dedicado à guerra na Ucrânia, originada por uma invasão unilateral russa, em 24 fevereiro de 2022. Outro versa sobre a guerra movida por Israel na Faixa da Gaza, contra o grupo terrorista Hamas, após o ataque de 7 de outubro de 2023.

Os negociadores e seus auxiliares, conhecidos como “sherpas” e “sub-sherpas”, ouvidos pelo Estadão no Rio afirmaram que um dos parágrafos é dedicado a reafirmar os princípios da Carta das Nações Unidas, entre eles o respeito ao direito humanitário internacional, respeito a fronteiras e contra tomada e ocupação de territórios com uso da força. Os países não admitem também o uso de armas nucleares.

Um embaixador de país asiático envolvido afirmou que ser muito “ambicioso” na linguagem, buscando o uso de termos duros seja contra a Rússia ou contra Israel, provocaria objeções e criaria um impasse. A ausência de um comunicado conjunto em cúpulas internacionais é considerado um fracasso diplomático.

Publicidade

Os Estados Unidos e países europeus tenderiam a rejeitar o documento contra Israel, e a Rússia e aliados, contra si, com ajuda de países do Sul Global - entre eles o Brasil.

Essa negociação é mediada pelo Brasil, que preside o G-20 e tentou desbloquear as reuniões ao longo do ano, com a promessa de que o assunto seria discutido agora no Rio.

A divisão de países reflete votações sobre os temas nas Nações Unidas, afirmou um dos negociadores. Ele disse que ainda há muita barganha para tentar achar uma posição de equilíbrio, que evite o duplo padrão - dois pesos duas medidas, ao tratar de cada guerra em curso.

Os europeus já indicaram insatisfação com a atual abordagem à guerra na Ucrânia. Fontes de Palácio do Eliseu afirmaram que a França defende a retomada de teor semelhante ao usado em 2022, na Cúpula do G-20 de Bali, Indonésia.

Publicidade

PUBLICIDADE

À época, a Rússia estava mais isolada diplomaticamente e acabou sendo aprovada uma condenação expressa à invasão ordenada por Putin. A presidência francesa considera que esse é o ponto “básico” a ser buscado, além da rejeição à tentativa de conquista de territórios à força.

A novidade desta edição do G-20 é que a guerra na Faixa de Gaza começou após a edição de 2023, em Nova Délhi, na Índia, quando também houve dificuldades de obter consenso e a menção à invasão russa foi retirada, adotando um tom mais ameno contra Vladimir Putin. Um diplomata afirmou que os interesses de Moscou foram bastante contemplados em Délhi e que a declaração do ano passado dá uma boa base para o que será a do Rio.

Ainda ocorrem tentativas de inserir palavras mais críticas a Israel, sem mencionar o país, junto à necessidade de garantir assistência humanitária ao território palestino. A pressão vem da Arábia Saudita, Egito e países árabes, além da África do Sul.

Esse bloco conta com mais simpatia do Brasil, que abertamente critica a ação militar de Israel. Outra iniciativa é a tentativa de inserir no parágrafo as repercussões dos ataques israelenses no Líbano, em frente de batalha contra o Hezbollah.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.