PARIS - Líderes europeus reafirmaram o seu apoio à Ucrânia na terceira cúpula da chamada “coalizão dos dispostos”, liderada por França e Reino Unido, mas apresentaram divergências sobre o envio de uma força de segurança para garantir o eventual cessar-fogo no conflito.
No encontro em Paris, os líderes concordaram que seria um erro suspender as sanções, atendendo a condição imposta pela Rússia para o cessar-fogo no Mar Negro. Outro ponto em comum, segundo relato do primeiro-ministro britânico Keir Starmer é a necessidade de apoiar a Ucrânia para garantir que Kiev tenha a posição mais forte possível em qualquer negociação para a paz.
Mas pareceu ter havido pouco avanço nos planos de enviar uma força da segurança para garantir a proteção dos ucranianos. O presidente Emmanuel Macron disse que a França e o Reino Unido vão seguir avançando com a proposta de enviar tropas para dissuadir a Rússia de atacar a Ucrânia novamente. Ele afirmou que “vários” países querem se unir a essa força armada, mas reconheceu: “Não é unânime”.

Apesar da falta de consenso, Macron disse que “não precisamos de unanimidade para conseguir isso”. Oficiais militares da França e Reino Unido vão trabalhar com a Ucrânia para determinar onde os contingentes devem ser implantados e quantas tropas serão necessárias para atuar como elemento de dissuasão eficaz, acrescentou o presidente. “Haverá uma força de segurança com várias nações europeias que será enviada”, insistiu.
A cúpula de líderes de quase 30 países, além de chefes da OTAN e da União Europeia, ocorreu em um momento crucial na guerra, que se arrasta há mais de três anos. Sob Donald Trump, os Estados Unidos retomaram o diálogo com a Rússia e aumentaram a pressão pelo cessar-fogo em termos muitas vezes considerados desfavoráveis para a Ucrânia.
Um dos motivos para hesitação sobre o envio de tropas para Ucrânia é a incerteza sobre o apoio de Donald Trump a essa força de garantia da paz. “Isso exigirá o envolvimento e o apoio dos Estados Unidos”, disse o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer. “Essa é uma discussão que tivemos com o presidente em várias ocasiões.”
Construir uma força grande o suficiente para atuar como um dissuasão eficaz seria um esforço considerável para países que reduziram seus exércitos após a Guerra Fria e agora estão se rearmando. Autoridades do Reino Unido mencionaram possivelmente entre 10 mil e 30 mil soldados.
Macron, por sua vez, disse que é preciso estar preparado, caso os Estados Unidos não apoiem a iniciativa. “Você tem que esperar o melhor, mas se preparar para o pior”, disse. “Minha esperança é que os americanos estejam do nosso lado, que apoiem, ou até desempenhem um papel ativo”, seguiu. “Mas temos que estar preparados para uma situação em que talvez eles não se juntem a nós”.

Zelenski acusa Rússia de dividir EUA da Europa e cobra sanções
Em meio à preocupação sobre os compromissos americanos, Volodmir Zelenski acusou Vladimir Putin, de querer “dividir” americanos e europeus. Ele sugeriu que os Estados Unidos deveriam ter adotado sanções contra a Rússia depois que Putin negou o cessar-fogo de 30 dias, mas evitou criticar o governo americano.
“Ok, vamos fazer uma pausa e não apenas dizer aos Estados Unidos, aconselhar os Estados Unidos sobre o que fazer. Eles têm seu próprio pessoal que pode aconselhá-los”, interrompeu Zelenski a si mesmo, possivelmente lembrando-se do bate-boca com Donald Trump na Casa Branca.
Insistindo na necessidade das sanções, Zelenski disse que os embargos econômicos são uma das poucas ferramentas reais para pressionar a Rússia a entrar em negociações sérias. Moscou, por outro lado, exigiu que as sanções fossem suspensas para cumprir o cessar-fogo no Mar Negro. A Casa Branca afirmou que ajudaria a restaurar o acesso da Rússia ao mercado global de fertilizantes e exportações agrícolas, mas não confirmou as condições de Moscou.
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“Eles estão arrastando as negociações e tentando prender os EUA em discussões intermináveis e sem sentido sobre ‘condições’ falsas apenas para ganhar tempo e depois tentar conquistar mais território”, apontou Zelenski
Antes da cúpula no Palácio do Eliseu, a Ucrânia foi alvo de bombardeios que deixaram mais de 20 feridos e causaram interrupções ao fornecimento de energia em Kherson.
Os aliados europeus trabalham para fortalecer a Ucrânia e permitir que o país continue lutando até que o cessar-fogo abrangente se consolide. Emmanuel Macron anunciou um novo pacote de ajuda à defesa para a Ucrânia, avaliado em 2 bilhões de euros (cerca de US$ 2,15 bilhões), que incluirá tanques leves, defesa aérea, mísseis antitanque e outras armas e suportes./COM AP E AFP