Todos os anos, nos últimos dias de outubro, Fausto Cocom vem ao cemitério da cidadezinha, abre um caixão e põe-se a limpar delicadamente os ossos de sua mulher e dos filhos. ?É uma prova de amor e para dizer que não nos esquecemos deles?, diz o homem de 75 anos, um dos muitos em Pomuch que se dedicam a um ritual que, acredita-se, era praticado pelos antigos maias e tornou-se uma das tradições do Dia de Finados no México. ?Muitas pessoas surpreendem-se porque não é comum ver gente tocando e limpando ossos.? Durante o ano, as mulheres bordam roupas com os nomes de seus entes queridos e a data de sua morte. O bordado é, então, colocado sob seus ossos. Um aroma de pão fresco como oferta aos mortos flutua entre os túmulos, ao longo das estreitas calçadas do cemitério. Pequenos grupos de homens e mulheres, jovens e velhos, sentam-se entre as flores e escovam fêmures e crânios, de esqueletos desmantelados. Depois lavam as mãos com água e álcool. Pomuch pode ser o único povoado de alguma importância onde as pessoas ainda se dedicam a limpar os ossos de seus parentes. A cidadezinha, de cerca de 10.000 habitantes, está localizado a 50 quilômetros a nordeste da capital estadual Campeche, na Península de Yucatan, uma região onde a herança maia continua forte. ?Estamos acostumados com isto. É um pouco estranho, mas é o modo como recordamos?, dia Maria Pech. O costume local determina que os mortos sejam enterrados por três anos e, então, sejam exumados, seus ossos separados, limpos e colocados em pequenas criptas. A idéia é que as almas, retornando para o Dia de Finados, dia 2 de novembro, encontrem seus restos bem cuidados.
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