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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A ambiguidade da China na Guerra da Ucrânia; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

A ambivalência do país em relação à agressão russa contra a Ucrânia reflete o dilema que envolve suas intenções hegemônicas

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Atualização:

A ambivalência da China em relação à agressão russa contra a Ucrânia reflete o dilema que envolve suas intenções hegemônicas: de um lado, o interesse econômico de continuar se aproveitando da globalização; de outro, o objetivo político de afirmar a superioridade da autocracia sobre a democracia, consolidando um bloco de regimes iliberais liderado por Pequim.

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Quando já reunia ao redor da Ucrânia o aparato militar mobilizado para a invasão, o presidente russo, Vladimir Putin, foi recebido por seu colega chinês, Xi Jinping, na abertura dos Jogos de Pequim. Ambos firmaram uma “parceria sem limites”.

Ela inclui o aumento do fornecimento de gás russo para a China, como contrapartida à eventual perda de mercado europeu. O espaço se abriu também para o petróleo, minérios e cereais russos.

O presidente russo, Vladimir Putin, ao lado do chinês, Xi Jinping, em encontro em Pequim semanas antes da invasão russa da Ucrânia  Foto: Sputnik/Aleksey Druzhinin/Kremlin via Reuters

Depois da invasão, a China se declarou defensora da soberania dos países. Mas se absteve nas votações no Conselho de Segurança e na Assembleia-Geral da ONU das resoluções que condenaram a violação da soberania ucraniana. Xi tem manifestado simpatia pelas alegadas preocupações de Putin com a expansão para o leste da Otan – pretexto para a invasão.

Na conversa com Joe Biden, na sexta-feira, Xi cobrou um preço para dosar sua ajuda a Putin: os EUA deixarem de incentivar a independência de Taiwan. Biden advertiu para “sérias consequências” de a China prover a Rússia com assistência militar e econômica. As retaliações serão nos campos econômico e tecnológico.

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A China é o celeiro de manufaturados do mundo, mas ainda depende muito de know-how americano, europeu, japonês e sul-coreano. Os EUA detêm 48% do mercado global de semicondutores, ou chips. A China é importadora líquida de chips, e essa dependência cresceu 14,6% em 2020.

O governo americano está reforçando a proteção dessas patentes para retardar a assimilação da tecnologia pretendida pelo programa Made in China 2025.

A Revolução Chinesa de 1949 implantou no país uma virulenta ideologia anti-Ocidente. É inoculada nos chineses a noção da inferioridade das democracias liberais, em comparação com a suposta eficácia do sistema de partido único. Xi retomou a ênfase nessa doutrina maoista, como pilar de seu plano de perpetuação no poder.

Putin, que também quer governar para sempre, tem sido instrumental em minar as democracias ocidentais disseminando a confusão nas eleições com campanhas nas redes sociais. A pauta chegou até ao Brasil, cujo presidente põe em dúvida a confiabilidade do sistema eleitoral.

As mentiras espalhadas pelos russos, no entanto, não escondem o massacre de civis e a destruição física da Ucrânia, que nunca ameaçou a Rússia. Isso não fala a favor de um mundo dominado por autocratas. Além disso, mais ruptura das cadeias de valor não interessa à China.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

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