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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | A contraofensiva da Ucrânia; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

Ucranianos mudam estratégia de guerra e iniciam nova fase do conflito

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Atualização:

A guerra na Ucrânia entrou em nova fase. O foco do conflito se deslocou do leste para o sul. Pela primeira vez, as forças ucranianas detêm a iniciativa. Ataques a posições russas 200 quilômetros atrás da linha de contato estão degradando a capacidade ofensiva das forças invasoras. O quadro é de equilíbrio de forças e revisão de objetivos.

No último mês, as forças ucranianas destruíram dezenas de bases militares, depósitos de armas e munições, pontes e trechos de ferrovias, usadas para o transporte de tropas, suprimentos e material bélico. No dia 9, um ataque ucraniano à base aérea de Saki, na costa oeste da Crimeia, destruiu ao menos oito aviões militares russos. Na terça-feira, um paiol de munições perto da pequena cidade de Maiskoie rompeu a principal ferrovia que liga a península à área continental russa.

Fator Crimeia

O presidente Volodmir Zelenski declarou que “a guerra começou na Crimeia e vai acabar na Crimeia”, numa importante revisão dos objetivos da Ucrânia, até então limitados a conter a expansão russa. A declaração e as ações no terreno indicam que a Ucrânia pretende recuperar todo o território ocupado desde a primeira invasão, em 2014.

Imagem do dia 20 de maio mostra moradora de Kherson passeando com criança em Kherson em meio ao patrulhamento da Rússia Foto: Olga Maltseva / AFP

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A Rússia tem planos de anexar a Província de Kherson, no sul da Ucrânia, em setembro, com plebiscitos forjados pela fraude e repressão. Moradores da capital de mesmo nome só podem receber o pagamento de seus salários em rublos, nos dois bancos russos instalados na cidade. Para abrir contas nesses bancos, precisam apresentar passaportes russos. As escolas tiveram de adotar o currículo russo. Os professores que resistiram foram demitidos.

Segundo a ONG Human Rights Watch, ao menos 600 moradores da província desapareceram. Suas residências têm sido ocupadas por cidadãos trazidos da Rússia, numa repetição do que aconteceu em larga escala em Donbas, no leste da Ucrânia, a partir de 2014.

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Para evitar a anexação, os ucranianos estão montando um cerco progressivo a Kherson, a maior cidade ocupada pelos russos. Isso forçou a Rússia a deslocar tropas do leste para o sul, levando a uma virtual paralisia da campanha em Donbas.

Tudo isso foi possível graças ao envio de armamento pesado e sofisticado, sobretudo dos Estados Unidos. Novo carregamento, no valor de US$ 775 milhões, está a caminho. Dez mil soldados ucranianos estão sendo treinados no Reino Unido em técnicas ofensivas, até aqui ausentes na doutrina do país, que sempre treinou para se defender.

Até onde isso irá? A Ucrânia não tem condições de derrotar a Rússia. No entanto, pode retomar partes do território perdido e forçar o Kremlin a rever suas intenções estratégicas.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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