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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | Acordo diplomático chinês marca fracasso dos EUA no Oriente Médio; leia coluna de Lourival Sant’Anna

Arábia Saudita e Irã passam a ter em comum a supervisão diplomática e militar da China

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Atualização:

A normalização das relações entre Arábia Saudita e Irã, mediada pela China, marca o fracasso da estratégia americana para o Oriente Médio e, em contrapartida, o êxito da abordagem chinesa. O distensionamento é obviamente bem-vindo, mas o contexto sinaliza risco para as democracias na disputa com as autocracias.

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Arábia Saudita e Irã são historicamente os dois maiores adversários no mundo muçulmano. O chamado terrorismo islâmico é, em grande medida, produto dessa rivalidade. Do lado sunita, ele é inspirado pela seita wahabita, originária da Arábia Saudita, e patrocinado por famílias árabes do Golfo Pérsico. Do lado xiita, tem apoio iraniano. Os conflitos no Iraque, Líbano, Síria, Iêmen, Afeganistão e Paquistão são alimentados por essa disputa.

Desde a descoberta de sua riqueza petrolífera, o reino saudita tem sido aliado do Ocidente; a partir da 2.ª Guerra, tem estado sob o guarda-chuva militar americano. Esse também foi o caso do Irã – até a Revolução Islâmica de 1979 e a nacionalização de seu petróleo.

Chanceler chinês Wang Yi, o audita Musad Al-Aiban e o iraniano Ali Shamkhani trocam cumprimentos após acordo de reaproximação diplomática Foto: China Daily via Reuters - 10/3/2023

Sucessivos governos americanos brindaram Arábia Saudita e Israel com apoio incondicional. Resultado: as monarquias árabes do Golfo apoiaram grupos terroristas que atacavam alvos americanos; e Israel se lançou na colonização ilegal da Cisjordânia, fator de contínua tensão na região.

Os lobbies judaico e do petróleo impediram os EUA de agir de acordo com seus interesses. Os lobbies são um ponto fraco das democracias, que mesmo assim ainda são sistemas mais eficientes que ditaduras.

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As potências exercem sua influência construindo o arco de alianças mais amplo possível, para pressionar cada aliado individualmente, e não fazê-lo crer que são sua única alternativa estratégica. Só assim os aliados são incentivados a ouvir seus apelos, sob pena de os favores irem para os rivais. É assim que a China tem atuado.

Barack Obama entendeu isso e “estendeu a mão” aos iranianos, segundo sua expressão. Firmou o acordo nuclear com o Irã, deixando sauditas e israelenses revoltados. Donald Trump desfez esse jogo. Sua primeira viagem foi a Israel e Arábia Saudita, a quem vendeu US$ 350 bilhões em armas.

Ao assumir, Joe Biden suspendeu a venda e buscou novo acordo nuclear com o Irã. Dessa vez sem sucesso, porque a linha dura nacionalista retomara o poder em Teerã, em meio à desilusão causada por Trump.

Os sauditas passaram a comprar armas da China, e recusaram pedido de Biden de aumentar a produção do petróleo para conter o preço. Os chineses já eram o principal cordão umbilical do Irã, que enfrenta asfixiantes sanções do Ocidente.

Arábia Saudita e Irã passam a ter em comum o guarda-chuvas diplomático e militar da China. Continuam rivais. Até isso é conveniente para os chineses, que se tornam árbitros da disputa.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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