O ataque do Irã contra Israel não foi uma retaliação, mas uma escalada formidável de proporções inesperadas. O lançamento de uma centena de drones, e também de mísseis, contra Israel, foi desproporcional em relação ao bombardeio de uma instalação iraniana em Damasco, que matou oficiais da Guarda Revolucionária iraniana no dia 1.° de abril. Foi inesperado porque havia um consenso entre analistas, incluindo eu, de que o Irã não teria interesse de provocar um ataque direto de Israel e Estados Unidos contra alvos em seu território.
Foi precisamente o que o regime iraniano fez, pela primeira vez, ultrapassando um claro limite observado até aqui. O Irã atacava antes Israel por meio de grupos que patrocina, como o Hamas, da Faixa de Gaza, o Hezbollah, do Líbano, os Houthis, do Iêmen, e milícias no Iraque e na Síria. Aparentemente parte dos projéteis foi disparada do Iraque e da Síria, mas outra parte, de bases no Irã. Pela quantidade de projéteis disparados, o objetivo pode ser sobrecarregar os sistemas antiaéreos israelenses, para elevar as chances de parte deles atravessá-los e atingir alvos.
Caças americanos interceptaram drones no ar. A Jordânia, que fica entre os territórios israelense e iraniano, afirmou que também interceptaria aqueles que passassem em seu espaço aéreo. É provável que a Arábia Saudita fizesse o mesmo. Ainda assim, dezenas de projéteis chegaram até os céus de Jerusalém a partir das 19h50 de Brasília, 1h50 da madrugada de domingo em Israel. Os drones foram disparados em primeiro lugar, por volta de 17h de Brasília, e eles levam horas para alcançar Israel. Depois, segundo a mídia oficial iraniana,por volta de 19h, foram empregados mísseis balísticos, que levam apenas minutos para atingir os alvos.
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As Forças de Defesa de Israel reforçaram a proteção do complexo nuclear de Dimona e da base área de Nevatim, que abriga os avançados caças americanos F-35, ambos no Deserto do Negev. Outra área cuja defesa foi reforçada foram as Colinas do Golan, que Israel tomou militarmente da Síria na Guerra dos Seis Dias, em 1967. As colinas foram alvo também de foguetes Katiucha disparados pelo Hezbollah.
Dois fatores essenciais que ainda não estavam claros na noite de sábado definirão o andamento dessa escalada: qual será a dimensão dela e a reação de Israel e dos Estados Unidos. O segundo fator obviamente depende do primeiro. O Irã tem um sofisticado e amplo arsenal de mísseis balísticos e de cruzeiro (que têm propulsão própria), com altas cargas explosivas e considerável precisão. O segundo aspecto da envergadura desse ataque é se ele envolverá também o Hezbollah, que tem um arsenal estimado em 150 mil foguetes e mísseis, além de 100 mil combatentes.
Mas, da mesma forma que o ataque contra o quartel-general da Guarda Revolucionária em Damasco, que o Irã afirma ser o seu consulado, causaria necessariamente uma resposta do Irã, esse ataque iraniano também necessariamente causará uma resposta de Israel, e talvez dos EUA. E ela será robusta.
Neste estágio inicial, que sai vencendo politicamente é o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu. Antes de Israel matar os generais irianianos em Damasco há duas semanas, o governo americano vinha se afastando de Netanyahu, por causa da desproporcionalidade da campanha na Faixa de Gaza, em comparação aos ataques terroristas cometidos pelo Hamas em 7 de outubro. Agora, os EUA retomam o apoio incondicional a Israel, diante da ameaça de seu principal inimigo.
Entre uma coisa e outra, Netanyahu já havia torpedeado as negociações para a libertação dos reféns na Faixa de Gaza, ao autorizar um bombardeio que matou três filhos e quatro netos do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh. Claramente, o primeiro-ministro não deseja a desescalada do conflito, como afirma grande parte da opinião pública israelense.
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