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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Complacência da China com Putin intimida e inspira Sul global; leia coluna de Lourival Sant’Anna

Xi oferece a Putin suporte econômico, político e militar, com exercícios conjuntos, envio de fuzis e drones

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A conversa telefônica entre os presidentes Xi Jinping e Volodmir Zelenski não muda as intenções da China nem a ameaça existencial que paira sobre a Ucrânia. A guerra se encaminha para sua batalha decisiva: a Crimeia. O que é muito diferente de dizer que ela está perto do fim. Pelo contrário.

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O governador pró-russo da Crimeia, Sergei Aksionov, anunciou um ataque à base naval de Sebastopol por embarcações ucranianas não tripuladas. Comparação de imagens de satélite feita pela CNN mostrou que a Rússia removeu dezenas de veículos blindados, tanques e peças de artilharia de uma importante base no norte da Crimeia. Esses movimentos coincidem com a tomada de posição de tropas ucranianas na margem leste do Rio Dnipro, ao sul de Kherson.

A Otan afirma já ter entregado à Ucrânia mais de 1.550 veículos blindados, 230 tanques e outros equipamentos, além de “vasta quantidade de munição”, o que representaria 98% do prometido. Mais 30 mil soldados ucranianos foram treinados para compor nove brigadas novas de tanques de batalha.

Bonecas matryoshka russas retratam Xi Jinping (E) e Vladimir Putin, em loja de souvenirs em Moscou  Foto: Dmitry Serebryakov/AP 21/3/2023

Zelenski reafirma o objetivo de liberar todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia, anexada em 2014. A Ucrânia não terá segurança nem viabilidade econômica com a Crimeia em poder dos russos. A base naval de Sebastopol é instrumental no bloqueio russo, imposto desde dezembro de 2021, aos mares Negro e de Azov, por onde passava 80% do comércio ucraniano. A península é a ponta de lança da ocupação terrestre do sul da Ucrânia.

A batalha da Crimeia pode se tornar a mais sangrenta na Europa desde a 2.ª Guerra. Putin chama a península de “terra santa”, por causa do simbolismo de sua invasão, em 1776, por Catarina, a Grande, na expansão do Império Russo.

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Xi oferece a Putin suporte econômico, político e militar – com exercícios conjuntos, envio de drones, fuzis e talvez mais. Por três motivos. A derrota russa na Ucrânia poderia levar à queda de Putin, à ascensão de um líder menos subserviente à China e à desestabilização da Rússia, que tem 4 mil km de fronteira com seu país.

As sanções converteram a Rússia em fornecedor de energia depreciada para a China e dependente de seu guarda-chuva econômico e político. A guerra ganhou a conotação de teste de força e eficiência entre os sistemas democrático e autocrático. A derrota desse último seria uma derrota de Xi.

O ditador chinês não assume abertamente a aliança com a Rússia porque ainda nutre esperanças de manter relações com a Europa, de se projetar como árbitro do conflito, de participar da reconstrução da Ucrânia e de liderar o Sul global.

A complacência chinesa com a Rússia intimida muitos países do Sul a não denunciar a invasão e inspira outros tantos, como o Brasil, a ver nisso uma “altivez” perante o colonizador ocidental. Quando o colonialista, nesse caso, é a Rússia. l

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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