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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | Nomeações de Donald Trump ameaçam os EUA, enfraquecem a democracia e esfacelam o Partido Republicano

Indicações para inteligência nacional, secretaria de Defesa e Procuradoria-geral visam a capturar as instituições do Estado tradicionalmente protegidas do uso político-partidário

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Atualização:

As nomeações de Donald Trump para a Direção Nacional de Inteligência (DNI), o Pentágono e a Procuradoria-Geral visam a capturar as instituições do Estado tradicionalmente protegidas do uso político-partidário. Os potenciais efeitos são o enfraquecimento da democracia, ganhos para os inimigos dos Estados Unidos e esfacelamento do Partido Republicano.

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Indicada para supervisionar as 16 agências de inteligência, Tulsi Gabbard tem encampado posições da Rússia e da Síria. Em 2017, a então deputada democrata se reuniu com o ditador sírio Bashar Assad embora os EUA tivessem rompido relações com o regime. Ela repetiu os desmentidos da Rússia, que apoia a Síria, do uso de armas químicas do regime sírio contra seu próprio povo.

Depois da invasão da Ucrânia em 2022, Gabbard compartilhou um vídeo alertando que patógenos poderiam vazar de laboratórios da Ucrânia. A teoria conspiratória sem comprovação era espalhada pela máquina de propaganda russa para pressionar por um cessar-fogo e congelar o conflito com os territórios abocanhados pela Rússia. O então deputado republicano Adam Kinzinger a acusou de “traição” por aderir a “propaganda russa”. O então senador republicano Mitt Romney disse que ela estava “papagaiando propaganda russa falsa”.

A CIA, a Agência de Segurança Nacional (NSA) e o FBI concluíram que a Rússia interferiu em favor de Trump nas eleições de 2016. Depois de uma reunião com Vladimir Putin em 2018, Trump disse que acreditava na garantia do presidente russo de que essa interferência não ocorreu, contra as conclusões das agências americanas.

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Funcionários da DNI disseram à revista Newsweek que temem que Gabbard interfira nas agências de inteligência em favor da Rússia, e que pretendem pedir demissão se a nomeação for confirmada.

O indicado para chefiar o Pentágono, Pete Hegseth, tem se dedicado a uma cruzada contra a diversidade sexual e racial nas Forças Armadas, chamada “cultura woke”. Ele é coautor do livro Batalha pela Mente Americana: Desenraizando um Século de Deseducação, em que denuncia os “sabotadores da justiça social” como “mais perigosos que os inimigos” dos EUA.

Donald Trump com o apresentador da Fox News Pete Hegseth em 2017. Hegseth foi nomeado para secretário de Defesa de Trump. Foto: Andrew Harnik/AP

Trump quis usar as Forças Armadas para reprimir os protestos contra o assassinato de George Floyd em 2020, mas os comandantes se opuseram. No ano seguinte, negaram apoio à tentativa de golpe do então presidente, derrotado nas urnas. Ele se refere ao aparato de inteligência, de defesa e de justiça como “o Estado profundo”, que conspira contra ele e contra o povo, cujos interesses personifica.

De acordo com The Wall Street Journal, Trump estuda criar um “conselho de guerreiros”, formado por generais da reserva alinhados com ele. Sua função seria expurgar oficiais “desleais” a Trump, apelidados “generais woke”.

O primeiro da lista seria o chefe do Estado-Maior Conjunto, brigadeiro CQ Brown Jr. Durante os protestos pela morte de Floyd, o brigadeiro lembrou como foi difícil escalar as patentes da Força Aérea como um piloto negro. Trump detestou a observação. Esse possível cenário de triagem ideológica aterroriza oficiais da ativa, que temem a politização das Forças Armadas, segundo o WSJ, um jornal conservador.

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Hegseth convenceu Trump em 2019 a indultar os majores do Exército Mathew Golsteyn e Clint Lorance, condenados por assassinatos, e o sargento Edward Gallagher, da unidade de elite Seal da Marinha, considerado culpado de posar para uma foto com o cadáver de um iraquiano suspeito de pertencer ao Estado Islâmico. Os indultos presidenciais contrariaram os comandantes das forças, que desejavam punir esse tipo de comportamento.

Trump pretende entregar o Departamento de Justiça para Matt Gaetz, que defende abolir esse ministério e também o FBI, a ele subordinado, a menos que “se submetam”.

Ao ser indicado por Trump, Gaetz renunciou à cadeira de deputado, no momento em que a Comissão de Ética da Câmara ia votar se tornava públicos os resultados de investigações sobre as denúncias contra ele por sexo com menor de idade e uso de drogas ilícitas. O presidente da Câmara, Mike Johnson, recusa-se a levar a votação adiante, depois da indicação e renúncia de Gaetz.

“Há um motivo para ninguém tê-lo defendido”, disse à CNN no ano passado Markwayne Mullin, senador republicano conservador. Segundo o senador, Gaetz teria se exibido no plenário da Câmara mostrando para congressistas vídeos das meninas com quem teria tido sexo. Gaetz nega as acusações.

Essas nomeações serão submetidas a sabatina no Senado, onde os republicanos terão maioria. Aparentemente, Trump pretende constranger a própria bancada a um ato final de submissão, e assim já começar o governo demonstrando seu poder incontestável.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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