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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|O ano-novo deve ser de instabilidade; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

Quatro fatores devem ser considerados para analisar 2023: a guerra na Ucrânia, a oferta de energia, a explosão de covid na China e a inflação e os juros

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Foto do author Lourival Sant'Anna

Para desenhar o cenário de 2023, é preciso olhar para quatro fatores interligados: o curso da guerra na Ucrânia, a oferta de energia, a explosão de covid na China e a inflação e os juros. A imprevisibilidade é considerável, porque as dinâmicas dependem, em parte, das escolhas de dois autocratas: Vladimir Putin e Xi Jinping. Ditaduras são mais erráticas do que as democracias.

Bombeiro ucraniano trabalha após um ataque com foguete em Kramatorsk, no leste da Ucrânia Foto: Kostiantyn Liberov / AP

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O andamento da guerra na Ucrânia dependerá de Putin levar adiante a grande ofensiva prevista pelo comando militar ucraniano. E, uma vez deslanchada, que amplitude e sucesso alcançará. A partir de tudo o que observamos este ano, a eventual ofensiva russa não deverá mudar o resultado final, a provável vitória ucraniana. Mas poderá adiar esse desfecho.

Outro aspecto fundamental que o conflito já não vai mais alterar é a disponibilidade de energia. A Rússia garantiu a condição de pária internacional, enquanto Putin estiver no poder. Mesmo que as tropas russas se retirem, o que mais cedo ou mais tarde tende a ocorrer, as sanções contra a energia vão continuar, assim como o congelamento dos ativos, na forma de dívida de guerra.

Boa parte do gás que aquece hoje as casas europeias foi adquirido da Rússia antes das sanções. Mas a Europa continuará substituindo o gás e petróleo russos pelos de outros países, e por outras fontes de energia. O inverno não está sendo rigoroso no continente europeu, e isso ajuda a manter estoques.

Voltamos à opacidade de três anos atrás, quando o regime chinês escondia a real dimensão da covid. Não voltaremos a uma pandemia descontrolada. Mas a explosão de casos e mortes na China terá impacto sobre a economia do mundo e do Brasil, dado o peso das trocas comerciais e de investimentos entre ambos os países.

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Só poderemos medir o impacto quando soubermos se o surto produziu novas variantes e até onde Xi está disposto a ir com a decisão de não importar vacinas europeias e americanas, mais eficazes e que inspiram mais confiança nos chineses. A China desperdiçou esses três anos: não ampliou a rede hospitalar e o contingente de profissionais de saúde.

No restante do mundo, o fim da pandemia levou a um choque de demanda sem que a oferta pudesse acompanhar. A redução do consumo de gás e petróleo da Rússia e de cereais da Ucrânia causou um segundo choque de oferta. O resultado foram índices de inflação e taxas de juros que não se viam por décadas.

Tudo considerado, 2023 será um ano de instabilidade, pressão inflacionária e desaceleração econômica. Prudência, lucidez, responsabilidade e confiabilidade serão de grande valia.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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