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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | O papel da Rússia na crise entre Armênia e Azerbaijão; leia a análise

A tomada de Nagorno-Karabakh pelo Azerbaijão e a fuga em massa da população armênia são mais um capítulo da perda de influência da Rússia

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A tomada de Nagorno-Karabakh pelo Azerbaijão e a fuga em massa da população armênia do enclave são mais um capítulo da perda de influência da Rússia depois da invasão da Ucrânia.

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Além da tragédia humana envolvendo os 120 mil armênios que moravam ou ainda moram no território, a assertividade do Azerbaijão e da Turquia incentiva a Armênia a se aproximar da Europa e dos Estados Unidos.

No período soviético, o Nagorno-Karabakh era uma região autônoma de maioria armênia dentro do Azerbaijão. Em 1988, quando o fim da União Soviética parecia iminente, a liderança local aprovou a incorporação do território à Armênia.

A vehicles carries refugees from Nagorno-Karabakhb as they arrive in Kornidzor, Armenia, on Monday, Sept. 25, 2023. After decades of wars and tense stalemates, almost no one saw it coming: Azerbaijan seized Nagorno-Karabakh from Armenian control seemingly overnight. (Nanna Heitmann/The New York Times) 

Seguiu-se uma guerra de seis anos, que matou 30 mil pessoas. A Rússia mediou um cessar-fogo, embora apoiasse a Armênia,-- como ela cristã ortodoxa, enquanto o Azerbajião é muçulmano e etnicamente túrquico.

O governo russo assegurou o controle do território à Armênia. A comunidade internacional continuou reconhecendo a soberania do Azerbaijão sobre o Karabakh, já que fronteiras não podem ser mudadas à força.

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Depois de quase três décadas de conflitos esporádicos, o Azerbaijâo lançou uma ofensiva militar no dia 27 de setembro de 2020, com apoio da Turquia, que historicamente disputa influência com a Rússia sobre as nações túrquicas do Sul do Cáucaso e da Ásia Central. Depois de 44 dias de guerra, chegou-se a um cessar-fogo mediado pela Rússia, que enviou novamente “forças de paz” para o território.

O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, eleito em 2018 depois de liderar uma revolta popular contra políticos pró-Rússia, alguns deles chefes de milícias do Karabakh, tentou se aproximar dos Estados Unidos e da União Europeia.

A movimentação foi vetada por Vladimir Putin. As escaramuças continuaram. Os militares dos dois lados sentiram no terreno que, sobretudo depois de invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia se desengajou. Putin passou a depender do Azerbaijão, situado entre Rússia e Irã, que lhe fornece drones.

Ao mesmo tempo, a União Europeia passou a ver o gás do Azerbaijão como substituto ao russo, alvo de sanções. Quando estive em Baku em maio do ano passado, analistas e integrantes do governo, como o embaixador Elchin Amirbayov, assessor da vice-presidente e primeira-dama Mehriban Aliyeva, falaram com otimismo dessa perspectiva.

A truck with refugees on board rides on the road between Kornidzor and Goris on September 28, 2023. More than 65,000 Armenians have fled Nagorno-Karabakh for Armenia, Yerevan said on September 28, 2023, as the exodus continued from the breakaway enclave which Azerbaijan recaptured last week in a lighting offensive. (Photo by ALAIN JOCARD / AFP) 

Apurei que o Azerbaijão ofereceu fertilizantes ao Brasil no final de 2021, mas foi ignorado pelo Palácio do Planalto, que se esforçava em justificar a visita do então presidente Jair Bolsonaro a Putin, realizada oito dias antes da invasão da Ucrânia.

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No dia 19 de setembro, o Azerbaijão tomou o controle do território, depois de submetê-lo a um bloqueio de dez meses. À população armênia foi dada a escolha de adotar a cidadania azerbaijana ou partir. Mais de dois terços já se refugiaram na Armênia.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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