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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | Sem honrar compromissos com aliados dos EUA, Trump pode beneficiar seus adversários

Em cenário turbulento, perda de credibilidade americana tende a atrair novos países para influência da China

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Foto do author Lourival Sant'Anna

A partir do que se sabe hoje, 2025 será marcado por uma guerra de tarifas, uma complexa negociação para o fim da guerra Rússia-Ucrânia, o fortalecimento das alianças na Europa e na Ásia-Oceania, Israel em posição de força e aumento de influência da China.

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Donald Trump, que volta à Casa Branca no dia 20, vê os impostos de importação como arma para impor sua vontade. Tarifas desorganizam a cadeia global de valores e causam inflação, que induz ao aumento de juros e a outras distorções na economia.

A principal prejudicada por essa política poderá ser, paradoxalmente, a indústria americana, que depende de componentes fabricados em países visados por Trump, como China e México. As tarifas deslocarão fábricas para outras partes da Ásia e para os EUA, incorrendo em custos extras para os produtos.

Presidente eleito dos EUA, Donald Trump volta à Casa Branca em 20 de janeiro. Foto: Allison Robbert/Associated Press

Trump não pretende honrar os compromissos dos EUA com seus aliados, como Taiwan e Ucrânia, que se verá obrigada a negociar com a Rússia, que ocupa um quinto de seu território. A Europa, por sua vez, tentará a todo custo evitar que essa retirada do apoio americano represente um incentivo para invasões russas no futuro.

Os presidentes da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e da França, Emmanuel Macron, discutiram com Trump as condições para um eventual acordo com a Rússia, durante a reinauguração da Catedral de Notre Dame, em 7 de dezembro. Ela inclui a mobilização de soldados europeus – Zelenski gostaria de incluir americanos, mas é improvável que Trump aceite – para monitorar a resultante linha de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia.

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Isso representa um guarda-chuva da Otan à Ucrânia contra as agressões russas. Embora não seja o mesmo que a proteção completa da aliança, é um passo nessa direção. O desengajamento de Trump reforçará os arranjos de defesa da Europa com Japão, Coreia do Sul, Austrália e Índia, ameaçados por China e, nos dois primeiros casos, Coreia do Norte, aliadas da Rússia.

A perda de credibilidade americana atrairá novos países para o guarda-chuva da China. Taiwan estará mais vulnerável a uma invasão chinesa.

A volta de Trump dará maior liberdade para Israel atuar na Faixa de Gaza, sem as pressões dos EUA, que lhe fornecem US$ 3,8 bilhões em ajuda militar anual, com poder de veto sobre o uso de suas armas. Trump brindará Israel com apoio incondicional.

Israel já está em situação de força, com a degradação dos arsenais do Hamas e do Hezbollah e consequentemente o enfraquecimento do Irã, consumado na queda de seu aliado, Bashar Assad, na Síria. Isso incentivará o Irã a avançar em seu programa nuclear, com ajuda da Rússia, que usa seus drones e foguetes contra a Ucrânia.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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