O episódio do compartilhamento de planos de ataques contra o Iêmen em um grupo na plataforma de mensagens Signal, no qual um jornalista foi acidentalmente incluído pelo conselheiro de Segurança Nacional, com as principais autoridades de defesa, inteligência e política externa, é mais uma prova do amadorismo e irresponsabilidade do governo de Donald Trump.
Duas horas antes dos ataques contra a milícia pró-iraniana Houthis, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, compartilhou no grupo de 19 pessoas os detalhes da operação: caças F-18 Super Hornet decolariam, mísseis Tomahawk seriam disparados do mar, drones seriam empregados. A identidade de um agente secreto da CIA foi revelada.
Os houthis sabem que os F-18 decolam do porta-aviões Harry S. Truman, no Mar Vermelho, onde já atacaram navios americanos. O grupo dispõe de sofisticados sistemas antiaéreos, que já lhe permitiram por exemplo abater grandes drones MQ-9 Reaper. Se essas informações tivessem chegado aos inimigos, eles poderiam ter derrubado os aviões, atingido os navios e escondido os alvos visados pelo ataque.

Hackers chineses já invadiram celulares de autoridades americanas, incluindo o do vice-presidente JD Vance, que participava do grupo. Agentes russos também têm essa capacidade, e já compartilharam inteligência com os houthis. A China e a Rússia são aliadas do Irã, que patrocina a milícia xiita do Iêmen.
Um dos integrantes do grupo, Steve Witkoff, enviado de Trump para o conflito Rússia-Ucrânia, estava em Moscou. De acordo com as normas americanas, funcionários com acesso a informações sensíveis só podem se comunicar de uma sala protegida da embaixada dos EUA em Moscou, por causa da rotina de interceptações russas.

Vulnerabilidade
Os EUA nunca se colocaram, por iniciativa própria, numa condição tão vulnerável. A abrupta degradação é a consequência esperada da falta de qualificação do presidente e de seus principais auxiliares, de seu desprezo pela expertise profissional e por regras alicerçadas na experiência.
Como escrevi na minha coluna de 17 de novembro, Tulsi Gabbard, a diretora de Inteligência Nacional, reuniu-se em 2017, quando era deputada democrata, com o então ditador sírio Bashar Assad, inimigo dos EUA, e defende as teorias da Rússia contra a Ucrânia.
Saiba mais
Hegseth foi escolhido porque Trump gostava de seu desempenho como comentarista da Fox News. Em entrevista a esse canal, Witkoff não conseguiu lembrar o nome de nenhuma das quatro regiões ucranianas que Putin quer anexar: Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, e ainda as confundiu com a Crimeia.
Os inimigos do Ocidente mal podem acreditar na sua sorte.