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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | Uma nova geopolítica, o mesmo Lula; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

Nos dois primeiros mandatos de Lula, era possível o Brasil se manter equidistante dos conflitos, mas aquele mundo não existe mais

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Os ataques contra as sedes dos três Poderes em Brasília têm implicações geopolíticas. A onda de solidariedade ao Brasil por parte dos principais governos democráticos vem acompanhada da expectativa de que o presidente Lula entenda que os tempos mudaram, que se está formando uma aliança de países democráticos contra um bloco autoritário. Nesse campo de batalha, o espaço para a neutralidade está encolhendo rapidamente.

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No dia seguinte aos ataques, o presidente Joe Biden ligou para prestar apoio a Lula, e conversaram por 10 a 15 minutos. O francês Emmanuel Macron, de centro-direita, o alemão Olaf Scholz, de centro-esquerda, o britânico Rishi Sunak, de centro-direita, o espanhol Pedro Sánchez, de esquerda, e até a italiana Giorgia Melloni, cujo partido é herdeiro do fascismo, manifestaram solidariedade a Lula e repúdio ao autoritarismo.

Em 2 de dezembro, Lula disse que, na sua reunião com Biden na Casa Branca, prevista para fevereiro, vai tratar dos ataques à democracia feitos por Donald Trump e por Jair Bolsonaro: “Temos muita coisa para conversar porque EUA e Brasil padecem de uma necessidade democrática”.

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em café com jornalistas no Palácio do Planalto em Brasilia-DF Foto: Wilton Junior/Estadão

Desde então, os assuntos só se avolumaram, com mais evidências de que bolsonaristas seguem fielmente a cartilha trumpista. Entretanto, na mesma entrevista coletiva, Lula declarou: “Nós vamos conversar sobre a relação Brasil-EUA e o papel do Brasil na geopolítica mundial. Quero falar com ele da guerra da Ucrânia, que não há necessidade de ter guerra”.

Lula parece não entender que isso precisa ser dito a Vladimir Putin. O tom dessa e de outras declarações indica que ele responsabiliza os EUA ao menos em parte pela guerra.

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Na declaração mais absurda de um líder político – que não Putin – sobre o tema, Lula disse em maio à revista Time que o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, quis a guerra, e é preciso dizer a ele: “OK, você é um bom comediante. Mas não vamos fazer guerra para você aparecer na TV”.

Os vídeos de Zelenski e sua atuação como um todo são incansavelmente elogiados na Europa e nos EUA. Sem esse papel de liderança, os ucranianos não teriam dado o maior exemplo de resistência, de amor à liberdade e à democracia testemunhado desde a 2.ª Guerra. Ao mesmo tempo em que defende a democracia no Brasil, Lula parece não entender que os ucranianos estão derramando sangue precisamente pela mesma causa.

Nos dois primeiros mandatos de Lula, era possível o Brasil se manter equidistante entre EUA, Europa, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Austrália, de um lado, e China, Rússia, Irã, Coreia do Norte, Cuba e Venezuela, de outro. Aquele mundo não existe mais.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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