Lucro da Rússia com o petróleo vai às alturas apesar das sanções, constata estudo

Rússia ganhou 93 bilhões de euros com combustíveis fósseis nos primeiros cem dias de guerra, um valor recorde para o país

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Por Hiroko Tabuchi

A invasão russa à Ucrânia ocasionou condenações por todo o mundo e duras sanções destinadas a abalar o cofre de guerra de Moscou. Ainda assim, a renda da Rússia com combustíveis fósseis, de longe seu maior produto de exportação, atingiu recordes nos primeiros cem dias de sua guerra contra a Ucrânia, ocasionados por lucros inesperados nas vendas de petróleo em meio a preços cada vez mais altos, segundo demonstra uma nova análise.

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A Rússia ganhou 93 bilhões de euros, muito provavelmente um recorde, com suas exportações de petróleo, gás natural e carvão nos primeiros cem dias de sua invasão à Ucrânia, de acordo com dados analisados pelo Centro para Pesquisa sobre Energia e Ar Limpo, uma entidade de pesquisa com base em Helsinki. Cerca de dois terços desses ganhos, o equivalente a cerca de US$ 97 bilhões, vieram do petróleo, e a maior parte do restante, do gás natural.

“O índice atual de lucro não tem precedentes, porque os preços não têm precedentes, e os volumes de exportação estão próximos aos níveis mais altos em seu registro”, afirmou Lauri Myllyvirta, analista que liderou a análise do instituto.

Imagem do dia 27 de abril deste ano mostra sede da Gazprom, gigante estatal russa, em Moscou. Apesar de sanções ao petróleo russo, estatal conseguiu lucros recordes durante a guerra Foto: Kirill Kudryavtsev/ AFP

Exportações de combustíveis fósseis possibilitam de maneira crucial a movimentação militar da Rússia. Em 2021, a receita produzida somente pelo petróleo e pelo gás correspondia a 45% do orçamento federal da Rússia, de acordo com a Agência Internacional de Energia. A receita das exportações de combustíveis fósseis da Rússia supera o que o país está gastando em sua guerra na Ucrânia, estimou o centro de pesquisa, uma constatação preocupante enquanto o momento favorece a Rússia à medida que suas forças colocam o foco sobre importantes alvos regionais, em meio a faltas de armamentos entre os soldados da Ucrânia.

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Autoridades ucranianas pediram que países e empresas cancelem completamente o comércio que mantêm com a Rússia.

“Estamos pedindo ao mundo que faça todo o possível para extirpar de Putin e sua máquina de guerra todo financiamento possível, mas isso está demorando demais”, afirmou de Kiev Oleg Ustenko, um dos conselheiros econômicos do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, sobre o presidente russo, Vladimir Putin.

A Ucrânia também tem rastreado as exportações da Rússia, e Ustenko classificou os números apresentados pelo centro de pesquisa como estimativas conservadoras. Ainda assim, a constatação subjacente é a mesma, afirmou ele: os combustíveis fósseis continuam a financiar a guerra da Rússia.

“Conseguimos parar de importar caviar russo ou vodca russa, e isso é bom, mas definitivamente insuficiente. Precisamos parar de importar o petróleo russo”, afirmou ele.

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Usina da companhia de Evonik, em Wesseling, Alemanha, em imagem do dia 6 de abril. País é um dos maiores dependentes de energia fóssil da Rússia, mas impôs sanções contra Moscou em retaliação à guerra Foto: Martin Meissner/AP

Apesar de as exportações de combustíveis fósseis da Rússia terem começado a diminuir um pouco em volume à medida que mais países e empresas evitam negócios com Moscou, os preços em alta mais que compensaram os efeitos desse declínio. A pesquisa constatou que os preços das exportações da Rússia de combustíveis fósseis estiveram em média 60% mais elevados em relação ao ano passado, mesmo levando-se em conta o fato de que o petróleo russo está alcançando um preço cerca de 30% mais baixo em relação aos valores praticados no mercado internacional.

A Europa, particularmente, tem tido dificuldade para se livrar da energia russa, enquanto muitos países enviam ajuda militar à Ucrânia. A União Europeia avançou em reduzir suas importações de gás natural da Rússia, comprando 23% menos nos primeiros cem dias da invasão em comparação com o mesmo período no ano anterior. Ainda assim, o lucro da Gazprom, a gigante estatal russa de gás natural, foi o dobro em relação ao ano anterior graças aos preços mais altos do gás, constatou o Centro para Pesquisa sobre Energia e Ar Limpo.

A UE também reduziu suas importações de petróleo russo, que diminuíram 18% em maio. Mas essa queda foi compensada pela Índia e pelos Emirados Árabes Unidos, deixando inalterado o volume de exportações russas, segundo constatou a pesquisa. Os indianos se tornaram importadores significativos do petróleo da Rússia, comprando cerca de 18% das exportações do país nesse período de cem dias.

Os Estados Unidos reduziram os ganhos da Rússia ao banir todas as suas importações de combustíveis fósseis russos. Mas mesmo assim, os EUA ainda importam derivados refinados de petróleo de nações como Países Baixos e Índia, que muito provavelmente são fabricados com petróleo russo, e assim os americanos continuam comprando indiretamente dos russos.

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Em geral, a China foi a maior importadora de combustíveis fósseis da Rússia nesse período de cem dias, superando Alemanha, Itália e Países Baixos. A China importou mais petróleo; o Japão foi o maior comprador do carvão russo.

Banimentos mais rígidos estão a caminho. No fim do mês passado, a UE concordou em aplicar um embargo que abrangerá aproximadamente três quartos das exportações marítimas de petróleo russo para a região, mas levará seis meses até que a medida entre em vigor. O Reino Unido afirmou que também eliminará gradualmente suas importações de petróleo da Rússia até o fim do ano. Mas Hungria, República Checa e Eslováquia, que recebem petróleo russo por oleodutos, não aderirão ao embargo. E embarcações europeias e americanas também continuarão a transportar petróleo russo.

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