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Opinião | Kamala cresce nos Estados-chave e põe Trump na defensiva com campanha ‘travessa’ que atrai jovens

Entrada da vice na campanha mobilizou a base do Partido Democrata e atraiu eleitores insatisfeitos com a candidatura de Biden

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Foto do author Luiz Raatz

Há cerca de um mês, Donald Trump se preparava triunfante para ser coroado candidato na Convenção Republicana. Poucos dias antes, escapara milagrosamente da morte graças a uma virada de pescoço que o salvou da AR-15 de um atirador na Pensilvânia. Seu rival, o presidente Joe Biden, se afundava em gafes e discursos desconexos depois de um debate muito ruim na Geórgia em junho. A expectativa de seus assessores era que Trump moderasse o tom no discurso e atraísse mais eleitores de centro para uma vitória cada vez mais inevitável.

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Em 21 de julho, no entanto, tudo mudou quando Biden cedeu à pressão da cúpula do Partido Democrata e desistiu da reeleição. A vice-presidente, Kamala Harris, assumiu seu lugar na cabeça de chapa, e num intervalo de pouco mais de 3 semanas virou (mais uma vez) a corrida presidencial de cabeça para baixo.

A entrada de Kamala na campanha mobilizou a base do Partido Democrata e atraiu eleitores insatisfeitos com a candidatura de Biden, principalmente os mais jovens e os hispânicos. A mudança veio também na comunicação. Apesar de manter parte da equipe do presidente, a linguagem da nova candidata nas redes e nos comícios se tornou mais leve.

Kamala Harris conversa com eleitores em Maryland Foto: Susan Walsh/AP

Brat x weird

Os comunicados de imprensa usam memes baseados na cultura pop, como o desenho animado Simpsons. Kamala também ganhou uma grande presença no TikTok, com vídeos dançando e reagindo a memes.

Um dos últimos vídeos da campanha, por exemplo, mostra um ator imitando um Trump um tanto transtornado dirigindo um ônibus escolar e repetindo as frases polêmicas que o ex-presidente vem falando em seus discursos.

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No entanto, o alcance da democrata chegou a outro patamar quando ela recebeu o apoio da cantora Charli XCX. Numa postagem, ela disse que ‘Kamala é brat’, em uma brincadeira com seu último álbum, que tem esse mesmo nome.

Só que ‘brat’, em inglês, também quer dizer alguém travesso ou que se comporta mal. O apelido casou perfeitamente com a estratégia de Kamala e de seu companheiro de chapa, o governador de Minnesota, Tim Walz, de criticar os republicanos com o sarcasmo. As postagens e comunicados atacando Trump e seu vice, J.D. Vance, beiram a picardia. Ou seja, também são ‘brat’.

A primeira pecha que a democrata conseguiu colar nos republicanos é que eles são “esquisitões” e “bizarros”. Contribuíram para isso as frequentes declarações non sense de Trump, como quando ele trata Hannibal Lecter, personagem de O Silêncio dos Inocentes, como uma pessoa real, ou as falas de J.D. Vance sobre os EUA serem comandados por ‘um bando de tias dos gatos sem filhos’.

Vance tentou se explicar. Disse que estava sendo sarcástico e ninguém entendeu. Trump devolveu chamando Kamala de ‘uma mulher desagradável’. E os republicanos começaram a dar uma série de entrevistas para explicar que não são esquisitos nem bizarros.

Bullying democrata

Como qualquer pessoa que sofreu com um apelido na escola sabe, quando você responde um bullying, a situação só piora. E piorou.

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Trump colocou em dúvida a negritude de Kamala em uma entrevista a jornalistas negras, o que irritou parte do eleitorado feminino, que ele desesperadamente precisa para vencer a eleição. Nas últimas semanas, ele tem se irritado com o tamanho dos comícios da rival e diz que ele atrai muito mais pessoas que ela quando discursa, o que não é verdade.

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Do outro lado, uma sensação de esperança tomou os democratas em uma eleição que parecia perdida. As multidões nos comícios são cada vez maiores. Segundo uma pesquisa do Cook Political Report divulgada esta semana, 91% dos eleitores que votaram em Biden em 2020 pretendem votar em Kamala este ano. Para efeito de comparação, apenas 81% de quem havia votado no presidente na última eleição pensavam em dar um novo voto a ele em 2024. É muito.

O avanço de Kamala e as trapalhadas de Trump estão se refletindo nas pesquisas de opinião. A democrata já superou o republicano nos levantamentos a nível nacional, que medem a intenção de voto popular. Kamala também já está tomando a dianteira nos Estados-pêndulo, que decidem a disputa no colégio eleitoral.

Salada de números

Segundo a pesquisa da Cook Political Report, ela lidera em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, os principais alvos dos democratas para vencer a eleição, e graças a seu bom desempenho entre os eleitores hispânicos, já tem vantagem no Arizona. Ele também está empatada com Trump na Carolina do Norte, e na Geórgia. Trump lidera em Nevada.

Trocando em miúdos, se Kamala tiver todos os Estados que tradicionalmente votam nos democratas, ela ficaria com 226 delegados. Vencendo em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, ela chega ao número de 270 delegados necessários para vencer a eleição.

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Trump, por sua vez, com os Estados que já votam normalmente nos republicanos, teria 210 delegados. Mesmo que ele vença Carolina do Norte, Geórgia e Nevada e Arizona, chegaria no máximo a 259 delegados.

Ou seja, enquanto Kamala precisa de três Estados-pêndulo que já lidera para vencer, Trump precisa de cinco, e só lidera em um.

Novos embates

Diante deste cenário, o desespero já bateu entre alguns assessores de Trump. O ex-presidente tinha uma missão relativamente fácil nessa eleição. Embora a economia americana esteja se recuperando após a pandemia e a inflação esteja controlada, a população ainda sente que o custo de vida segue muito alto. Desde a entrada de Kamala na campanha, Trump não consegue focar nessa mensagem.

A Convenção Democrata, que começa na semana que vem em Chicago, deve dar mais uma oportunidade para Kamala sedimentar essa vantagem nas pesquisas. A esperança de Trump é usar o debate de 7 de setembro para reverter o cenário.

Ele precisa de um desempenho igual ao que teve contra Biden em junho para reequilibrar a disputa. O problema é que terá uma nova rival do outro lado.

Opinião por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina, Estados Unidos e Oriente Médio.

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