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Análise|‘Momento Nixon’ de Biden em debate vira problemaço para democratas em eleição cheia de incertezas

Se tanto o democrata quanto o republicano têm questões relacionadas à idade avançada, a imagem que cada um passou hoje é totalmente oposta

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Foto do author Luiz Raatz
Atualização:

Uma das histórias mais famosas das eleições nos Estados Unidos é o primeiro debate televisionado da história, entre John F. Kennedy e Richard Nixon, em 1960. Um Nixon nervoso, suado e com a barba mal feita teve um desempenho muito ruim diante do senador de Massachusetts, fotogênico, firme e comunicativo. Para muitos, esse desempenho ruim custou aos republicanos a eleição. O duelo entre os dois virou uma espécie de dogma ao longo das décadas: na política americana, imagem é tudo e é mais importante parecer do que ser.

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Na noite desta quinta-feira, o presidente Joe Biden teve um momento similar, que colocou muitas barbas do Partido Democrata de molho. Se tanto Biden quanto Trump têm questões relacionadas à idade avançada, a imagem que cada um passou hoje é totalmente oposta.

Biden, de 81 anos, se comunicou mal e transpareceu fragilidade. Estava rouco e nervoso. Chegou a perder a linha de raciocínio em duas oportunidades. Aparentava um ar perdido. Trump, de 78, em alguns eventos de campanha trocou palavras e confundiu personagens, mas nesta noite, estava afiado. Mentiu, também, é verdade. Mas projetou força e confiança e isso fez toda a diferença para sua vitória.

Ou seja, como ensina o duelo entre Nixon e JFK, não importa se Trump não apresentou propostas viáveis ou falou platitudes. O que fica é a imagem de Biden como um velhinho.

Biden participa de debate com Donald Trump Foto: Marco Bello/REUTERS

Desespero democrata?

A reação imediata da cúpula democrata foi de desespero. Líderes do partido disseram nos bastidores que o debate foi um desastre para Biden e, basicamente, eles estão perdidos em novembro. Fala-se até em substituir a candidatura do presidente, o que seria no mínimo incomum a esta altura do campeonato.

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Além da primazia de tentar uma nova candidatura por ser o ocupante da Casa Branca, Biden foi o escolhido nas primárias. Uma reviravolta teria passar, evidentemente, pela sua concordância, e também pelo cálculo político. Que sinal uma troca em cima da hora passaria aos eleitores democratas e independentes, já razoavelmente desmobilizados?

Trump começou o debate concentrado em atacar Biden em três eixos: a economia, a imigração e a política externa. Expôs as linhas gerais do que pretende fazer se retornar à Casa Branca: cortar impostos, taxar importações, proibir a entrada de imigrantes e projetar sua imagem de homem forte externamente.

Num de seus pontos fracos perante eleitores independentes, a questão do aborto, se disse a favor de manter o direito a remédios abortivos e a favor da medida quando a vida da mãe está em risco.

Bateu duramente no democrata nos temas da imigração e de política externa, sobretudo na caótica retirada do Afeganistão, um dos pontos fracos do governo de Biden.

Já o democrata aparentou ‘congelar’ em uma resposta sobre o sistema de seguros de saúde dos Estados Unidos e perdeu a linha de raciocínio.

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Biden também começou perdido na intervenção sobre aborto e perdeu a oportunidade de dialogar com essas eleitoras, ao falar do fim da jurisprudência da Suprema Corte que dava direito federal ao aborto no país e foi derrubada em 2022.

O presidente melhorou no segundo bloco, sobretudo quando atacou Trump por sua condenação criminal no caso Stormy Daniels. Acuado, Trump recorreu a declarações falsas - foram 15 segundo a checagem do NYT, mas não o suficiente para perder o debate.

Trump reage durante debate com Biden Foto: Gerald Herbert/AP

Dúvidas pela frente

O único ponto positivo da noite para os democratas é que o debate, ao contrário do que é comum, ocorreu em junho e não em outubro, como costuma acontecer. Há tempo para correção de rotas. O problema do Partido Democrata é que hoje há também mais dúvidas que certezas sobre qual caminho seguir.

Se por um lado Biden demonstrou fragilidade, é verdade também que seu caminho no colégio eleitoral é mais fácil que o de Trump, mesmo ele estando atrás nas pesquisas. O democrata precisa vencer em três Estados-chave apenas para garantir os 270 votos que lhe dariam a reeleição: Michigan, Wisconsin e Pensilvânia.

Trump precisa tirar Nevada, Geórgia e Arizona dos democratas, onde lidera nas pesquisas, manter a Carolina do Norte e ainda vencer em um desses Estados da região dos Grandes Lagos, onde a situação hoje é de empate técnico.

Para aumentar a volatilidade da disputa, o republicano recusou-se no debate a aceitar sem contestar o resultado da eleição. Disse que só o reconheceria “se ele for justo”.

Análise por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina e Oriente Médio.

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