EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Escreve toda semana

Opinião | Trump, Putin e mais: quem são os líderes mundiais que saem ganhando de 2024

Líderes populistas ganham espaço em vários pontos do planeta, seja pelas urnas, seja pelas armas

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Raatz

Este foi o ano em que a maior parte da população do planeta foi às urnas. Mais de 60 países organizaram votações, algumas livres, como nos Estados Unidos. Outras apenas de fachada, como na Venezuela.

PUBLICIDADE

Além disso, 2024 também foi um dos anos mais violentos dos últimos tempos. As guerras em Gaza, e na Ucrânia, para ficar nos conflitos mais graves, seguem sem solução à vista. E em meio a tudo isso um perfil específico de líder político sai fortalecido deste ano conturbado.

De uma maneira ou de outra, pelas armas ou pelas urnas, populistas ganharam relevância este ano. Donald Trump se reelegeu nos EUA prometendo protecionismo, isolacionismo e nativismo. Em miúdos, o republicano promete mais tarifas, menos imigrantes e um afastamento dos tradicionais aliados americanos em troca de um mote republicano muito famoso nos anos 30: América em primeiro lugar.

Putin em evento em Moscou Foto: Kristina Kormilitsyna/AFP

Marine Le Pen não conseguiu a maioria no Parlamento que lhe permitiria enfraquecer Emmanuel Macron na segunda metade do seu mandato graças à união da esquerda e do centro em torno de uma frente ampla contra a direita radical. Mas Macron tentou driblar o resultado da eleição e negar à esquerda a chefia de governo, fazendo um acordo com a própria Marine, que bancou seu premiê, Michael Barnier. Meses depois, retirou o apoio ao primeiro-ministro e enfraqueceu Macron uma vez mais.

Binyamin Netanyahu, que antes dos atentados do Hamas queria enfraquecer os freios e contrapesos da democracia israelenses com uma reforma judicial que o ajudasse a escapar da Justiça, derrotou o Hamas, moveu uma campanha militar que desmobilizou o Hezbollah, trocou ataques com Teerã e agora avança sobre a Síria, com a justificativa de aniquilar o arsenal do regime Assad, e ao mesmo tempo, consolidando a ocupação do Golan.

Publicidade

Já Vladimir Putin conseguiu pequenas, mas importantes vitórias na guerra de atrito contra a Ucrânia, apesar de todo investimento ocidental em armas e dinheiro para Volodmir Zelenski. A vantagem militar somou-se a vitórias políticas, sobretudo com a vitória de Trump em Washington e a perda de apoio parlamentar de Olaf Scholz, em Berlim, e Macron, em Paris. Com isso, está em condições de negociar um acordo vantajoso para desmembrar a Ucrânia num possível cessar-fogo.

Desde a crise de 2008, a ordem mundial do pós-Guerra Fria vive em xeque. O mundo idealizado depois da queda do Muro de Berlim, onde os Estados Unidos seriam a única superpotência de um mundo globalizado e interligado, com China e Rússia incluídos nessa nova dinâmica de promoção se mostrou uma miragem.

A China ascendeu ao status de superpotência, mas seu Partido Comunista é mais fechado e sectário hoje, sob Xi Jinping, que na época de Jiang Zemin e Hu Jintao. Ou seja, a liberalização econômica não veio acompanhada de reformas políticas. Sob Putin, a Rússia se levantou contra a expansão da União Europeia e da Otan para o leste e hoje se tornou uma ameaça militar não só para a Ucrânia, mas também para o Báltico e até mesmo países como a Polônia e a Romênia.

Somam-se ao eixo Moscou-Pequim outros atores perigosos, como o Irã e a Coreia do Norte, que têm enviado armas e até mesmo soldados para o front ucraniano.

Já a América dá cada vez mais sinais de desgaste. Os empregos industriais foram embora, o padrão de vida da população diminuiu. O Partido Republicano se tornou a legenda de um homem só: Trump e seu populismo de direita. Os democratas estão perdidos, já que abandonaram as pautas da classe trabalhadora em detrimento da defesa de uma agenda de direitos civis. E ao contrário dos rivais, não tem um líder capaz de conduzir o partido nos próximos anos.

Publicidade

Os americanos preferem se distanciar dos europeus e se isolarem a fazer frente à ameaça sino-russa. É preocupante. E 2025 dirá se a aposta foi correta.

Opinião por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina, Estados Unidos e Oriente Médio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.