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Opinião|Trump usa tom messiânico para projetar força em discurso de nomeação para disputar a Casa Branca

Republicano precisava mostrar moderação para tentar atrair os votos dos eleitores independentes que decidirão a eleição no colégio eleitoral

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Foto do author Luiz Raatz
Atualização:

O principal objetivo de Donald Trump no discurso com o qual aceitou a candidatura à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano nesta madrugada era mostrar moderação para tentar atrair os votos dos eleitores independentes que decidirão a eleição em Estados do colégio eleitoral.

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Antes mesmo de começar a falar, Trump reuniu toda a família no palco da convenção em Milwakee, no Estado de Wisconsin. Sua mulher Melania, que andava sumida, reapareceu. Todos os filhos estavam lá também. E até seus netos colaboraram na tentativa de fazer o ex-presidente parecer um vovô amoroso e empático.

Ao subir ao palco, o cenário estava montado com um painel representando a Casa Branca e fotos do atentado do último fim de semana, quando um atirador o feriu na orelha com um tiro de longa distância.

Trump, Melania, seu candidato a vice, J.D. Vance, e a mulher Asha Foto: Jim Watson/AFP

Ao começar seu pronunciamento, Trump quase sussurrava. Lembrou a experiência de quase morte de cinco dias atrás, e, em um tom messiânico, jurou ter escapado por intervenção divina. Agradeceu o apoio que recebeu após o ataque e disse que, se a bala estivesse meio centímetro mais para o lado, ele não estaria ali para contar a história.

“Me senti a salvo porque Deus estava comigo”, afirmou, ainda num tom de voz baixo e quase confessional. “Se eu não tivesse virado a cabeça no último segundo, não estaríamos juntos. Eu não deveria estar aqui.”

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Seguindo no script do discurso montado por seus assessores, Trump disse que não pretende ser o presidente de apenas metade dos americanos e prometeu não perseguir quem discordasse dele. Ele também pediu o fim da polarização e a divisão nos Estados Unidos.

Há uma razão para essa aparente moderação. Desde que deixou a Casa Branca, sempre que apostou na retórica mais virulenta, Trump perdeu. Nas eleições de meio de mandato de 2022, muitos de seus candidatos que embarcaram na retórica de contestar as eleições de 2020, foram derrotados, o que quase custou aos republicanos o controle da Câmara.

Agora, o Projeto 2025, como são chamadas uma série de medidas propostas por apoiadores do presidente para expandir o tamanho do Poder Executivo no governo federal e implementar uma agenda conservadora radical também assusta esses eleitores moderados que vão decidir a eleição.

Controle total

Para fortalecer o argumento de que pode ser uma força de união, o ex-presidente também mencionou como conseguiu unificar todo o Partido Republicano em torno de si. De fato, dissidentes que romperam com Trump, como o ex-governador Mitt Romney, o ex-presidente da Câmara Paul Ryan e a ex-deputada Lyz Cheney nem passaram perto do salão de convenções de Milwakee.

Quem antes o criticava, como os senadores Ted Cruz e Marco Rubio, agora o adulam. Seu próprio candidato a vice, J.D. Vance, que já o chamou de ‘Hitler americano’, ganhou a benção no palco para carregar a tocha do trumpismo nas próximas décadas. “Veremos você por aqui por muitos anos”, disse Trump sobre o vice, de 39 anos.

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Mas, mais além disso, Trump também reconstruiu toda a agenda republicana à sua imagem e semelhança. O livre-comércio deu lugar ao protecionismo, assim como os falcões da política externa republicana perderam espaço para um discurso isolacionista, que lembra mais a América do começo do século 20 que do pós- 2ª Guerra.

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Ao detalhar seus planos para um segundo mandato, ofereceu soluções simples para problemas que preocupam grande parte dos americanos, como a alta no custo de vida e o aumento da imigração ilegal.

Na economia, prometeu baixar a inflação e ao mesmo tempo cortar os juros. Também falou em diminuir a dívida pública e simultaneamente cortar impostos. E, para coroar a apresentação, prometeu deportar “milhões” de imigrantes ilegais.

As linhas gerais desses planos não são facilmente executáveis, no entanto. No primeiro mandato, Trump tinha prometido construir um muro na fronteira e fazer o México pagar por ele. Apenas 75 km de cercas novas foram feitas.

Na economia, a dívida pública aumentou e ele concedeu grandes isenções fiscais a empresários e americanos mais ricos, que acabaram não se convertendo numa criação de empregos robusta.

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Por fim, o discurso coroa a sequência de vitórias políticas e boas notícias que Trump tem recebido nos últimos meses. Ele fez um bom debate contra Biden, que jogou a campanha do rival numa crise que pode levar até à troca na chapa democrata. Ele contou com uma decisão da Suprema Corte que torna muito difícil que os processos criminais contra ele cheguem ao fim antes da eleição. E, claro, escapou da morte por meio centímetro graças a uma simples virada de pescoço.

Resta saber se um Trump pouco disposto à moderação contará com a sorte para obter os votos necessários para a vitória no colégio eleitoral. As pesquisas dizem que sim. Mas a saída de Biden da disputa pode mudar o cenário, faltando pouco mais de três meses para a eleição.

Opinião por Luiz Raatz

É jornalista formado pela PUC-SP. Subeditor de internacional do Estadão, tem 20 anos de experiência em coberturas na América Latina e Oriente Médio.

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