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Lula decide negociar encontro com Zelenski após pressão no G-7

Presidente do Brasil é pressionado a se reunir com o líder ucraniano no último dia da cúpula do G-7

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Foto do author Eduardo Gayer

ENVIADO ESPECIAL A HIROSHIMA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu negociar o encontro com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, após pressão das 7 principais democracias desenvolvidas do mundo reunidas na cúpula do G-7 em Hiroshima, no Japão. Lula vem sendo emparedado pelos países-membros do G-7 na cúpula em Hiroshima para confirmar o encontro.

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As tratativas entre os dois governos evoluíram nas últimas horas e a delegação brasileira sugeriu que o encontro aconteça no final da tarde deste domingo, 21, no horário local do Japão. A possível reunião, no entanto, ainda não está confirmada.

Até a noite de sábado, 20, Lula resistia ao encontro com o líder ucraniano, que veio ao G7 para tentar ampliar sua aliança na guerra contra a Rússia. De acordo com relatos, o presidente brasileiro ficou desconfortável com a pressão da comunidade internacional pela reunião bilateral diante da postura brasileira de manter neutralidade no conflito.

No entanto, Lula resolveu acenar positivamente para mostrar que está disposto a conversar com todos com o objetivo de negociar a paz.

Primeiro minisro do Vietnã, Pham Minh Chinh, premiê do Japão, Fumio Kishida, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, e o das Nações Unidas, António Guterres, em direção ao Memorial do PArque da Paz, em Hiroshima Foto: Takashi Aoyama/via Reuters

Na mnhã de domingo no Japão (noite de sábado no Brasil), no primeiro compromisso de domingo no G-7, Lula participou de uma homenagem às vítimas da bomba atômica lançada sobre Hiroshima em agosto de 1945, ao final da 2ª Guerra Mundial. A deposição de flores no Parque Memorial da Paz foi organizada pela cúpula e contou com a participação dos chefes de governo presentes, exceto Zelenski.

O evento foi fechado à imprensa e sem a realização de discursos. Existia a expectativa de que Zelenski pudesse participar da homenagem e, consequentemente, da “foto de família” tirada ao final do momento solene ao lado dos outros chefes de governo. O retrato fotografaria o líder ucraniano junto a Lula em um momento em que ainda não se sabia que o presidente brasileiro havia aceitado a proposta de uma reunião bilateral com Zelenski.

Lula pressionado no G7

A presença inesperada do presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, constrangeu o petista a aceitar o pedido por uma reunião bilateral, ao que ele resistia. Hoje, no último dia da cúpula, Lula encaixou um encontro com Zelenski em meio a uma agenda cheia, com seis reuniões marcadas, entre chefes de governo e empresários, para além da visita dos chefes de governo ao Parque Memorial da Paz e da sessão conjunta “Rumo a um mundo pacífico, estável e próspero”.

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Lula escolheu participar do G-7 ao ter a garantia de que teria uma participação relevante no encontro, não apenas em painéis secundários, e após ter a convicção de que conseguiria se equilibrar na pauta da guerra na Ucrânia, sem ser pressionado a assinar qualquer declaração com tom crítico à Rússia.

Embora o comunicado conjunto endossado pelo País foque em segurança alimentar e evite endurecer contra Moscou, como queria o presidente, o espaço para Lula sair ileso do G-7 ficou cada vez menor. Ao trazerem Zelenski de surpresa para a cúpula, os organizadores - abertamente pró-Ucrânia - criaram uma saia justa diplomática para quem entende ser preciso adotar neutralidade no conflito, como Brasil, Índia e Indonésia. Uma verdadeira armadilha.

Zelenski pediu formalmente o encontro com o presidente brasileiro. Lula se esquivou o quanto pode, mas aceitou o convite após a pressão da comunidade internacional. O Brasil tenta adotar uma postura neutra no conflito no Leste Europeu. A pauta do encontro ainda não está definida, mas Zelenski deve repetir o que fez em encontro com premiê da Índia, Narendara Modi: instar Lula a adotar uma postura crítica sobre a invasão russa da Ucrânia.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participou de uma das sessões da cúpula do G-7 ao lado do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden Foto: Susan Walsh / AFP

Ao contrário dos integrantes do G-7, o Brasil assumiu uma postura mais neutra em relação à guerra, argumentando às vezes que Zelensky, os EUA e os países europeus compartilhavam a culpa pela invasão do líder russo, Vladimir Putin. Lula suavizou sua postura nas últimas semanas, porém, atenuando alguns comentários e enviando o assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, a Kiev.

Encontro com Modi

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O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, roubou a cena da cúpula do G-7 ao chegar ontem ao Japão em um avião da França, após participar na véspera da cúpula da Liga Árabe, que tem entre seus membros nações pró-Rússia e neutras. Organizada às pressas, a visita de Zelenski fez com que os líderes do G7 divulgassem a declaração final um dia antes do previsto, na qual condenaram a Rússia pela invasão da Ucrânia e pediram à China, aliada de Moscou e que nunca condenou a invasão, que “pressione a Rússia para que encerre sua agressão” e “retire imediatamente, totalmente e sem condições suas tropas” do país do Leste Europeu. No comunicado, também alertaram contra a “coerção econômica”, que Pequim é acusada de fazer contra vários países.

Após uma chegada surpresa na cúpula do G-7, o presidente ucraniano, que tenta ampliar o círculo de apoio a seu país, se reuniu com o francês Emmanuel Macron, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, com os quais trocou abraços ou apertos de mão calorosos.

Também se encontrou com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, cujo país se nega a condenar a agressão russa na Ucrânia. Com ele, o encontro foi mais contido, tendo início com um protocolar aperto de mãos. A Índia tem vínculos políticos, econômicos e militares estreitos com a Rússia e, apesar da pressão dos EUA, escolheu um meio termo que, dizem autoridades do país, centra-se em seus próprios interesses e crescente influência – posição que frustra Kiev e os aliados ocidentais de Modi.

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Os líderes do G-7 e de países convidados tiram a foto oficial na cúpula do grupo em Hiroshima, Japão Foto: Brendan Smialowski / AP

Em seu primeiro encontro com Zelenski desde o início da invasão, o premier indiano ressaltou a importância de resolver a guerra pelo diálogo e a diplomacia, e expressou seu desejo de contribuir para os esforços de paz. “Entendo perfeitamente seu sofrimento e dos cidadãos ucranianos. Posso te assegurar que, para resolver [esse conflito], a Índia, e eu pessoalmente, faremos todo o possível”, disse Modi a Zelenski.

Em uma breve mensagem no Twitter, Zelenki disse que discutiu as necessidades humanitárias da Ucrânia e convidou Modi a unir-se à iniciativa de paz da Ucrânia. A iniciativa impõe como pré-condição para quaisquer negociações para acabar com o conflito a retirada da Rússia de todo o território ucraniano.

“Agradeço a Índia por apoiar a integridade territorial e soberania de nosso país, em particular nas plataformas das organizações internacionais, e por fornecer auxílio humanitário para a Ucrânia”, escreveu. A linguagem ecoa as próprias declarações indianas sobre a guerra — termo que Nova Délhi evita usar — e sobre o território disputada da Caxemira.

A Índia há muito tempo tenta equilibrar seu laços com a Rússia e o Ocidente. Durante a Guerra Fria, mostrou relutância em aliar-se à União Soviética. Mas, embora desde então a Índia tenha cultivado relações mais próximas com os EUA, Moscou continua como uma parceiro de confiança, um fornecedor-chave de energia e fonte da maior parte do armamento militar indiano.

A crise na Ucrânia e a escalada de tensões entre a Rússia e o Ocidente tem deixado essa posição em uma corda bamba. A Índia aumentou suas compras de petróleo russo, o que irritou a Ucrânia e os EUA. Também recusou-se a apoiar resoluções na ONU que condenaram a agressão russa.

Além dos encontros deste sábado, Zelenski deve se reunir hoje com o presidente americano, Joe Biden, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida.

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