Lula critica ‘protecionismo’ francês após fala de Macron; reunião para acordo com UE é cancelada

Expectativa era finalizar últimas pendências e anunciar a conclusão do acordo entre UE-Mercosul na próxima quinta, 7, mas encontro foi desmarcado; decisão se deve à eleição de Milei na Argentina

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Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o protecionismo do governo francês, após o presidente da França, Emmanuel Macron, se declarar contrário ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

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“É um direito dele (Macron). Cada país tem um direito de ter uma posição. Eu acho que é um direito dele ser contra. O Macron sempre foi, a França sempre foi o país mais duro para fazer acordo porque é o mais protecionista. Não é a mesma posição da União Europeia, que pensa outra coisa”, disse Lula, durante a COP-28, em Dubai. Lula e Macron tiveram uma reunião bilateral na tarde deste sábado, 2. Na ocasião, eles conversaram sobre o tema.

UE e Mercosul teriam reunião presencial na próxima quinta-feira, 7, no Rio de Janeiro, quando a expectativa era finalizar as últimas pendências e anunciar a conclusão do acordo. O encontro, no entanto, foi cancelado na sexta, 1º, segundo diplomatas envolvidos nas tratativas. Serão realizadas reuniões apenas virtuais.

O motivo para que a reunião não ocorra mais presencialmente não foi a resistência francesa, mas sim a eleição de Javier Milei, na Argentina. Ainda de acordo com diplomatas, a Casa Rosada indicou, nos bastidores, que não tomaria novas decisões sobre o assunto no período de transição de presidentes.

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Milei tomará posse no dia 10 de dezembro. Enquanto candidato, ele disse se opor à permanência da Argentina no Mercosul e à aliança com os europeus. Nos últimos dias, no entanto, anunciou que vai manter o peronista Daniel Scioli como embaixador no Brasil. A confirmação indica disposição de Milei para manter boas relações diplomáticas com o governo Lula, após uma série de críticas ao presidente brasileiro durante a campanha eleitoral.

A futura ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, indicou em visita ao ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, que o governo Milei entende a importância do acordo entre UE e Mercosul.

O acordo de livre comércio entre Mercosul e UE foi firmado em junho de 2019, depois de duas décadas de negociação. A conclusão completa do texto e o começo do processo para sua implementação ficaram travadas nos últimos anos, pois os europeus resistiam em tratar do assunto com o governo Jair Bolsonaro, diante da piora nos índices de desmatamento na Amazônia.

Agora, apesar do trabalho dos dois lados para concluir o acordo ainda neste ano, há negociações adicionais colocadas à mesa pelos europeus e pelo governo Lula.

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Os sinais de boa vontade dos dois lados para tirar o acerto do papel foram dados no início deste ano, com o estabelecimento de um cronograma para encerrar até julho todas as pendências, um prazo que não foi cumprido. Lula chegou a dizer que, se o acordo não sair do papel até o fim deste ano (que tem o Brasil na presidência do Mercosul e a Espanha, pró-acordo, na presidência do Conselho da União Europeia), corre o risco de não acontecer mais. O Brasil e Espanha não estarão mais na dianteira dos respectivos grupos em 2024.

Diplomatas do lado brasileiro consideram que ainda é possível fechar o acordo e dizem que continuarão trabalhando.

Na COP, o presidente francês afirmou ser contra o acordo entre os blocos por considerá-lo “antiquado”. Lula disse que é um direito da França ter essa posição, mas afirmou que a União Europeia não pensa dessa forma. Lula concederia entrevista à imprensa após a fala de Macron, mas o evento foi cancelado em cima da hora, sem explicação do motivo.

Lula disse ser um direito da França se colocar contra o acordo entre o Mercosul e a União Europeia  Foto: Thaier Al Sudani/Reuters

Em sua declaração à imprensa, Macron classificou o tratado como “antiquado” e afirmou que a medida era incoerente com a política ambiental do governo.

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“E é justamente por isso, por isso mesmo, que sou contra o acordo Mercosul-União Europeia, porque acho que é um acordo completamente contraditório, com o que ele está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo, porque é um acordo que foi negociado há 20 anos, e que tentamos remendar, e está mal remendado”, afirmou Macron.

Mais cedo, durante discurso de Lula em reunião do G77+ China, grupo que reúne países desenvolvidos, o presidente criticou barreiras protecionistas, o que classificou como hipocrisia.

“Barreiras protecionistas e medidas unilaterais impostas por países ricos sob o pretexto da sustentabilidade desnudam a hipocrisia da retórica do livre comércio. Os custos das transições do mundo desenvolvido estão sendo transferidos para o Sul Global. Nós, que já somos os mais afetados pela mudança do clima, estamos sendo duplamente punidos”, disse o presidente.

*A repórter Paula Ferreira viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade

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