BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta quarta-feira, 23, por videoconferência, da reunião presidencial da Cúpula do Brics em Kazan, na Rússia. Lula iria presencialmente ao evento, mas teve de cancelar a viagem internacional no último sábado, 19, após cair no banheiro do Palácio da Alvorada, bater a nuca e precisar levar cinco pontos no ferimento.
O presidente brasileiro fez um discurso curto, de pouco mais de 7 minutos, em que falou sobre a importância do que chamou de “ordem multipolar” com relações “menos assimétricas” entre os países, defendeu a taxação dos super ricos e o uso de uma forma de pagamento entre os países do bloco que diminua a dependência internacional do dólar, e voltou a atacar Israel pela guerra promovida contra o grupo terrorista Hamas após o atentado de 7 de outubro.
A reunião foi coordenada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, que está no comando rotativo do bloco. Em 2025, esse comando será ocupado pelo Brasil.
Segundo Lula, os conflitos no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia têm potencial para se tornarem globais. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, que iniciou a invasão ao território ucraniano, assistia ao discurso do brasileiro.
“No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, disse Lula. Ele disse que é necessário evitar uma escalada e iniciar negociações de paz entre Rússia e Ucrânia. Lula não mencionou o fato de Putin ter iniciado a invasão da Ucrânia e ocupar ilegalmente parte do território ucraniano.
Em outras ocasiões, Lula chegou a dizer que os dois países são culpados pela guerra porque “quando um não quer, dois não brigam”. O presidente brasileiro insiste na disposição do Brasil para ser mediador pela paz do conflito, algo que muitos analistas consideram irreal.
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Lula também mencionou fala do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que classificou a situação na faixa de Gaza como o maior “cemitério de mulheres e crianças” do mundo. “Como disse o presidente Erdogan na Assembleia Geral da ONU, Gaza se tornou o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo. Essa insensatez agora se alastra pela Cisjordânia e para o Líbano”, prosseguiu.
O presidente brasileiro não mencionou os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, quando terroristas invadiram o território israelense e mataram 1,4 mil pessoas, além de sequestrarem 250. Também não mencionou os contínuos ataques com foguetes e drones da milícia libanesa xiita Hezbollah, apoiada pelo Irã, contra o norte de Israel.
Israel tem o objetivo declarado de acabar com o Hamas e derrotar o Hezbollah. A comunidade internacional teme uma possível entrada do Irã, aliado do Hezbollah, no conflito. Isso poderia evoluir para uma guerra entre dois países com forças militares poderosas.
O Brasil assume a presidência do bloco a partir de janeiro de 2025. Lula disse que a presidência brasileira à frente do grupo reafirmará a proposição de um mundo multipolar. A cada ano que passa tem sido mais difundida a análise de que o bloco caminha para ser uma força de contraposição, com protagonismo da China, ao poder da aliança Estados Unidos-Europa na política global.
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“Na presidência brasileira dos Brics, queremos reafirmar a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relação menos assimétricas entre os países”, declarou o petista. A cúpula dos Brics é realizada em Kazan, na Rússia, mas Lula está em Brasília e participou por videoconferência. O presidente brasileiro cancelou a viagem até o local por causa de um acidente doméstico.
O líder brasileiro afirmou que o lema da presidência do Brasil à frente dos Brics, no ano que vem, será “fortalecer a cooperação do Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável”.
Lula disse que não se pode aceitar um “apartheid” no acesso a vacinas, medicamentos e no desenvolvimento da inteligência artificial. O petista mencionou a disputa por insumos na pandemia para ilustrar sua declaração sobre acesso a vacinas e medicamentos.
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