BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou na tarde desta quarta-feira, 10, com o presidente do Equador, Guilhermo Lasso, de centro-direita, alvo de um processo de impeachment recém-aberto pelo Congresso do país, controlado pela esquerda. O telefone ocorreu um dia depois de Lasso perder uma votação na Assembleia Nacional, por ampla maioria de votos. Lula quis ouvir sobre a situação política interna do Equador.
De um total de 116 parlamentares presentes, 88 votaram a favor da abertura do impeachment, 23 contra, e cinco se abstiveram. O parlamento equatoriano tem maioria da oposição, ligada ao ex-presidente Rafael Correa, histórico aliado de Lula. São cerca de 50 congressistas, enquanto o partido de Lasso, o CREO, tem 10.
O telefonema não constava da agenda oficial de Lula, e o teor da conversa não foi divulgado por Brasília ou Quito. Segundo a assessoria da Presidência da República, Lula convidou Lasso para o encontro em Brasília com presidentes de países da América do Sul, em 30 de maio.
Lasso sinalizou, conforme fontes equatorianas, a intenção de atender ao chamado do brasileiro. Ambos têm destacado apoio à integração regional, embora o enfoque de Lasso seja comercial - e ele rejeite relações por proximidade ideológica ou política.
A viagem ainda não foi confirmada em Quito, e depende da evolução do processo político no Congresso equatoriano. Governistas afirmam que os argumentos para o impeachment são frágeis, que deputados desrespeitaram procedimentos, mas veem o resultado do processo como imprevisível. Ministros do governo intensificaram a articulação com congressistas para evitar a cassação.
A esquerda precisaria de apenas quatro votos a mais para atingir 92 na Assembleia Nacional e afastar o presidente. Lasso é acusado de peculato, corrupção e mau uso de verba pública. A Suprema Corte do Equador autorizou o início do processo.
Apoio de Bolsonaro
Político de centro-direita, Lasso havia recebido apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro na eleição equatoriana. Lasso enfrentou forte oposição da esquerda e de partidos ligados a movimentos indígenas, além de uma série de protestos que levaram instabilidade do país. O Equador também enfrenta um recrudescimento da criminalidade em cidades como Guayaquil e problemas comuns como o narcotráfico.
A despeito da relação de Lula com o opositor Rafael Correa, ex-presidente equatoriano, Lasso tratou de construir uma relação mais pragmática com o petista, prontamente reconheceu o resultado da eleição brasileira, no ano passado, e viajou a Brasília para a posse, em janeiro, ocasião em que foi recebido por Lula para uma reunião bilateral.
Na semana passada, o chanceler Mauro Vieira viajou a Quito e levou ao presidente equatoriano o convite para que ele participe de uma cúpula de chefes de Estado sul-americanos, em Brasília, no fim de maio. Também lembrou da pretensão de Lula de organizar outra cúpula com enfoque climático, entre os nove países amazônicos, em agosto.
Crise no Equador
Lasso foi eleito em 2021, depois de vencer no segundo turno o correísta Andrés Araúz. Sua vitória se deveu em parte à neutralidade do esquerda da esquerda indígena, Yaku Pérez, rompido com Correa. Nos últimos meses, o presidente tem enfrentado graves problemas de violência urbana e em presídios, sobretudo na cidade de Guayaquil, a maior do país.
Em abril, o presidente declarou estado de emergência em Guayaquil, seu reduto eleitoral e onde a mesma medida já havia sido tomada três vezes no ano passado. Em razão da presença do porto, o maior do Equador, a cidade se transformou em importante ponto de passagem de cocaína.
A primeira tentativa de destituir Lasso ocorreu em junho do ano passado, em meio a violentos protestos indígenas em razão do alto custo de vida. Na ocasião, um grupo de deputados apresentou uma moção, mas não obteve votos suficiente.
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