Lula diz no G-20 que COP de Belém é última chance antes de ruptura climática irreversível

No segundo dia da cúpula de líderes, presidente voltou a cobrar maior comprometimento das nações ricas ao tema ambiental, uma das pautas sensíveis da declaração final assinada ontem

PUBLICIDADE

Foto do author Beatriz Bulla
Foto do author Carolina Marins
Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

ENVIADOS AO RIO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta terça-feira, 19, o segundo dia de discussões da cúpula de líderes do G-20 fazendo um chamado para a COP-30 a ser realizada ano que vem em Belém e voltou a cobrar as nações desenvolvidas em seus compromissos climáticos e de financiamento. Embora a reunião de chefes de Estado e representantes termine apenas nesta terça, a declaração final conjunta já foi aprovada na segunda-feira, 18, após embates com a Argentina.

PUBLICIDADE

“Enquanto estamos aqui, nossos representantes estão em Baku negociando uma nova meta de financiamento climático”, afirmou o presidente se referindo à COP-29 que ocorre em Baku, capital do Azerbaijão concomitantemente ao G-20.

“Não há ambição que se sustente sem meios de implementação. Em Paris, falávamos em uma centena de bilhões de dólares por ano, que o mundo desenvolvido não cumpriu. Hoje, falamos em trilhões. Esses trilhões existem, mas estão sendo desperdiçados em armamentos, enquanto o planeta agoniza.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o segundo dia de cúpula de líderes do G-20, no Rio de Janeiro Foto: Eraldo Peres/AP

Continuou: “Não podemos adiar para Belém a tarefa de Baku. A COP-30 será nossa última chance de evitar uma ruptura irreversível no sistema climático. Conto com todos para fazer de Belém a COP da virada.”

Publicidade

Além de voltar a pedir mais comprometimento dos países ricos com suas promessas de financiamento, Lula pediu que as nações antecipem as suas metas climáticas. “Aos membros desenvolvidos do G-20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045. Sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais.”

“Aos países em desenvolvimento, faço um chamado para que suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, na sigla em inglês) cubram toda a economia e todos os gases de efeito estufa. É essencial que considerem adotar metas absolutas de redução de emissões”, completou.

Mais cedo o governo havia anunciado o lançamento, na cúpula, da Iniciativa Global para Integridade da Informação sobre Mudanças do Clima em parceria com a ONU e a Unesco cujo o objetivo é fortalecer pesquisas e medidas para combater a desinformação que contribui para o atraso e a inviabilização de ações climáticas. “Na luta pela sobrevivência, não há espaço para o negacionismo e a desinformação”, afirmou o presidente em seu discurso.

Lula finalizou reforçando sua defesa de uma Conselho de Mudança do Clima na ONU. “Não faz sentido negociar novos compromissos se não temos um mecanismo eficaz para acelerar a implementação do Acordo de Paris”, disse.

Publicidade

A cúpula do G-20 - que reúne as 19 economias do mundo, além de União Europeia e União Africana - abriu suas discussões para a finalização de um acordo conjunto na segunda, momento em que foram tratados as pautas de combate à fome e a pobreza, principal iniciativa do Brasil, e reforma das instituições de governança global. Nesta terça, as conversações focam em torno do desenvolvimento sustentável e transição energética.

A pauta climática era uma das que mais causava embates entre os países na hora de costurar os termos da declaração final. Reforma das instituições, gênero e taxação de super-ricos eram outros temas caros. O presidente argentino, Javier Milei, era quem encabeçava as maiores desavenças, mas terminou cedendo e assinou o acordo com ressalvas verbais, não registradas no documento.

Milei busca ser o expoente do conservadorismo na América Latina, encorajado pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca ano que vem. Mas o libertário não estava sozinho neste incômodo. Países ricos, especialmente europeus, queriam que emergentes, como China e Brasil, dividissem o custo do financiamento climático global. O pleito era considerado inadmissível pelo Brasil e demais países. A divisão como queriam as nações desenvolvidas não foi incluída.

Os emergentes, porém, saíram vitoriosos dessa batalha. O comunicado dos líderes fala da “necessidade de aumentar a colaboração e o apoio internacionais, incluindo com o objetivo de ampliar o financiamento climático público e privado e o investimento para os países em desenvolvimento”.

Publicidade

“Reiteramos o reconhecimento, na Declaração dos Líderes de Nova Délhi, da necessidade de ampliar rapidamente e substancialmente o financiamento climático, passando de bilhões para trilhões, provenientes de todas as fontes”, diz o texto.

Com o texto final já aprovado antes do que se previa, as discussões desta terça apenas seguirão a agenda. No fim da manhã, Lula fará o discurso de encerramento da cúpula deste ano e transferirá a presidência para a África do Sul, próxima anfitriã do evento.