BRUXELAS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, 19, que solução para a situação na Venezuela passará por uma conclusão por parte do governo e da oposição sobre as regras e a data das eleições previstas para 2024 no país. Se ambos chegarem a um consenso sobre o assunto, disse, haverá “autoridade moral” para pedir o fim das sanções “absurdas”.
Declaração foi feita durante entrevista coletiva ao fim da 3ª cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE), onde o presidente, junto com seus homólogos da França, Colômbia e Argentina promoveram uma reunião com o governo e a oposição venezuelana. “A conclusão que nós chegamos é que a situação da Venezuela vai ser resolvida quando os partidos na Venezuela, junto com o governo, chegarem à conclusão da data da eleição e chegarem à conclusão das regras que vão estabelecer as eleições”, afirmou.
O presidente disse ter gostado da reunião em que participaram Emmanuel Macron, Gustavo Petro e Alberto Fernández, bem como o Alto Representante da União Europeia para Relações Exteriores, Josep Borrell, mas admitiu que não esperava um resultado de imediato. “Eu esperava que a gente tivesse a compreensão de que a solução dos problemas da Venezuela é uma questão do povo venezuelano”.
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“Se eles se entenderem com relação às regras e às datas das eleições, eu acho que nós temos autoridade moral de pedir o fim das sanções”, declarou. Na última terça-feira, 18, o grupo já havia publicado uma declaração conjunta em que os líderes defenderam a retirada das sanções se a Venezuela tiver eleições livres ano que vem.
“Com base nisso, o compromisso de que as punições impostas pelos Estados Unidos comecem a cair. Sanções absurdas, em que a Venezuela não pode mais lidar com dinheiro seu que está nos bancos de outros países”, afirmou Lula.
Ele acrescentou que o próprio povo venezuelano está cansado da situação em que se encontra. “Sinto que depois de tanto tempo de briga, todo mundo está cansado. Todo mundo. Eu sinto que a Venezuela está cansada. O povo quer encontrar uma solução. Porque é bom você brigar um mês, dois meses, três meses, dois anos, três anos, quatro anos, mas a vida inteira? Então eu acho que nós estamos chegando nesse clima.”
Uma reunião sobre a situação venezuelana não estava prevista na agenda da cúpula Celac-UE, mas foi promovida paralelamente pela França. O país, bem como Colômbia e Argentina, já promoveram outras reuniões para tratar da Venezuela, mas esta foi a primeira com participação de Lula, que tem proximidade com Nicolás Maduro.
Os líderes se sentaram à mesa com Gerardo Blyde, um dos principais negociadores da oposição venezuelana, e com Delcy Rodríguez, vice-presidente e a mais alta represente do governo venezuelano na cúpula. No encontro, os líderes propuseram o acompanhamento internacional do pleito no país, e Borrell voltou a oferecer o envio de uma missão de observação eleitoral à Venezuela, desde que o país siga as recomendações que os enviados de Bruxelas formularam após as últimas eleições.
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A UE enviou uma missão de observação à Venezuela no final de 2021 para as eleições regionais e municipais – as primeiras desde 2006 – e destacou os avanços, mas também criticou “a inabilitação arbitrária de candidatos”. Na semana passada, o principal negociador do governo e presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, descartou o envio de uma delegação eleitoral da UE para as eleições de 2024.
No fim de junho, a ditadura de Maduro tornou inelegível por 15 anos María Corina Machado, uma das pré-candidatas favoritas. Ela se junta a outros dois nomes importantes da oposição que já haviam sido barrado da disputa eleitoral: Juan Guaidó e Henrique Capriles.
Declaração ‘razoável’ da cúpula
A declaração final da reunião de cúpula Celac-UE foi extremamente razoável e responde ao interesse de todos, afirmou Lula. O encontro de dois dias terminou com uma declaração conjunta de 10 páginas que faz uma leve menção à guerra na Ucrânia e, para frustração dos países europeus, não cita a Rússia.
Na visão de Lula, a reunião foi extraordinária, onde se “discutiu os temas que deveriam se discutir, e se chegou a um documento extremamente razoável, do interesse de todos”.
Apesar da grande pressão dos países europeus, os governantes da Celac atuaram para impedir que a primeira reunião de cúpula entre os dois blocos em oito anos virasse um encontro concentrado apenas na situação da Ucrânia.
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Lula insistiu que estava em discussão “a visão de 60 países (27 da UE e 33 da Celac) e temos que entender que nem todo mundo concorda com a gente. Acredito que a discussão sobre a Ucrânia tomou o tempo correto”.
O presidente brasileiro insistiu na necessidade de incentivar o fim do confronto entre russos e ucranianos. Também disse que é imperioso criar um grupo de países neutros capazes de dialogar tanto com a Ucrânia como com a Rússia.
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Ao ser questionado se considerava prioritário que a Rússia retire suas tropas do território ucraniano, Lula opinou que o mais importante é o fim das hostilidades. “A retirada é parte dos acordos de paz. Mas é necessário sentar à mesa. O que nós queremos é que a guerra pare, esta é a condição ‘sine qua non’ para discutir a paz. Enquanto tiver tiro, não tem conversa possível”, afirmou./AFP e EFE