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Lula diz que Israel quer ocupar Gaza; comunidade judaica critica falas ‘equivocadas e perigosas’

Presidente já havia sido criticado na segunda-feira, ao equiparar a resposta de Israel ao ataque terrorista do Hamas

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Por Redação
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu nesta terça-feira, 14, as críticas a Israel pela guerra travada contra os terroristas do Hamas na Faixa de Gaza. No programa Conversa com o Presidente, transmitido pelas canais oficiais do governo, o petista equiparou os dois lados do conflito mais uma vez e disse ter a impressão de que Tel-Aviv quer expulsar os palestinos para ocupar o enclave. As declarações recentes do petista foram rechaçadas por entidades judaicas no País.

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“Eu estou percebendo que Israel parece que quer ocupar a Faixa de Gaza e expulsar os palestinos de lá. Isso não é correto não é justo. Temos que garantir a criação do Estado palestino para que eles possam viver em paz junto com o povo judeu. No Brasil, sempre defendemos a criação de dois Estados ”, disse Lula ao sugerir que a ONU deve agir sobre o conflito.

Na segunda-feira, 13, entidades judaicas já tinham se posicionado contra falas recentes do presidente brasileiro sobre o conflito. Nesta terça-feira, 14, depois dos últimos pronunciamentos de Lula, o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, defendeu mais equilíbrio nas declarações do petista e pediu um encontro com ele.

“Devemos nos esforçar para não importarmos o trágico conflito do Oriente Médio para o cenário já tão polarizado do Brasil. Por isso, gostaríamos de ver mais equilíbrio no posicionamento do governo brasileiro. O presidente da república pode ter suas simpatias e preferências nesta guerra. Mas é errado equiparar as ações de uma democracia como Israel com as ações do grupo terrorista Hamas, que massacrou barbaramente 1.200 civis, de várias nacionalidades, inclusive cidadãos brasileiros. E ainda mantém centenas de pessoas sequestradas e se esconde covardemente atrás da população civil de Gaza, usada como escudo humano”, disse Lottenberg ao Estadão.

“Quando o governo brasileiro demoniza Israel, pode inflamar seus milhões de apoiadores. Isso pouco depois de as autoridades terem desbaratado um plano terrorista do Hizbollah contra alvos judaicos brasileiros. Estamos aguardando uma oportunidade de sermos recebidos pelo presidente pra podermos expressas essas nossas preocupações a ele”, acrescentou.

Presidente Lula fala com a imprensa em Brasília, 05 de novembro de 2023.  Foto: REUTERS / Adriano Machado

Posicionamentos

Em nota, a confederação também considerou o discurso do petista sobre o conflito, que equipara Hamas e Israel, ‘equivocado e perigoso’. “As falas do presidente estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito, no momento em que os próprios órgãos de segurança do governo brasileiro atuam com competência para prender rede terrorista que planejava atentados contra judeus no Brasil”, diz a nota da Conib. “A comunidade judaica brasileira espera equilíbrio das nossas autoridades e uma atuação serena que não importe ao Brasil o terrível conflito no Oriente Médio.”

O Instituto Brasil-Israel também lamentou as declarações do presidente. “É uma pena que o governo do Brasil, frente à tragédia da guerra, perca o equilíbrio e a ponderação, reduzindo a possibilidade de contribuir de maneira decisiva e propositiva com negociações entre as várias partes no conflito”, disse a entidade. “A acusação reforça os extremistas de ambos os lados e enfraquece as partes que lutam por um futuro de coexistência para israelenses e palestinos.”

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André Lajst, presidente-executivo da ONG StandWithUs Brasil, também condenou as declarações que considera “inverídicas e perigosas” porque não colocam em contexto a “necessidade de Israel de se proteger, proteger os seus cidadãos e acabar com o grupo terrorista que impede qualquer processo de paz entre israelenses e palestinos”.

A StandWithUs também afasta as comparações entre Israel e o grupo terrorista Hamas. “O Estado judeu tem buscado observar as regras do direito internacional humanitário. É justamente por isso, inclusive, que tem alertado com antecedência aos civis da Faixa de Gaza onde serão os bombardeios para que eles possam se deslocar”, disse. “Em toda guerra, mesmo com todas as leis internacionais sendo cumpridas, infelizmente, haverá baixas civis. Mas há uma grande diferença entre situações como essas e o ataque deliberado e cruel contra civis, como o Hamas fez no dia 07 de outubro”, conclui.

Críticas reiteradas

Desde o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro, Lula tem dado declarações críticas a Israel na guerra contra o grupo terrorista. O presidente chegou a condenar o terrorismo do Hamas em mais de uma oportunidade, mas já se referiu à reação israelense como “insanidade” e genocídio.

Ontem, o presidente retomou as críticas, durante cerimônia no Palácio do Planalto à tarde, e à noite, quando recepcionou os 32 brasileiros que deixaram a Faixa de Gaza no domingo. Na ocasião, o petista disse que a “solução do Estado de Israel é tão grave quanto foi [o ato de terrorismo] do Hamas”.

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“Se o Hamas cometeu um ato de terrorismo, o Estado de Israel está cometendo mais um ato de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra, que as mulheres não estão em guerra. Ao não levar em conta que eles não estão matando soldados, eles estão matando junto crianças”, disse o petista.

No ‘Conversa com o Presidente, Lula reafirmou as declarações do dia anterior. “Por isso (os ataques de Israel que atingem áreas civis) eu disse ontem que a atitude de Israel com relação às crianças, com relação às mulheres é igual ao terrorismo. Não tem como dizer outra coisa.”

Antes do presidente, o assessor especial para assuntos internacionais Celso Amorim, usou a palavra “genocídio” ao se referir ao conflito. Na semana passada, Amorim reiterou a condenação ao que chamou de “atos bárbaros do Hamas”, mas disse que isso não justifica o “uso indiscriminado da força contra civis”. E completou: “a morte de milhares de crianças é chocante. A palavra genocídio inevitavelmente vem à mente”.

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A ofensiva israelense é uma resposta ao ataque de terroristas do Hamas, que mataram 1.200 pessoas e levaram cerca de 240 como reféns. Do lado palestino, o número de mortes passava de 11 mil no final da semana passada quando pararam de ser atualizados pela falta de contato com os hospitais, que estão no meio do fogo cruzado. O número é do ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, e não pode ser verificado por fontes independentes. Apesar disso, o governo americano estima que o número de civis palestinos mortos está na casa dos ‘milhares’.

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