Lula diz que Putin não será preso se vier ao Brasil para cúpula do G-20 em 2024

Tribunal Penal Internacional emitiu mandado de prisão contra o presidente da Rússia por crimes de guerra; documento final de cúpula na Índia suavizou tom sobre conflito na Ucrânia

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Por Gustavo Boldrini
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os países-membros do G-20, grupo que reúne as principais economias do mundo, encontrarão um “clima de paz” durante a próxima reunião, que acontecerá no Rio de Janeiro, em 2024, já que o País vai assumir a presidência do grupo a partir de dezembro. Lula garantiu que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pode se sentir tranquilo em participar do encontro.

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”O que eu posso dizer é que, se eu sou o presidente do Brasil e ele for para o Brasil, não há por que ele ser preso”, afirmou em entrevista ao canal indiano Firstpost em Nova Délhi, onde participa da cúpula do G-20, ao ser perguntado sobre o mandado de prisão emitido contra o líder russo. “Ninguém vai desrespeitar o Brasil, porque tentar prender ele no Brasil é desrespeitar o Brasil”, disse Lula, que afirmou que convidará Putin para o encontro.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em março um mandado de prisão contra Putin por crimes de guerra por causa de seu suposto envolvimento em sequestros e deportação de crianças de partes da Ucrânia ocupadas pela Rússia durante a guerra.

Lula participou de Cúpula do G-20, na Índia. Foto: Ludovic/AFP

Ao falar sobre a guerra entre russos e ucranianos, o presidente brasileiro voltou a afirmar que o mundo “precisa falar sobre paz, e não sobre guerra”. Segundo ele, o Brasil é “100% contrário contra qualquer invasão territorial”, incluindo a da Rússia contra a da Ucrânia, a dos Estados Unidos contra o Iraque em 2003 e a de França e Reino Unido contra a Líbia em 2011.

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Lula chegou a declarar em janeiro, durante a visita do chanceler alemão Olaf Scholz ao Brasil, que a Rússia estava errada em invadir a Ucrânia, mas também sinalizou para culpa do próprio país invadido. “Continuo achando que quando um não quer, dois não brigam”, afirmou. Em maio, ao participar do G-7, no entanto, Lula disse que condenava a violação da integridade territorial da Ucrânia.

O presidente reiterou ainda a defesa de uma reestruturação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), já que, segundo ele, o atual desenho do órgão não é compatível com a atual realidade global.”Hoje o Conselho de Segurança da ONU tem países que fabricam bombas atômicas e que causaram guerras”, afirmou o presidente brasileiro.

Na Cúpula em Nova Délhi, os países do G-20 decidiram abrandar o tom ao tratar da guerra na Ucrânia, poupando a Rússia, com objetivo de chegar a um comunicado conjunto de consenso. Os países ocidentais aliados da Ucrânia, sobretudo do G-7, precisaram fazer concessões para incluir palavras que agradam a Moscou, além de contemplar preocupações da China.

Brics

Lula afirmou que discussões em torno da criação de uma moeda única do grupo Brics têm como objetivo facilitar o comércio entre os países, e não causar algum tipo de confronto com países do G-7. Segundo o presidente, o Brics tem se posicionado no mundo não mais como um grupo de países pobres ou emergentes, mas como o “Sul Global”.

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”O que sonhamos é construir um Estado de bem-estar social como a Europa conseguiu construir. Não queremos criar conflito nenhum com ninguém”, afirmou.

O anúncio da ampliação do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na cúpula em Johannesburgo, no fim de agosto, criou conflitos ao incluir países autocráticos e com uma postura antiocidental declarada, que são aliados próximos de China e de Rússia, como é o caso do Irã. Foram formalmente convidados para integrar o grupo Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia.

Lula voltou a destacar o papel do Brasil como promotor da paz pelo mundo e afirmou que o País “quer se dar bem” com Estados Unidos, Rússia, China e todas as nações do globo. Na visão do presidente brasileiro, apenas a união entre as potências mundiais será capaz de vencer a emergência das mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável.”Nós precisamos entender que todos estamos no mesmo barco”, disse Lula.

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