ENVIADO ESPECIAL A ROMA E AO VATICANO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira, dia 22, que vai tentar mediar a relação da Igreja Católica com a ditatura de esquerda de Daniel Ortega, na Nicarágua. Após uma audiência com o papa Francisco no Vaticano, Lula disse que vai conversar com Ortega para que liberte o bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, que está em prisão domiciliar e foi condenado a 26 anos pelo regime sandinista.
“A Igreja está com problema na Nicarágua, porque tem bispo preso. A única coisa que a Igreja quer é que a Nicarágua libere o bispo para vir para a Itália. E eu pretendo falar com Daniel Ortega a respeito, para ele liberar o bispo. Não tem por que o bispo ficar impedido de exercer suas funções na Igreja. Não existe essa possibilidade. Eu vou tentar ajudar se puder ajudar”, disse Lula, em entrevista coletiva na Itália.
Lula manifestou discordância da prisão do religioso e fez uma crítica indireta a Ortega. Ele sugeriu que o ditador errou e deveria pedir desculpas.
“Essas coisas nem sempre são fáceis, porque nem todo mundo é grande de pedir desculpas. A palavra desculpa é simples, mas ela exige muita grandeza, você reconhecer que cometeu uma coisa errada. Não é todo homem que tem coragem de falar eu errei e vou mudar de posição. É um trabalho de convencimento e tenho muita paciência, eu sou muito tolerante das conversas. Vou tentar ajudar”, disse Lula.
Lula possui uma relação amistosa de longa data com ditador nicaraguense. Ele já defendeu Ortega publicamente, apesar do isolamento do país e das críticas de violações de direitos humanos e falta de alternância no poder.
O Brasil ofereceu acolhida no País a nicaraguenses que perderam a nacionalidade por decisão do governo e manifestou preocupação com violações, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
No entanto, o governo evitou assinar uma resolução que citava crimes contra a humanidade do regime. O tema é incômodo e foi usado contra Lula nas eleições brasileiras. O presidente evitada se pronunciar sobre o assunto.
O bispo é o principal nome da Igreja Católica atingido por restrições à liberdade impostas por Ortega, num recrudescimento do regime. Acusado de traição da pátria, o clérigo se recusou a deixar o país junto a um grupo de mais de 200 deportados aos Estados Unidos, entre eles padres e seminaristas.
Ortega também fechou meios de comunicação, tomou escolas e expulsou da Nicarágua ordens de freiras e o núncio apostólico, representante diplomático da Santa Sé.
Como o Estadão revelou, o assunto era um dos previstos pelos diplomatas para entrar na pauta da conversa reservada entre o papa e o petista, assim como as situações de desrespeito aos direitos humanos em Cuba e na Venezuela.
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Logo depois da audiência, o Vaticano disse que o papa e Lula “trocaram impressões sobre a situação sociopolítica” na América Latina.
Questionado se sugeriria ao sandinista que fizesse um pedido de desculpas formal ao Vaticano, ao fim, Lula disse que ainda não precisava conversar com Ortega.
Situação preocupante na Nicarágua
A situação na Nicarágua é descrita como muito preocupante por parte das autoridades católicas. Em perseguição a opositores, o regime de Ortega, que Lula evita criticar, fez uma caçada contra autoridades católicas.
O bispo de Matapalga Rolando Álvarez está em prisão domiciliar. Ele foi condenado a 26 anos de prisão, depois de se recusar a deixar o país com outros sacerdotes e opositores do regime.
Ordens de freiras foram expulsas, como a fundada por Madre Teresa de Calcutá. O papa não tem mais interlocução direta com Ortega. O ditador expulsou o núncio apostólico do país. Agora, o representante do papa mais próximo do país fica na Costa Rica. Ortega lacrou meios de comunicação católicos, acusados de conspirar contra a revolução sandinista, e tomou escolas de orientação católica.
Embora o governo brasileiro diga repudiar a repressão e a violência contra opositores, a posição é vista como pouco eloquente e hesitante por aliados como os Estados Unidos. O próprio Lula se esquiva de criticar Ortega, de quem foi muito próximo e a quem já defendeu publicamente. Na campanha eleitoral, ele minimizou atos de repressão do regime e a manutenção de Ortega no poder, sem alternância.
O governo já se pronunciou sobre o caso em fóruns multilaterais, mas sob pressão. Primeiro, o Brasil deixou de aderir a uma declaração conjunta de 50 países que denunciavam os crimes contra a humanidade do regime de Ortega. Depois, em separado, afirmou no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que a situação era de sérias violações e ofereceu acolhida aos dissidentes que perderam a nacionalidade por ordem de Ortega.
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