BRASÍLIA - Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, voltaram a conversar ao telefone nesta quarta-feira, dia 14, para tratar de uma mediação entre o ditador Nicolás Maduro e a oposição, após a suspeita de fraude nas eleições presidenciais do país. Em breve relato, Lula disse que busca uma “saída política” para a crise na Venezuela.
“Eu demorei porque estava num telefonema com a Colômbia, tentando ver se a gente encontra uma saída política para o problema da Venezuela, para ver se a gente restabelece a tranquilidade democrática naquele país”, afirmou Lula, ao encerrar uma cerimônia com a indústria farmacêutica, no Palácio do Planalto.
A Presidência da República não divulgou ainda nenhuma informação a respeito do teor da conversa, como costuma ocorrer após telefonemas oficiais entre Lula e outros chefes de Estado e de governo.
O chanceler Mauro Vieira viajará a Bogotá, capital colombiana, onde pretende conversar nesta quinta-feira, dia 15, com seu homólogo Luis Murillo.
México se afasta
Após dias de tentativas, Lula e Petro se falaram pela segunda vez, agora sem o envolvimento de Andrés Manuel López Obrador - o presidente do México disse que preferia aguardar um pronunciamento da corte suprema venezuelana antes de voltar a se engajar na diplomacia tríplice ao lado dos aliados. O mexicano se referia ao processo judicial de certificação encomendado por Maduro à sala eleitoral do Tribunal Supremo de Justiça, órgão alinhado ao regime.
Inicialmente, a intenção era que López Obrador participasse e que, depois, os três presidentes também conversassem com Maduro e com o candidato da oposição Edmundo González, em separado.
Essa foi a estratégia traçada depois que o ditador pediu a Lula para que dialogassem ao telefone, nos dias seguintes ao anúncio de sua reeleição, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O órgão, controlado pelo chavismo, anunciou a vitória de Maduro por 52% dos votos contra 43% de González, mas deixou de publicar os relatórios que atestem a votação. O opositor, por sua vez, conseguiu coletar cópias de 82% das atas eleitorais que demonstram uma vitória dele, por 67% a 30%.
A oposição denunciou fraude, e sua vitória foi reconhecida por países latino-americanos que seguiram posicionamento dos Estados Unidos, assim como a União Europeia. Brasil, México e Colômbia, no entanto, não reconheceram o resultado e passaram a exigir a publicação oficial dos dados antes de se posicionar, na defesa de que fosse realizada uma checagem da votação.
Lula, López Obrador e Petro se falaram no dia 1º de agosto, antes de os três países lançarem a primeira nota cobrando uma verificação imparcial da votação e a divulgação de informações detalhadas.
No segundo comunicado, os três países voltaram a dizer que era fundamental uma divulgação transparente dos resultados, sob responsabilidade do CNE - não do Judiciário -, e que a solução para o impasse deveria surgir dos venezuelanos.
O presidente Lula compartilhou com seus ministros e o assessor especial Celso Amorim, na semana passada, a ideia de que sejam realizadas novas eleições, uma espécie de segundo turno, entre Maduro e González. O governo, no entanto, não formalizou a proposta até agora. A oposição venezuelana já disse que não aceita.
O ex-presidente da Colômbia Iván Duque denunciou, na semana passada, que o plano de Maduro passava por anular as eleições de 28 de julho sob alegação de que os dados da votação foram perdidos em um suposto ataque hacker ao CNE. A partir daí, Maduro tentaria acertar um acordo com a oposição para realizar uma nova disputa no fim do ano. Segundo Duque, o ditador tentaria convencer Petro e Lula a endossarem diplomaticamente esse roteiro.
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