Lula fala que governo elabora proposta para adesão do Brasil a ‘nova rota da seda’ da China

Declaração marca primeira vez que presidente falou abertamente sobre a entrada do Brasil no principal projeto de infraestrutura e investimento da China; plano é debatido há mais de um ano

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Foto do author Luiz Henrique Gomes
Foto do author Felipe Frazão

O presidente Lula afirmou que o governo elabora “uma proposta para aderir” à Iniciativa do Cinturão e Rota, o principal projeto de infraestrutura e investimento da China, também conhecido como a “nova rota da seda”. A declaração marca a primeira vez que o governo fala abertamente sobre a adesão, debatida internamente desde a viagem do presidente a China em abril do ano passado.

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Lula falou sobre o assunto no evento que anunciou investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em rodovias federais, na sexta-feira, 19, em São José dos Campos (SP). “Como a China quer discutir essa Rota da Seda, teremos que preparar uma proposta para avaliar ‘O que ganhamos? O que o Brasil ganha se participar disso?’”, declarou.

O plano é debatido internamente há mais de um ano, mas o governo nunca havia admitido publicamente. Os integrantes discutem os prós e contras de aderir ou não a iniciativa o megaprojeto de infraestrutura lançado há 11 anos pelo governo Xi Jinping. A ofensiva já reúne cerca de 150 países e sofre oposição dos Estados Unidos e da Europa, que também reagiu com projeto de parceria global.

O presidente da República Popular da China, Xi Jinping, caminha com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no Grande Palácio do Povo, em Pequim. Foto: Ricardo Stuckert/PR

A China persegue a adesão do Brasil e sugeriu unir a nova Rota da Seda ao novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas há resistências por parte de integrantes da diplomacia, embora o projeto, oficialmente conhecido como Cinturão e Rota (Belt and Road), tenha simpatia de membros do Palácio do Planalto.

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Em junho, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, liderou uma missão a Pequim com ministros e representantes de 21 ministérios e agências governamentais, além de delegação empresarial. E em novembro, Xi Jinping virá ao Brasil para participar da Cúpula de Líderes do G-20 e se reunir com Lula e autoridades brasileiras, em uma visita de Estado, que deve ocorrer em Brasília.

De acordo com o presidente, o Brasil também deve ir a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), no Peru, para discutir a adesão do Brasil a proposta da China.

Embora a China seja o maior parceiro comercial do Brasil e historicamente invista no País, os governos têm relutado em assinar a Iniciativa Cinturão e Rota. Na América do Sul, o Brasil é um dos únicos três a não aderir a iniciativa, ao lado da Colômbia e do Paraguai.

Uma avaliação comum é que há uma parceria contínua com Pequim que independe da adesão, enquanto a adesão sinalizaria alinhamento com Pequim que poderia afetar a relação do Brasil com parceiros ocidentais.

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Em junho, no entanto, Lula externou que deseja construir uma “parceria estratégica de muitos anos” com Xi Jinping, sem dar mais detalhes. Os dois países celebram 50 anos de relações diplomáticas este ano e devem celebrar a data com alguma marca. “Queremos construir uma parceria estratégica com os chineses, uma coisa de muitos anos”, disse Lula em entrevista à Rádio Meio, do Piauí, na ocasião.

Brasília e Pequim compartilham de uma extensa pauta e interesses, que vão além do agronegócio e passam por itens de Defesa, aviação, exploração espacial e investimentos em energia e indústria automobilística. O Brasil quer exportar à China ao menos 20 jatos modelo E195-E2 da Embraer, de médio porte e uso comercial, já certificado para rotas internas operadas por companhias chinesas. Os países pretendem lançar um novo satélite geoestacionário conjunto, o CBERS-5, com maior capacidade de captação de imagens para produção de dados meteorológicos.

A China também manifestou interesse formal em comprar 49% da estatal Avibrás - a empresa passa por recuperação judicial e é a fabricante dos sistemas de mísseis e foguetes Astros, um projeto estratégico do Exército Brasileiro. A parceria seria por meio da estatal chinesa Norinco e vem sendo discutida com Lula e o Ministério da Defesa.

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