BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja atrair chefes de Estado e de governo de países que podem se converter em doadores de recursos ao Fundo Amazônia, além dos que já contribuem com o mecanismo, para a cúpula amazônica regional que promoverá em agosto, em Belém (PA). O governo trabalha para que eles participem das discussões na condição de convidados especiais. Estão na mira do governo brasileiro países como a França e a Irlanda.
Até o fim do governo Lula, Belém será sede de ao menos duas discussões climáticas multilaterais. No início de agosto, a capital paraense receberá a cúpula de perfil regional, dos países que integram o Tratado de Cooperação Amazônica. Em novembro de 2025, a cidade acolherá a Cúpula do Clima (COP 30) das Nações Unidas, um evento de dimensão global.
A primeira cúpula amazônica vem sendo preparada pelo Itamaraty e pelo Palácio do Planalto. O formato da participação desses líderes globais está sendo explorado e apresentado a representantes diplomáticos em Brasília. Um desenho prévio indica que a cúpula amazônica deve contar com líderes políticos de ao menos 10 países - oito signatários do tratado e dois convidados.
O presidente da França, Emmanuel Macron, manifestou ao presidente Lula, durante encontro reservado no G-7, em Hiroshima, Japão, interesse em participar da reunião em Belém. Como o Estadão revelou, desde o ano passado Macron avisou ao governo brasileiro de sua intenção de realizar uma visita de Estado ao País. Ele gostaria de vir no primeiro semestre, mas o encontro foi adiado.
No sábado, dia 3, Macron confirmou nas redes sociais que Lula viajará a Paris, nos dias 22 e 23 de junho, para participar de um encontro do Novo Pacto Financeiro Global. Essa agenda vai tratar, entre outros assuntos, do financiamento das ações climáticas. O presidente francês publicou no domingo, dia 4, uma foto de conversa com o cacique brasileiro Raoni Metuktire, da etnia caiapó. Macron disse que dá a devida atenção aos apelos do cacique sobre a necessidade de proteção da floresta e das povos indígenas. “Estamos atentos ao que nos diz o cacique Raoni, há 18 dias da Cúpula de Paris para o novo pacto financeiro global que o mundo precisa”, afirmou Macron.
Diplomatas franceses cientes das negociações em curso afirmam que a vinda Macron a Belém seria, no atual contexto, um gesto de reciprocidade a Lula. Para eles, deve haver oportunidade para encontros bilaterais, seja na França ou no Brasil.
No caso da Irlanda, Lula conversou em privado com o presidente Michael Higgins durante a coroação do rei Charles II, em maio, no Reino Unido.
Embaixadores dos países que já participam do fundo e dos cortejados já estão cientes do desejo de Lula, mas afirmam que ainda não receberam convite formal. Em alguns casos, a chancelaria brasileira já compartilhou o “save the date”, um aviso para que os dias sejam “reservados” ao encontro.
Além da data das atividades, de 7 a 9 de agosto, eles foram informados de detalhes dos eventos em Belém, como reuniões com organizações não-governamentais e movimentos sociais, a cargo da Secretaria-Geral da Presidência, e painel da comunidade científica, cuja programação inclui o cientista Carlos Nobre, ícone das discussões sobre mudanças climáticas.
Lula tem cobrado, de forma cada vez mais eloquente, a promessa nunca cumprida dos países desenvolvidos de injetar U$ 100 bilhões em ações contra mudança climática. A impressão de diplomatas é que o Brasil pode transformar a reunião de Belém em uma cúpula para captar dinheiro para o Fundo Amazônia. Só que os demais países não participam do mecanismo, exclusivo do Brasil.
A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) tem sede em Brasília e vai se reunir alto nível pela primeira vez, depois de muitos anos desprestigiada. Dos nove países amazônicos, oito fazem parte do órgão: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. A única exceção é justamente a Guiana Francesa.
Em 2019, os países do tratado assinaram o Pacto de Letícia, por iniciativa da Colômbia, a passaram a se reunir periodicamente, à exceção da Venezuela, por divergências políticas com o regime de Nicolás Maduro.
Novos doadores: EUA e Reino Unido
Por enquanto, os países efetivamente doadores do Fundo Amazônia são a Noruega e a Alemanha. O total de recursos ingressados é de U$ 1,3 bilhão, incluída verba da Petrobras.
Os Estados Unidos e o Reino Unido anunciaram neste ano um aporte inicial de 500 milhões de dólares e 80 milhões de libras esterlinas, respectivamente.
Nos primeiros cinco meses de mandato, Lula realizou viagens em Washington e Londres. O presidente Joe Biden aceitou um convite de Lula para retribuir a visita, mas a data de seu desembarque no Brasil segue em aberto, segundo diplomatas dos dois lados.
Lula também fez convites no Reino Unido. Segundo o ex-chanceler Antonio Patriota, que assumirá as funções de embaixador em Londres, os britânicos indicaram ao Itamaraty o interesse de que o rei Charles III e o primeiro-ministro Rishi Sunak viajem ao Brasil ainda em 2023. Há 14 anos, nenhum líder político britânico visita o Brasil.
Como príncipe de Gales, Charles já esteve quatro vezes no solo nacional - e sempre dedicou parte de sua agenda à Amazônia. Lula disse que o rei lhe pediu que cuidasse da floresta, durante conversa antes da coroação.
A França e União Europeia estudam fazer contribuições individuais ao Fundo Amazônia, afirmou em fevereiro a chanceler francesa Catherine Colonna. Diante dos convites brasileiros, Países Baixos e Dinamarca examinam o funcionamento do mecanismo para eventual contribuição futura ao combate ao desmatamento.
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