O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma reunião com o ditador de Cuba, Miguel Díaz-Canel, nesta quinta-feira, dia 22, no hotel Intercontinental Le Grand, em Paris. O presidente também recebeu a delegação do Haiti, em um dia de agendas bilaterais, durante a visita à França.
Fontes que acompanharam a conversa com o líder cubano afirmaram que o governo brasileiro vai revisar a dívida da ditadura castrista com o Brasil, para calcular o exato valor devido por obras de infraestrutura financiadas em governos passados, como o Porto de Mariel. As reuniões ocorreram no âmbito da cúpula do Novo Pacto Financeiro Global, organizada pelo presidente da França, Emmanuel Macron.
Cuba tem débitos junto ao País, assim como a Venezuela, com quem o governo Lula instituiu uma mesa de diálogo sobre o montante de U$ 1,2 bilhão – o ditador Nicolás Maduro deseja contestar parte do valor.
O presidente do Brasil e o ditador cubano não trataram de projetos novos, segundo integrantes do Palácio do Planalto. Na reaproximação, os dois países nomearam embaixadores para elevar a representação diplomática em Havana e Brasília.
A Apex-Brasil, a agência de promoção de exportações, prepara uma missão empresarial na ilha durante a Feira do Livro da capital cubana, em 2024, na qual o Brasil será homenageado.
Haiti
Em encontro reservado, o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, pediu ao Brasil que participe de iniciativas de socorro à ilha. O país precisa de duplo apoio, seja segurança e combate à pobreza e carências.
Segundo pessoas que participaram da conversa, o Haiti tem preferência por uma interface via Nações Unidas. O país vive novo período de instabilidade institucional, agravado pela execução do presidente Jovenel Moise.
O governo brasileiro já havia negado aos Estados Unidos envolver-se em nova empreitada militar no país centro-americano. A Casa Branca chegou a pedir que o Brasil liderasse novamente uma operação de paz em Porto Príncipe.
No entanto, o governo já se comprometeu a fazer ajuda por meio de cooperação técnica entre os Estados.
O governo do Haiti ficou de elaborar e enviar ao Brasil uma lista de demandas e prioridades para que o Brasil coopere, seja isoladamente, seja no âmbito do Conselho de Segurança da ONU.
O encontro entre Lula e Henry foi uma forma de jogar luz sobre as carências do país e um conflito interno duradouro, que recebe menos atenção internacional, mas há demanda de reconstrução do país e fluxo de imigrantes para os EUA, Canadá e Brasil.
O governo brasileiro se dispôs a organizar missões e manter uma cooperação técnica em diversas áreas, como saúde por exemplo.
Brics
Lula também recebeu no hotel em Paris o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. O país é parceiro do Brasil, Rússia, Índia e China no bloco BRICS. Eles conversaram sobre os esforços de mediação da guerra na Ucrânia.
A África do Sul e outros seis países africanos organizaram uma missão pra ouvir tanto a Rússia quando a Ucrânia, incluindo presidentes de alguns deles, como Ramaphosa.
Diplomatas brasileiros ouviram dele que o caminho para mediação de paz ainda é longo e que tanto Rússia quando Ucrânia demonstram pouca disposição em negociar agora. A posição é similar à que Lula tem manifestado.
O governante sul-africano sinalizou que a cúpula do Brics está confirmada para ocorrer em agosto em Joanesburgo, a despeito de especulações de que pudesse ser transferida para a China. A mudança ocorreria por causa da segurança e para evitar constrangimentos ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, do qual a África do Sul faz parte.
Outros seis países pediram reuniões bilaterais com Lula, mas elas não foram confirmadas ainda. Um deles é um Egito. Nesta quinta-feira, Lula também conversou com o presidente da COP 28, Sultan Al Jaber, indicado pelos Emirados Árabes Unidos.
Agenda
A agenda de Lula prevê nesta sexta-feira, dia 23, a participação efetiva no Novo Pacto Financeiro Global e uma reunião de trabalho de duas horas no Palácio Eliseu com Macron.
Lula receberá o presidente da República do Congo, Denis Sassou-Nguesso. Além disso, conversará com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, com o presidente do Naval Group, Pierre-Eric Pommellet, com Jean-Luc Mélenchon, presidente de honra da France Insoumise na Assembleia Nacional.
O presidente termina o dia em jantar a convite do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman al Saud. O controverso autocrata saudita é acusado de mandar matar o jornalista Jamal Khashoggi, no consulado do país.
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