ESPECIAL PARA O ESTADÃO, DE PARIS - A presidência da França será decidida novamente, no dia 24, em um duelo entre Emmanuel Macron (República em Marcha) e a candidata da extrema direita Marine Le Pen (Reunião Nacional), como em 2017, segundo resultados oficiais
Logo após a divulgação das projeções iniciais, candidatos de direita, ecologista e comunista pediram a seus partidários votos em Macron no segundo turno.
No dia 24, os franceses estarão diante da mesma opção de candidatos que tiveram em 2017, mas a escolha agora ocorrerá em um cenário bem diferente. Naquele ano, os eleitores se uniram para impedir a chegada ao poder da extrema direita e deram 66% dos votos a Macron, ex-ministro da Economia do socialista François Hollande.
O resultado da eleição reflete a grande insatisfação com a presidência de Macron e a preocupação do eleitorado com o aumento do custo de vida. Desta vez, Le Pen, que moderou o tom durante a campanha, pretende mobilizar a rejeição a Macron. Quatro em cada dez franceses se dizem insatisfeitos com o governo, segundo enquete do Centro de Pesquisas Políticas da Sciences Po.
Parte importante da população considera Macron um presidente mais próximo dos ricos, razão que uniu apoiadores da esquerda e da direita em um movimento nacional de indignação, marcado pelas frequentes manifestações dos coletes amarelos, analisa Thomás Zicman Barros, pesquisador da Sciences Po em Paris.
Diante do atual cenário, a eleição ganha contornos de tensão. Pesquisa de intenções de voto para o segundo turno, publicada na noite deste domingo, indica uma estreita margem entre os candidatos – Macron com 54% e Le Pen com 46%. Dessa maneira, o apoio dos opositores a Macron para impedir o avanço da extrema direita, anunciado pelos candidatos socialista, ecologista e republicano, pode não ser o suficiente para o presidente ser reeleito.
Um quarto dos eleitores do partido Republicanos indicaram, em pesquisa feita na semana passada, que votarão na candidata da extrema direita no dia 24. Entre os apoiadores da esquerda radical, o porcentual de transferência de votos para Le Pen era estimado em 21%. Mélenchon não pediu votos para Macron, mas repetiu a seus seguidores: “Não devemos dar um só voto para a senhora Le Pen”.
O início da invasão russa à Ucrânia em 24 de fevereiro ofuscou a campanha eleitoral francesa, mas o efeito da guerra nos preços da energia levou a questão eleitoral de volta à discussão nas ruas francesas. O início da guerra impulsionou Macron, mas na reta final da campanha, sua principal adversária, Le Pen, avançou nas pesquisas.
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Povo
Mas os opositores enfatizam que Macron precisa incluir propostas para o povo em sua campanha. “É preciso que Macron desça de seu pedestal, ouça e fale com o povo e respeite a França”, disse a líder ecologista Sandrine Rousseau.
Em uma campanha eleitoral, afetada pela pandemia e ofuscada pelas notícias sobre a invasão russa da Ucrânia, a redução do poder de compra foi o tema que mais mobilizou o eleitorado.
Le Pen ganhou pontos ao se apresentar como a defensora das classes populares e concentrar sua campanha em temas econômicos e propostas para aumentar o salário líquido com redução de impostos.
Ela evitou dar ênfase a seu programa nacionalista e anti-imigração, que garante seu eleitorado há anos, e foi em busca de novos votos. O presidente Macron, por sua vez, não fez campanha pelo país e concentrou-se nas questões internacionais, mantendo-se ativo nas negociações com Vladimir Putin pelo fim da guerra.
Avanço da esquerda radical
Em terceiro lugar, e com uma diferença apertada de Le Pen, ficou Jean-Luc Mélenchon (da esquerda radical França Insubmissa), com 22% dos votos – mais do que o esperado, apesar de ele ter subido nas pesquisas na reta final da campanha.
Mélenchon, de 70 anos, do França Insubmissa, superou o candidato de extrema direita Éric Zemmour. Mélenchon, que defende a saída da França da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e que foi acusado por oponentes de complacência em relação à Rússia, sofreu menos com sua postura russófila graças aos eleitores de esquerda que vêm apoiando candidatos com mais chances de crescer no pleito contra Le Pen.
A abstenção, que aparecia nas pesquisas como fator que poderia decidir este pleito, foi menor do que o esperado - 74% dos franceses foram às urnas.
O primeiro turno consolidou o avanço da esquerda radical, com Melénchon, e o declínio dos partidos tradicionais no país. A direita dos Republicanos, com Valérie Pécresse, conquistou 4,7% dos votos, enquanto a esquerda socialista, da prefeita de Paris Anne Hidalgo, teve um fiasco histórico: 1,7%.
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