Maduro amplia cerco a críticos da ditadura e expulsa agência da ONU da Venezuela

Regime acusa escritório para os direitos humanos de ser parcial e apoiar ‘grupos de golpistas’

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Por Redação

CARACAS - A ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela suspendeu nesta quinta-feira, 15, as atividades do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e ordenou que os funcionários da agência deixem o país em até 72 horas.

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A suspensão ocorre no momento em quem a ditadura de Nicolás Maduro fecha o cerco contra críticos e opositores antes das eleições, previstas para este ano.

Na semana passada, a ativista venezuelana Rocío San Miguel, de 57 anos, foi presa acusada de conspiração contra o regime. Ela estava acompanhada da filha, Miranda, e se preparava para viajar quando foi detida no aeroporto internacional de Caracas. A ativista ficou incomunicável e equipe jurídica responsável pela sua defesa denunciou “o desaparecimento forçado” da ativista e de cinco familiares.

Ministro das Relações Exteriores da Venezuela Yvan Gil, Caracas, 15 de fevereiro de 2024. Foto: FEDERICO PARRA / AFP

Em nota, a agência da ONU havia expressado “profunda preocupação” com a prisão da ativista, crítica ao regime de Nicolás Maduro.

A suspensão foi anunciada pelo ministro das Relações Exteriores Yvan Gil, que acusou a organização de ser parcial e apoiar o que chamou de movimentos golpistas. Além de suspender as atividades e expulsar os seus funcionários, o regime afirma que a agência deve se desculpar publicamente e disse que os termos de cooperação técnica serão revisados.

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“Esta decisão foi tomada devido ao papel inadequado que esta instituição tem desenvolvido, que, longe de se mostrar como uma entidade imparcial, tornou-se o escritório de advocacia privado do grupo de golpistas e terroristas que conspiram permanentemente contra o país”, disse em comunicado compartilhado no X (antigo Twitter).

O escritório atua na Venezuela desde 2019 e já produziu seis relatórios sobre a situação dos direitos humanos no país. Há pouco mais de um ano, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, visitou Caracas e foi acordado que as atividades seriam mantidas por mais dois anos, ou seja, até o início de 2025. Na ocasião, ele pediu que pessoas detidas de forma arbitrária fossem lideradas e se reuniu com representantes da sociedade civil.

Desaparecimento de crítica

Mais recentemente, a agência da ONU, assim como os Estados Unidos e a União Europeia criticaram o regime pela prisão da ativista Rocío San Miguel. Juan González Taguaruco, chefe da ONG Controle Cidadão, que registra violações dos direitos humanos, e que faz parte da sua equipe jurídica, denunciou como “um padrão claro de desaparecimento forçado”.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, levou mais de 48 horas para anunciar que Rocío estava presa. E disse que ela foi detida por suposto envolvimento como uma trama de conspiração “cujo objetivo era atentar contra a vida do chefe de Estado, Nicolás Maduro, e de outros funcionários do alto escalão”.

O governo venezuelano, que denuncia com frequência supostos planos contra Maduro, diz ter neutralizado “cinco conspirações” em 2023, nas quais são acusados militares, jornalistas e defensores dos direitos humanos./AFP

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