CARACAS - A Assembleia da Venezuela adiou a aprovação da lei que pretende anexar o Essequibo, território em disputa com a Guiana, enquanto as lideranças regionais tentam conter a crise. Hoje, o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e o presidente guianês, Irfaan Ali, tiveram a primeira reunião desde que o conflito escalou.
Depois da reunião, Caracas relatou que os dois lados expressaram a disposição em manter o diálogo. “O aperto de mão sela a vontade da Venezuela e da Guiana de continuar o diálogo, a fim de resolver a controvérsia em relação ao território de Essequibo”, afirmou o regime em publicação no X (antigo Twitter).
O presidente Irfaan Ali, por sua vez, já havia deixado claro que não discutiria fronteiras com Maduro e reafirmou a soberania do seu país, inclusive para explorar o petróleo, descoberto em 2015 no Essequibo. A Guiana, disse ele, tem todo direito de facilitar investimentos e parcerias, emitir licenças e contratos no seu “espaço soberano”, enf
A conversa foi promovida pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e pela Comunidade do Caribe (Caricom), com apoio do Brasil, e tenta conter a crise que preocupa todo continente. O assessor especial da presidência para assuntos internacionais e ex-ministro Celso Amorim foi escalado pelo governo brasileiro como mediador.
O perfil de Maduro nas redes sociais transmitiu a chegada do ditador a São Vicente e Granadinas, o pequeno país caribenho que foi palco das conversas. No desembarque, ele disse ter ido buscar soluções “pela única via que existe, que é a via do diálogo e a da negociação”.
Tanto Maduro como Ali foram recebidos no aeroporto pelo primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, e participaram de conversas separadas com líderes da Caricom. Só depois, por volta das 15h (horário de Brasília), começou a bilateral.
A disputa pelo Essequibo tem mais de 200 anos mas se intensificou a partir de 2015, com a descoberta de petróleo no território de 160.000 quilômetros quadrados, que corresponde a 75% da Guiana. No início do mês, o regime chavista promoveu um referendo para discutir a criação do Estado chamado Guiana Essequiba no território que pertence ao país vizinho. Com a vitória no plebiscito marcado pela baixa participação, Maduro já designou o general Alexis Rodríguez Cabello como interventor e montou um plano para explorar petróleo na região.
Georgetown vê o avanço de Caracas como uma ameaça à soberania e afirma que as fronteiras não estão em discussão. O país pede a Corte Internacional de Justiça (CIJ) que confirme a arbitragem de 1899 e o presidente Irfaan Ali tem reiterado que se prepara para defender a Guiana, inclusive, no “pior cenário possível”, em referência ao risco de um conflito armado.
O que é Essequibo?
A Venezuela e a Guiana lutam há mais de um século pelo território de Essequibo, uma região de 160 mil quilômetros quadrados rica em petróleo e minerais, administrada pela Guiana.
Onde fica Essequibo?
O território de Essequibo corresponde a 75% do que hoje é a Guiana. A Guiana é um país localizado no norte da América do Sul, com fronteiras, ao sul, com o Brasil, com a Venezuela no sudoeste e com o Suriname ao leste.
Que Estado brasileiro faz fronteira com a Guiana?
Roraima e Pará. A fronteira do Brasil com a Guiana tem extensão de 1.605,8 km. Especificamente a região reivindicada pela Venezuela faz fronteira com o território brasileiro só através do Estado de Roraima. Há uma ponte que conecta a cidade brasileira de Bonfim à cidade de Lethem.
Por que a Venezuela quer parte da Guiana?
A Venezuela sempre considerou Essequibo como seu território porque a região esteve dentro das suas fronteiras durante o período colonial espanhol. Após declarar independência da Espanha, em 1811, a Venezuela avançou em direção ao rio Essequibo. Três anos depois, o Reino Unido assumiu o controle do que hoje é Guiana. A definição das fronteiras ficou em aberto, e a coroa britânica ficou com o território. Então, em 1899, foi convocado um tribunal internacional e ficou decidido que o Essequibo pertencia à Guiana.
Cinco décadas mais tarde, a Venezuela voltou a contestar o território. Em 1966, a Venezuela e o Reino Unido (que comandava a Guiana) assinaram o Acordo de Genebra, para buscar uma solução para o conflito fronteiriço, reconhecendo a existência de uma controvérsia decorrente da sentença de 1899. Contudo, as tratativas associadas a esse acordo continuaram a se desdobrar ao longo do tempo, sem que se alcançassem resultados concretos. Agora, a Guiana pede à Corte Internacional de Justiça que a decisão de 1899 seja mantida enquanto a Venezuela usa a brecha de 1966 para reivindicar o território.
A disputa foi reavivada depois que a empresa americana ExxonMobil descobriu grandes reservas de petróleo na área. As tensões, no entanto, aumentaram depois de a Guiana anunciar um leilão de exploração de petróleo na área. Caracas alega que Georgetown não tem o direito de lançar concessões em áreas marítimas na região.
Quantos militares têm a Venezuela?
Segundo o Anuário Militar de 2023 do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, de Londres), a Venezuela 123 mil militares na ativa, mais 220 mil paramilitares e equipamentos obtidos da Rússia e da China, duas potências militares globais.
Quantos militares têm a Guiana?
O país de 750 mil habitantes conta com apenas 3,4 mil soldados, dos quais metade estão em funções na segurança pública. Ou seja, são policiais, sem treinamento de combate. O país também tem poucos equipamentos militares: são seis blindados brasileiros Cascavel-EE9, fabricados pela extinta Engesa em 1984.
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