CARACAS - O governo da Venezuela suspendeu as negociações com a oposição em resposta à extradição para os EUA de Alex Saab, um aliado próximo do presidente Nicolás Maduro. O empresário colombiano, de 49 anos, é acusado de lavagem de dinheiro e de ligação com o narcotráfico. Ele foi preso em Cabo Verde, em junho de 2020, quando seu avião parou no arquipélago africano para reabastecer, a caminho do Irã.
Uma porta-voz do Departamento de Justiça dos EUA confirmou que Saab foi extraditado e será apresentado hoje em um tribunal do Distrito Sul da Flórida. Ela afirmou que a extradição foi realizada “em conformidade” com as leis cabo-verdianas e decisões judiciais – e expressou gratidão pela ajuda de Cabo Verde.
O processo, porém, afetou as negociações com a oposição. Os principais partidos antichavistas encerraram recentemente um boicote de três anos a eleições organizadas pelo governo de Maduro, que foi criticado por sua vitória em eleições fraudadas, em 2018.
Juan Guaidó, um dos principais líderes opositores, criticou a decisão de suspender as negociações. “Nosso comprometimento de fazer justiça e avançar em um acordo continua intacto, e não vamos descansar até consegui-lo”, tuitou Guaidó. “Cada minuto perdido conta-se em vidas.”
Em comunicado postado no Twitter, a Venezuela acusou EUA e Cabo Verde de “sequestrar” Saab. “O governo da Venezuela repudia essa grave violação de direitos humanos contra um cidadão venezuelano, investido como diplomata e representante do nosso país”, afirmou o texto.
A plataforma de rastreamento de voos FlightAware mostrou um avião do Departamento de Justiça americano deixando o aeroporto da Ilha do Sal, às 16h53, hora local, no sábado, e aterrissando em Miami às 21h18. Horas depois da extradição de Saab, de acordo com relatos, forças de segurança venezuelanas detiveram seis ex-executivos da Citgo – refinaria com base em Houston anteriormente controlada pelo governo Maduro – que estavam em prisão domiciliar desde abril.
Não ficou claro se os homens – que foram condenados e sentenciados a longas penas de prisão, em um caso de corrupção – seriam levados de volta à cadeia ou se a detenção está conectada de alguma maneira à extradição de Saab. Um advogado que os representa disse que não sabia para onde eles estavam sendo levados.
Todos os seis – José Ángel Pereira (ex-presidente) e Tomeu Vadell, Gustavo Cárdenas, Jorge Toledo, Alirio Zambrano e José Luis Zambrano (ex-vice-presidentes) – nasceram na Venezuela. Cinco têm cidadania americana e um tem visto de residência nos EUA.
Os seis foram presos durante uma viagem de negócios a Caracas, em novembro de 2017, e acusados de lavagem de dinheiro, peculato, extorsão e associação para o crime organizado, acusações que eles negam.
Chamados de “Citgo 6”, eles obtiveram prisão domiciliar em dezembro de 2019, mas foram mandados novamente para a cadeia dois meses depois, no mesmo dia que o então presidente Donald Trump recebeu Guaidó na Casa Branca. A prisão domiciliar foi concedida novamente em abril, em um gesto de boa vontade ao governo de Joe Biden.
As autoridades americanas estavam atrás de Saab havia anos, por seus envolvimento em um esquema de pagamento de propinas que se beneficiava da taxa de câmbio controlada pelo governo venezuelano. Saab foi sancionado pelos EUA em 2019, por orquestrar uma rede de corrupção que possibilitou a Maduro e seu regime lucrar com um programa alimentar estatal em meio à fome na Venezuela. Saab negou essas acusações, qualificando-as como “motivadas politicamente”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.