A Procuradoria Geral da Venezuela anunciou nesta quarta-feira, 6, um pedido de mandados de prisão contra 14 líderes da oposição venezuelana, acusados de “crimes de traição” pelo suposto envolvimento em um complô para sabotar o plebiscito promovido neste domingo, 3, pelo ditador Nicolás Maduro sobre a anexação do Essequibo — um território rico em petróleo controlado pela Guiana e disputado por Caracas.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, comunicou hoje o indiciamento de membros do alto escalão da oposição venezuelana, como Juan Guaidó, que foi líder interino de um governo paralelo no país, e Leopoldo López e Lester Toledo, fundadores do partido Vontade Popular. Os três políticos encontram-se atualmente no exilio.
Saab, um nome próximo de Nicolás Maduro, disse que os membros da oposição faziam parte de uma “conspiração internacional” para sabotar o polêmico referendo com o qual a Venezuela busca anexar a região de Essequibo.
“No âmbito de uma investigação em que estamos trabalhando sobre a conspiração nacional e internacional contra a Venezuela, eles usaram a luta nacionalista pelo Essequibo para dar um chute na mesa e serem financiados pela ExxonMobil”, disse Saab em declarações ao Ministério Público, em Caracas.
“A Guiana, a ExxonMobil e os Estados Unidos, nas sombras, estão trabalhando como uma equipe para despojar a Venezuela de um território que histórica e legalmente pertence à Venezuela”, afirmou ele.
O procurador-geral não apresentou nenhuma prova relacionada ao caso durante o anúncio transmitido pela televisão venezuelana.
Um mandado de prisão também será emitido contra o coordenador da organização Vente Venezuela, Henry Alviarez Alviarez; a coordenadora de comunicações do partido, Claudia Macero; e o coordenador internacional Pedro Urruchurtu. Eles foram acusados de “conspiração com uma potência estrangeira para prejudicar o Estado”, além de “lavagem de dinheiro”. Todos são membros da equipe de campanha da líder opositora Maria Corina Machado.
Pedro Urruchurtu foi um dos organizadores das eleições primárias da oposição, realizadas no passado 22 de outubro, que colocaram a Corina Machado na frente de uma aliança de diversos partidos para pleitear o controle do Palácio de Miraflores nas eleições de 2024 contra o ditador Nicolás Maduro.
Entre outros venezuelanos, Saab também indiciou o americano Savoi Jadon Wright, que foi preso em 24 de outubro durante sua visita à Venezuela.
Em um comunicado à imprensa, a candidata presidencial María Corina Machado disse que o regime de Nicolás Maduro está tomando essas medidas por medo de uma possível derrota nas eleições a serem realizadas em 2024.
“É um regime desesperado que sabe que foi derrotado (...) se eles pensam que com isso vão criar medo, desânimo, desmoralização ou desmobilização, é exatamente o contrário”, disse a candidata opositora.
A medida do Ministério Público da Venezuela é anunciada um dia depois de que o presidente Maduro surpreendeu a região com a elaboração de uma lei para a criação da Guiana Essequiba, um estado venezuelano na região disputada com a Guiana.
As tensões entre os dois países sul-americanos se ampliam à medida que o regime venezuelano indica a possibilidade de presença militar no Essequibo e também solicita à empresa estatal petrolífera PDVSA o início da extração de petróleo no mar da região em disputa.
A inícios de outubros, em um acordo assinado em Barbados, o governo venezuelano deu indícios de abertura para a realização de eleições com observação internacional em 2024, em troca do levantamento de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos. Contudo, a expectativa da oposição foi rapidamente esmagada após o regime qualificar a eleição primária opositora como “ilegal”.
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