'Maduro resiste no cargo porque os militares são o governo', diz analista
Para cientista político venezuelano, Guaidó tem tido dificuldade em cooptar generais em virtude do fácil acesso dos generais aos recursos do Estado venezuelano
O autodeclarado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, aposta desde janeiro na ruptura de setores das Forças Armadas com o chavismo para derrubar Nicolás Maduro, mas até agora os poucos apoios que têm recebido são insuficientes. Para o diretor do Centro de Estudos Políticos da Universidade Católica Andrés Bello, Benigno Alarcón, isso ocorre porque durante a transformação do chavismo num regime autoritário os militares tornaram-se o governo de facto do país.
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Maduro está esperando o desgaste de Guaidó em vez de prendê-lo?.
Sim. E essa é uma aposta que o governo sempre fez. Apostar no desgaste do tempo. E desta vez conta a favor dessa estratégia as ameaças feitas pelos EUA caso algo aconteça a Guaidó. Tem sido muito evidente que as reações internacionais, em sua maioria, são favoráveis à oposição. A UE e a OEA também têm defendido a presidência interina de Guaidó. Por isso o governo tem evitado tomar medidas como tomou no passado, quando prendeu outros líderes da oposição.
Por que os EUA disseram publicamente que houve negociações com aliados próximos de Maduro?
Declarações de funcionários americanos com ameaças contra membros do regime não precisam necessariamente ser cumpridas, mas o que Bolton fez ontem foi além disso. E imagino que dentro da cultura americana, principalmente na burocracia de governo, a questão da mentira, do blefe, é vista de uma maneira muito negativa. O que sim me surpreende é que o governo americano tome decisões com base em negociações com funcionários venezuelanos que sempre demonstraram pouco apego à sua palavra. Tomar decisões com base em promessa de um funcionário venezuelano como Padrino ou Maikel Moreno, que tem sobre si todos os custos que implicam sua saída do regime, é um pouco ingênuo e bem difícil de compreender.
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E qual o papel de Rússia e Estados Unidos nessa crise?
No caso venezuelana, a geopolítica está em segundo plano. Não por que seja irrelevante, mas em processos nos quais a geopolítica teve um papel muito maior, como a queda do Muro de Berlim e da União Soviética, por exemplo, as fraturas foram internas. Aqui a relevância geopolítica é menor. Os principais aliados de Maduro - Rússia, China, Turquia e Irã - dão algum apoio ao regime, mas não é um apoio integral como ocorre com Cuba, por exemplo, para quem o resultado dessa crise é uma questão existencial.
Como o controle dos militares sobre a economia se relaciona com sua lealdade a Maduro?
Temos de entender primeiro que isso não é produto do acaso. É uma estratégia e isso não é exclusivo da Venezuela. Isso é comum em regimes autoritários, principalmente na África e no Oriente Médio. Na Venezuela a participação dos militares na economia começou a ser construída quando o país sai de um sistema semidemocrático, quando o voto ainda tinha importância, mas com o Executivo controlando os outros poderes, para um regime totalmente totalitário, onde a importância do voto é marginal. Aí, o governo oferece uma dinâmica clientelista para quem pode mantê-lo no poder por meio da força. E aí o Exército deixa de ser neutro e apolítico e começa a fazer parte do governo, com acesso aos recursos do Estado. Esse acesso garante a lealdade dos militares. É o caso da Síria e do Egito, por exemplo. Hoje, as FANB são o governo, seguindo o manual dos regimes autoritários.
Guaidó diz ter apoio de militares contra Maduro
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Tensão na Venezuela
Líder opositor venezuelano, Juan Guaidó, cumprimentamilitar perto da base aérea La Carlota, em Caracas; ele diz ter apoio de militares contra Maduro. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
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Ao lado decaixas de armamentoe de bananas, militar usa seu celular perto da Base Aérea 'La Carlota' Generalísimo Francisco de Miranda, em Caracas. Foto: REUTERS/ Carlos Garcia Rawlins
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O líder opositor e autoproclamado presidente interino daVenezuela,Juan Guaidó,anunciou nesta terça-feira, 30, que conta com o apoio de um grupo de mil... Foto: Twitter/JuanGuaidóMais
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Político opositor Leopoldo Lópezafirmou que foi libertado de prisão domiciliar por militares e também pediu que os venezuelanos tomem as ruas pacifica... Foto: Reiner/EFEMais
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O líder opositor e autoproclamado presidente interino daVenezuela,Juan Guaidó, anunciou que conta com o apoio de um grupo de militares para restaurar ... Foto: Carlos Garcia Rawlins / ReutersMais
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Na mensagem publicada nas redes sociais,Guaidóconvocou outros militares a se juntarem a seu movimento e pediu que a população saia às ruas"de forma pa... Foto: Ariana Cubillos / APMais
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Leopoldo López, condenado a 14 anos de prisão pelos protestos anti-governamentais de 2014, estava em prisão domiciliar. Nas redes sociais, ele afirmou... Foto: Reiner/EFEMais
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O governo Maduro chamou a iniciativa de Guaidó de uma "tentativa de golpe de Estado". "Neste momento estamos enfrentando e desativando um grupo reduzi... Foto: Ariana Cubillos/APMais
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O ministro de Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, disse que o clima é de "normalidade" nos quartéis. Foto: Ariana Cubillos / AP
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No vídeo publicado na internet, Guaidó convocou às ruas todos aqueles venezuelanos que se comprometeram nas últimas semanas a se manifestar para exigi... Foto: Carlos Garcia Rawlins / ReutersMais
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O presidente da Bolívia, Evo Morales - aliado de Maduro -, "condenou energicamente" o que chamou de "tentativa de golpe de Estado" na Venezuela. Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters
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No vídeo publicado na internet, Guaidó afirmou que as Forças Armadas estão claramente do lado da Constituição. Foto: Carlos Garcia Rawlins / Reuters
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Venezuelanosse pretegem durante confronto em Caracas. Foto: Yuri CORTEZ/ AFP
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Venezuelanos se protegem duranteconfrontosque tomam conta deruas em Caracas. Foto: Yuri CORTEZ/ AFP
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Venezuelano cobre o rosto durante protesto em Caracas.O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, reforça ter apoio dos militares. Foto: Yuri CORTEZ/ AFP
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Venezuelanos pró e contra o governo de Maduro tomam ruas de Caracas. Foto: Matias Delacroix/ AFP
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As forças de segurança da Venezuela que apoiam o governo de Nicolás Maduro lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra o líder opositor Juan Guaidó, qu... Foto: Yuri CORTEZ/ AFPMais
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Político opositorLeopoldo Lópezsegura bandeira e agradece apoio recebido paraderrubar Maduro.López cumpria prisão domiciliar e disse ter sido solto ap... Foto: Federico PARRA/ AFPMais
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Venezuelanos fogem debombas de gás lacrimogêneodurante conflito no país. Foto: Yuri CORTEZ/ AFP
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Nesta foto que foi tirada em 18 de fevereiro de 2014, Leopoldo López foiescoltado pela Guarda Nacional depois de se entregar, durante uma manifestação... Foto: Juan BARRETO/ AFPMais
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Tumulto e violência tomam conta das ruas de Caracas nesta terça-feira, 30. Foto: AP Photo/ Fernando Vergara
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Imagens transmitidas pela internet direto de Caracas mostram cenas de tumulto e violência nos arredores da base aérea de La Carlota, onde se reúnem op... Foto: Yuri CORTEZ/ AFPMais
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Pessoas atravessam a ponte Simon Bolivar, entre Táchira, na Venezuela, e Cúcuta, na Colômbia. Foto: MENDOZA/ AFP
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Venezuelanoscruzam a fronteira em direção à Colômbia. Foto: Schneyder MENDOZA/ AFP
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Simpatizante de Juan Guaidó usa máscara para se proteger de bombas de gás lacrimogêneo. Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez
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Veículosbloqueiamestradasperto da base aérea de'La Carlota', em Caracas. Foto: REUTERS/ Carlos Garcia Rawlins
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Apoiador da oposição ergue bandeira em Caracas. Foto: Reuters/ Carlos Garcia Rawlins
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Ativistas da oposição emilitares que apoiam Guaidó permanecem em ponte em frente a base aérea de 'La Carlota'. Foto: Yuri CORTEZ/ AFP
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Líderes internacionais demonstram preocupação com 'derramamento de sangue' na Venezuela. Soldados e população reagem ao som de armas de fogo perto da ... Foto: REUTERS/ Carlos Garcia RawlinsMais
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Juan Guaidó, que recebeu o apoio de diversos países, entre eles, Brasil, Estados Unidos e Alemanha, faz discurso a apoiadores em Caracas. Foto: REUTERS/ Carlos Garcia Rawlins
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Venezuelanos se manifestam em Cúcuta, na Colômbia. Foto: EFE/ STR
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Veículos militares atropelam manifestantes a favor de Guaidó e situação começa a sair do controle na Venezuela. Integrantes da Guarda Nacional Bolivar... Foto: Federico PARRA/ AFPMais
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Venezuelanos levantam bandeira em frente ao Consulado do país em Bogotá, na Colômbia. Foto: EFE/ Mauricio Castaneda
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Militares que apoiam Guaidó atiram para o céu para inibir forças militares leais ao governo de Maduro que tentam dispersar manifestação perto da base ... Foto: Federico PARRA/ AFPMais
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Forças leais ao governo de Maduro entram em confronto com apoiadores de Guaidó. Foto: Yuri CORTEZ/ AFP
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Situação começa a sair do controle em Caracas. Foto: Federico PARRA/ AFP
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Tropas leais aNicolás Maduro entram em confronto contra apoiadores de Guaidó. População foge de bombas de gás lacrimogêneo. Foto: AP Photo/ Fernando Llano
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Manifestantes preparam bomba de gás caseira para atirar contra soldados leais a Maduro. Foto: Matias DELACROIX/ AFP
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Homem fica ferido durante confrontos em Caracas. Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez
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Juan Guaidó, ao lado da líder de oposição María Corina Machado Parisca, se juntaa populares e militares contrários ao governo de Maduro. Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez
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Veículo da Guarda Nacional de Maduro atropela apoiadores de Guaidó. Foto: REUTERS/ Ueslei Marcelino
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Manifestantes da oposição entram em confronto contra forças de segurança de Maduro perto da base aérea de 'La Carlota'. Foto: REUTERS/ Carlos Garcia Rawlins
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Veículo militar do governo de Maduro avança contra manifestantes a favor de Guaidó. Foto: REUTERS/ Ueslei Marcelino
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Homem ferido recebe assistência em meio ao confronto entre forças leais a Maduro e manifestantes contrário ao seu governo. Foto: Federico PARRA/ AFP
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Juan Guaidó e Leopoldo Lopez lideram manifestação para derrubada de Maduroem Caracas. Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez
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Manifestante em frente a ônibus pegando fogo perto da base aérea de 'La Carlota'. Foto: REUTERS/ Ueslei Marcelino
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Veículos das forças armadas de Maduro jogam água para dispersar manifestantes favoráveis aGuaidó. Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez
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Venezuelanos retornam ao país pela ponte Simón Bolívar, após comprarem comida em 'La Parada', perto de Cúcuta, na Colômbia. Foto: AP Photo/ Fernando Vergara
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Com o filho Carlos no colo, Carla Bustillos discursa para apoiadores de Guaidó, em frente à Embaixada da Venezuela em Washington, nos Estados Unidos. Foto: AP Photo/ Andrew Harnik
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Apoiadores de Nicolás Maduro se reúnem nas proximidades do Palácio de Miraflores, sede da Presidência da Venezuela. Foto: Matias DELACROIX/ AFP
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Apoiadores de Guaidó usam braceletes azuis. Foto: EFE/ STR
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Veículo das forças armadas de Maduro pegando fogo. Foto: Federico PARRA/ AFP)
E é por isso que está sendo tão difícil para Guaidó provocar divisões nas Forças Armadas, não?
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Sim, porque uma divisão vertical, onde um comandante, rompe com o governo e traz com ele seus governados, tornou-se improvável na Venezuela. Hoje a estrutura das FANB não é piramidal, mas horizontal, em formato de rede, onde vários “caciques” comandam suas respectivas “tribos” ( a Venezuela tem mais de 2 mil generais). Nesse cenário, casos de insubordinação de soldados com patentes mais baixas, torna-se mais comum. E é exatamente o que está acontecendo com os militares que se juntam a Guaidó. É a parte inferior dessas “tribos” que lhe jura lealdade.